Entrada de Jaílson no lugar de Walace é a melhor opção para Renato começar o ano no Grêmio

A descoberta de Walace talvez tenha sido o principal legado da passagem discreta de Luiz Felipe Scolari pelo Grêmio em 2014 e 2015. Volante com físico de zagueiro, mas meia de origem, alia força e qualidade técnica numa medida que o tornou um jogador diferenciado da posição no Brasil, a ponto de ser titular da seleção campeã olímpica do ano passado. Deixa Porto Alegre porque o Grêmio precisa de dinheiro, e porque ele próprio desejava sair para o futebol europeu. Não há como manter jogador que não queira ficar.

Caso apenas Walace deixe a Arena, o Grêmio terá perdido pouca coisa realmente importante do time campeão da Copa do Brasil para o início deste ano. Da equipe que começou a primeira partida da decisão, no Mineirão, contra o Atlético Mineiro, nada menos que oito jogadores atuaram em outra vitória emblemática sobre o Galo, os 2 a 0 do Brasileirão do ano anterior. Aquele jogo, em 13 de agosto de 2015, foi o que formatou de vez a equipe da Era Roger, embrião da formação que tirou o clube do longo jejum de taças: Marcelo Grohe, Geromel, Marcelo Oliveira, Walace, Maicon, Douglas, Luan e Pedro Rocha. A base se mantém há dois anos, portanto. E, mesmo com a saída do primeiro volante, mais da metade daquela equipe ainda iniciará 2017 no clube.

O Grêmio perde muito sem a categoria de Walace, mas, dentre os jogadores mais assediados, ele talvez seja um dos que há melhor chance de ser reposto. A segurança de Geromel, por exemplo, dificilmente se manteria com um novo chefe de zaga. Já o papel exercido por Luan, de fazer o falso nove e dublê de meia, é raríssimo de ser encontrado, e forçaria uma mudança em toda a mecânica ofensiva do time. Seriam saídas muito mais traumáticas para o time titular.

O decorrer da temporada é que deve indicar se o Grêmio precisará ou não contratar um substituto. Eis uma das vantagens da Libertadores alongada: se a competição terminasse em julho, como era até o ano passado, a primeira fase toda transcorreria em março e abril, com mata-matas a partir de maio. Isso já acarretou uma série de contratações pouco pensadas, para dizer o mínimo. O Tricolor, por exemplo, já trouxe Amoroso (2007) e Carlos Alberto (2011) neste tipo de situação. Agora, com a fase inicial terminando no fim de maio, há mais tempo para avaliações criteriosas - as oitavas de final da Libertadores serão apenas em agosto.

Arrisco dizer que o Grêmio não trará alguém de imediato para repor esta perda, por dois motivos: primeiro, um reserva ou companheiro para Douglas na armação é mais importante - Miller Bolaños é uma aposta alta da direção para a parte ofensiva/criativa, mas um homem típico da função, como Jadson, que tem sido tentado, seria um ótimo e fundamental acréscimo ao grupo. Segundo: há no elenco um nome para, ao menos de início, substituir Walace mantendo o bom nível do time: Jaílson.

Embora menos experiente que o antigo titular, Jaílson tem os mesmos 21 anos de Walace. Seu rendimento em 2016 foi tão bom quando obteve sequência que se cogitou seriamente a manutenção de sua titularidade mesmo quando Walace retornasse da Olimpíada. Naquele período, Jaílson atuou ao lado de Maicon no meio. Teve atuações destacadíssimas, como nas vitórias sobre São Paulo e Corinthians, no Brasileirão, ambas na Arena. Sofreu queda de rendimento no fim da Era Roger, como o resto do time, e com Renato foi para a reserva.

Neste período em que foi titular do meio gremista, Jaílson atuou na mesma de Walace: primeiro homem do meio, com Maicon na segunda função. Ele tem características diferentes da do agora jogador do Hamburgo, claro, mas sabe exercer a tarefa de guardião da defesa, e provou isso em 2016. Tem na saída de trás para o apoio ao ataque um de seus pontos fortes, mas isso não significa que não sirva para a posição. O próprio Walace se desprendia de trás com frequência, o que fazia Maicon recuar, especialmente quando o time atacava - nesta imagem abaixo, da primeira partida da final da Copa do Brasil, vemos isso claramente.
Grêmio ataca o Atlético: Walace, adiantado, tem a bola. O passe vai para Maicon, recuado como primeiro homem, com a visão global da jogada típica de um armador
O melhor modo de Renato manter o time do jeito que estava quando 2016 terminou de forma gloriosa é trocando Walace por Jaílson, mantendo tudo no mesmo lugar. Recuar Ramiro será perder peça importante pela direita, improvisar Léo Moura será arriscado demais, incluir Miller Bolaños e recuar Douglas é abrir e mexer muito além do que se deve no que mais vem dando certo. A reposição inicial o elenco gremista já tem, e é boa. Dando resultado, sobrará dinheiro para investir em lugares onde o time realmente está mais necessitado.

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