Time grande só cai quando se apequena. E o Inter se apequenou demais em 2016
Empate com o Fluminense rebaixou o Inter à segunda divisão |
O caso colorado é raríssimo: o de um clube grande que cai sem estar em crise financeira profunda. Não há atrasos de salário ou dívidas impagáveis, como no Grêmio pós-ISL, Palmeiras pós-Parmalat ou Corinthians pós-MSI. Há, pura e simplesmente, uma enorme incompetência no gerenciamento do futebol do clube, em várias instâncias. No papel, talvez seja um dos melhores times já rebaixados em todos os tempos. Na prática, fez menos pontos que o ridículo Corinthians de Moradei, Bruno Octavio, Fábio Ferreira, Clodoaldo e Zelão em 2007.
É verdade que a bonança passou. O Inter não é mais o clube pujante de anos atrás. Para 2016, o dinheiro disponível para o futebol diminuiu em relação ao ano passado, por conta do primeiro grande erro da gestão de Vitório Piffero: contratar muitos jogadores caríssimos para ganhar a Libertadores, muitos deles longe de sua melhor forma. Uma maneira imediatista e ultrapassada de se fazer futebol, por não pensar minimamente no dia de amanhã. Diego Aguirre levou o time até a semifinal basicamente por apostar em jovens como Valdívia e Rodrigo Dourado, e não nos medalhões. Mas, longe de ser o preferido da direção, acabou demitido às vésperas de um Gre-Nal na ideia de criar um "fato novo" - daí o que falávamos sobre decisões arcaicas.
A goleada de 5 a 0 sofrida para o Grêmio talvez tenha sido o pontapé inicial da trajetória desastrosa que culminou com a queda. Argel Fucks chegou para arrumar a casa e evitar o pior em 2015, foi bem, mas o Inter precisava de alguém além da capacidade dele para este ano. À base de bons resultados, mas atuações ruins, manteve-se no cargo até quase a metade do Brasileirão atual, depois de ser 5º no campeonato do ano passado e campeão gaúcho no primeiro semestre. O não-futebol que seu time praticava só passou a não ser mais tolerado quando as derrotas apareceram. Era inevitável que elas surgissem, dada a qualidade ruim das apresentações da equipe em quase todas as partidas que disputava.
Argel deixou o Inter em 9º, mas num viés de queda violento. Paulo Roberto Falcão era sua antítese, mas fora de momento e de lugar. Deixou o Beira-Rio em 13º, saindo para a chegada de Fernando Carvalho, que trouxe consigo Celso Roth. Era difícil prever que o ex-presidente se sairia tão mal, mas o próprio Carvalho caiu no erro do pensamento mágico ao escolher o treinador com quem ganhou a Libertadores de 2010. Trouxe a ideia de que Roth "salva clubes em crise" sem se dar conta que seus últimos trabalhos foram todos fraquíssimos. Do começo do returno em diante, a equipe teve alguns altos e vários baixos, desempenho incapaz de evitar a queda.
Tudo isso desembocou na partida de ontem. Como o rival Grêmio em 1991, o Inter entrava em campo na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, contra um adversário carioca, num estádio acanhado, secando Sport e Vitória. Jogou numa cancha de segunda e com um futebol de segunda: desanimado, frouxo, incapaz de sequer acossar um Fluminense fraco, desfalcado e que nada mais tinha a disputar no campeonato. Não fosse por Danilo Fernandes, a derrota era certa. Não fosse por ele, aliás, o Inter já teria caído há muito tempo.
O Internacional paga de uma forma dolorosa por toda a arrogância de sua diretoria. Acontece com quem ganha muito, em outros clubes já foi assim. Piffero, anos atrás, chegou a comemorar publicamente um aniversário de rebaixamento do Grêmio, postura incompatível com a de um presidente de clube. Carvalho e ele, que já trouxeram o Colorado para o topo do mundo, apequenaram o Inter de tal forma que deixaram neste final de ano a pior mancha em sua vitoriosa história.
Time grande, realmente, não cai. Mas clube grande com time pequeno, sim. O Inter foi irresponsável ao gastar mais do que podia em 2015. Apequenou-se ao trazer Argel e insistir nele; ao trazer jogadores medíocres como Fernando Bob, Fabinho, Anselmo e Ariel em vez de apostar na base; ao aceitar um estilo de jogo de clube médio, do tipo que não tolera fazer nem fair-play diante da Ponte Preta no Beira-Rio; ao tomar atitudes como o uso de William como garoto-propaganda para um jogo de Gauchão dias após ele acertar violentamente um colega de profissão num Gre-Nal. Tudo isso é simbólico, mas diz muito sobre como o clube vinha sendo pensado. O Internacional é grande, cai grande, tem orçamento de grande e torcida de grande. Deve voltar como grande à Série A, inclusive. Mas errou muito, e agiu como pequeno bem além do que podia para não pagar este alto preço de jogar a segunda divisão em 2017.
Foto: Maílson Santana/Fluminense.
Comentários
Pífero, Carvalho , Roth e Falcão qual é o nome do filme? Quarteto Fantástico
Nunca pensei que veria em menos de uma semana o Tricolor campeão e o inter na 2 divisão
E uma boa segunda pra todos