Pedro Rocha salva Renato: o Grêmio poderia ter dosado melhor suas forças no Paraguai
Que Renato Portaluppi tem coragem, ninguém duvida. Só ele tem peito e moral para bancar junto à torcida do Grêmio uma decisão esdrúxula como a tomada ontem: escalar um time com nada menos que nove reservas na partida mais difícil da fase de grupos da Libertadores por bizarramente priorizar a semifinal do Campeonato Gaúcho. Uma decisão inexplicável, mesmo que no fim das contas tudo tenha dado certo. Aliás, ele tem tanta moral, que muito gremista atribuiu à direção do clube esta decisão, que é, embora sempre haja discussão interna, claramente da comissão técnica.
É que Renato tem estrela, também. No ano passado, antes mesmo de chegar às semifinais da Copa do Brasil, e com chances de G-6 no Brasileiro, foi à Vila Belmiro encarar o forte time do Santos exclusivamente com suplentes. Sua equipe, embora completamente descaracterizada, e bem mais fraca que a de ontem, se saiu surpreendentemente bem e trouxe um empate em 1 a 1 - se classificaria três dias depois no mata-mata com o Palmeiras. Ontem, atuou melhor do que o esperado e trouxe curiosamente um novo empate em 1 a 1 do Paraguai contra o Guaraní. A estrela do treinador se multiplica quando vemos que um jogador colocado por ele no segundo tempo, Pedro Rocha, é quem fez o gol de empate - quando o time tinha só dez em campo, frise-se.
Mas isso tudo é mérito de Renato? Evidente que não. Bancar decisões arriscadas, e elas funcionarem, é sempre positivo, claro, mas a análise da situação precisa ser prévia, também, para não ser oportunista e resultadista. Se o Grêmio teve forças de buscar um empate com um homem a menos, fora de casa e repleto de reservas, o que não teria feito com seus titulares em Assunção? Ou ao menos com parte deles, já que foi Pedro Rocha, um titular, que conseguiu o gol de empate? O jogo foi no mínimo parelho: o Guaraní teve tantas chances claras de vitória quanto o Grêmio, que poderia perfeitamente ter voltado a Porto Alegre com os três pontos se Michel não tivesse sido expulso - ou se nomes como Maicon, Geromel ou Miller Bolaños estivessem em campo. Nem no banco ficaram.
Não é de hoje que o Grêmio não lida bem com o afunilamento de Gauchão e Libertadores. Em 2013 e 2014, a instabilidade no estadual minou as campanhas continentais da equipe. No ano passado, por não saber mesclar e dosar forças, acabou perdendo mata-matas para Juventude e Rosario Central em sequência, sendo eliminado das duas competições, nas quais ia muito bem, em questão de uma semana. A escalação de reservas numa quinta-feira no Alfredo Jaconi obrigou uma virada complicada no domingo, que os titulares não conseguiram - mas se desgastaram a ponto de, na quarta seguinte, não terem pernas para sequer ameaçar o time argentino, que fez a festa na Arena e na Argentina. Desta vez, a lógica foi invertida (e maltratada): reservas na Libertadores para ter forças de se classificar em Novo Hamburgo. O resultado no Paraguai foi bom, claro, mas se não fosse (e o risco era enorme de não ser) poderia gerar uma crise de difícil administração em ambas competições.
O melhor exemplo para lidar com tudo isso de uma forma equilibrada ainda é o do Internacional de dois anos atrás. O rodízio de Diego Aguirre ficou estigmatizado porque acabou sendo mal administrado na parada da Libertadores de 2015, mas teve resultados excelentes na hora de conciliar mata-matas de Gauchão com os da copa continental. Renato poderia, por exemplo, ter escalado cinco ou seis titulares diante do Veranópolis, na Arena, após fazer 2 a 0 na Serra. Manteria a força do time, a tranquilidade da classificação encaminhada e as pernas para enfrentar o Iquique. Colocou todos, goleou, mas o time sentiu a necessidade de resguardar e perdeu o foco no segundo tempo contra os chilenos, colocando em risco o que era uma vitória fácil. Diante do Novo Hamburgo, cenário parecido. O rendimento decaiu gradualmente nos últimos três jogos dos titulares, e talvez não tenha sido só questão técnica, mas física também.
Nesta última semana, o Grêmio poderia perfeitamente ter poupado um ou dois jogadores por setor em cada jogo, que ainda assim manteria sua força técnica e coletiva. O conjunto é ótimo, e o grupo foi reforçado justamente para isso. Se domingo, por exemplo, Edílson não jogasse, poderia se deslocar Léo Moura para a direita e Ramiro para o meio. Miller poderia ter sido poupado em prol de Lincoln ou Gastón Fernández. Maicon poderia ter dado lugar a Arthur e jogado no Paraguai. Kannemann daria lugar a Rafael Thyere e estaria pronto para compor a zaga com Bressan ou Bruno Rodrigo, e dificilmente o time teria sofrido o elementar gol de bola aérea que tomou do Guaraní ontem. Se Barrios jogasse domingo, Luan estaria disponível e zerado no Defensores del Chaco. Ele não é centroavante de ofício, mas certamente não seria tão ineficiente como foi o paraguaio, que teve três chances claras de marcar e perdeu todas elas.
O elenco gremista é bom? O jogo de ontem parece que não deixa mais espaço para dúvidas: repleto de suplentes, mostrou força suficiente para atuar de igual para igual com aquele que é o segundo melhor time do Grupo 8 da Libertadores. Teve em nomes como o altamente promissor Arthur a segurança de que peças titulares importantes, como o capitão Maicon, podem ser substituídas sem grandes traumas à qualidade do jogo no meio. Mas esse elenco forte poderia ter sido melhor trabalhado, melhor dosado, principalmente porque o time já está formado, o que facilita o bom rendimento de quem entra. Renato poderia pensar mais nessa estratégia: mesclar forças em vários jogos, mas manter o time sempre com força, em vez de escolher partidas para arriscar tudo. Quando dá certo, tudo ótimo; quando não dá, a pressão que se cria é imensamente maior.
Fotos: Lucas Uebel/Grêmio.
É que Renato tem estrela, também. No ano passado, antes mesmo de chegar às semifinais da Copa do Brasil, e com chances de G-6 no Brasileiro, foi à Vila Belmiro encarar o forte time do Santos exclusivamente com suplentes. Sua equipe, embora completamente descaracterizada, e bem mais fraca que a de ontem, se saiu surpreendentemente bem e trouxe um empate em 1 a 1 - se classificaria três dias depois no mata-mata com o Palmeiras. Ontem, atuou melhor do que o esperado e trouxe curiosamente um novo empate em 1 a 1 do Paraguai contra o Guaraní. A estrela do treinador se multiplica quando vemos que um jogador colocado por ele no segundo tempo, Pedro Rocha, é quem fez o gol de empate - quando o time tinha só dez em campo, frise-se.
Mas isso tudo é mérito de Renato? Evidente que não. Bancar decisões arriscadas, e elas funcionarem, é sempre positivo, claro, mas a análise da situação precisa ser prévia, também, para não ser oportunista e resultadista. Se o Grêmio teve forças de buscar um empate com um homem a menos, fora de casa e repleto de reservas, o que não teria feito com seus titulares em Assunção? Ou ao menos com parte deles, já que foi Pedro Rocha, um titular, que conseguiu o gol de empate? O jogo foi no mínimo parelho: o Guaraní teve tantas chances claras de vitória quanto o Grêmio, que poderia perfeitamente ter voltado a Porto Alegre com os três pontos se Michel não tivesse sido expulso - ou se nomes como Maicon, Geromel ou Miller Bolaños estivessem em campo. Nem no banco ficaram.
Não é de hoje que o Grêmio não lida bem com o afunilamento de Gauchão e Libertadores. Em 2013 e 2014, a instabilidade no estadual minou as campanhas continentais da equipe. No ano passado, por não saber mesclar e dosar forças, acabou perdendo mata-matas para Juventude e Rosario Central em sequência, sendo eliminado das duas competições, nas quais ia muito bem, em questão de uma semana. A escalação de reservas numa quinta-feira no Alfredo Jaconi obrigou uma virada complicada no domingo, que os titulares não conseguiram - mas se desgastaram a ponto de, na quarta seguinte, não terem pernas para sequer ameaçar o time argentino, que fez a festa na Arena e na Argentina. Desta vez, a lógica foi invertida (e maltratada): reservas na Libertadores para ter forças de se classificar em Novo Hamburgo. O resultado no Paraguai foi bom, claro, mas se não fosse (e o risco era enorme de não ser) poderia gerar uma crise de difícil administração em ambas competições.
O melhor exemplo para lidar com tudo isso de uma forma equilibrada ainda é o do Internacional de dois anos atrás. O rodízio de Diego Aguirre ficou estigmatizado porque acabou sendo mal administrado na parada da Libertadores de 2015, mas teve resultados excelentes na hora de conciliar mata-matas de Gauchão com os da copa continental. Renato poderia, por exemplo, ter escalado cinco ou seis titulares diante do Veranópolis, na Arena, após fazer 2 a 0 na Serra. Manteria a força do time, a tranquilidade da classificação encaminhada e as pernas para enfrentar o Iquique. Colocou todos, goleou, mas o time sentiu a necessidade de resguardar e perdeu o foco no segundo tempo contra os chilenos, colocando em risco o que era uma vitória fácil. Diante do Novo Hamburgo, cenário parecido. O rendimento decaiu gradualmente nos últimos três jogos dos titulares, e talvez não tenha sido só questão técnica, mas física também.
Nesta última semana, o Grêmio poderia perfeitamente ter poupado um ou dois jogadores por setor em cada jogo, que ainda assim manteria sua força técnica e coletiva. O conjunto é ótimo, e o grupo foi reforçado justamente para isso. Se domingo, por exemplo, Edílson não jogasse, poderia se deslocar Léo Moura para a direita e Ramiro para o meio. Miller poderia ter sido poupado em prol de Lincoln ou Gastón Fernández. Maicon poderia ter dado lugar a Arthur e jogado no Paraguai. Kannemann daria lugar a Rafael Thyere e estaria pronto para compor a zaga com Bressan ou Bruno Rodrigo, e dificilmente o time teria sofrido o elementar gol de bola aérea que tomou do Guaraní ontem. Se Barrios jogasse domingo, Luan estaria disponível e zerado no Defensores del Chaco. Ele não é centroavante de ofício, mas certamente não seria tão ineficiente como foi o paraguaio, que teve três chances claras de marcar e perdeu todas elas.
O elenco gremista é bom? O jogo de ontem parece que não deixa mais espaço para dúvidas: repleto de suplentes, mostrou força suficiente para atuar de igual para igual com aquele que é o segundo melhor time do Grupo 8 da Libertadores. Teve em nomes como o altamente promissor Arthur a segurança de que peças titulares importantes, como o capitão Maicon, podem ser substituídas sem grandes traumas à qualidade do jogo no meio. Mas esse elenco forte poderia ter sido melhor trabalhado, melhor dosado, principalmente porque o time já está formado, o que facilita o bom rendimento de quem entra. Renato poderia pensar mais nessa estratégia: mesclar forças em vários jogos, mas manter o time sempre com força, em vez de escolher partidas para arriscar tudo. Quando dá certo, tudo ótimo; quando não dá, a pressão que se cria é imensamente maior.
Fotos: Lucas Uebel/Grêmio.
Comentários
E isso que a motivação nem é vencer o gauchão, mas não deixar que o outro ganhe.
Contra o Novo Hamburgo não jogaram nada e criaram um problema de graça e que agora vão ter que resolver! simples assim.
Sobre o jogo: quando o Bressan joga eu só tenho uma certeza: gol do adversário.
Quando o Rocha entrou e fez o golo eu fiquei mais brabo ainda porque vi como nós botamos fora uma vitória certa