A maior de todas as 24 chances do Grêmio

Em 29 de novembro de 2001, há 15 anos e uma semana, o Grêmio, então treinado por Tite, perdeu para o Flamengo nos pênaltis, dentro do Olímpico, nas semifinais da Copa Mercosul. Foi a primeira de uma lista de 23 eliminações de grandes competições de mata-mata (sem falar no jejum no Brasileirão) que perdura até hoje.

Nesta década e meia, duras derrotas para o próprio Atlético Mineiro, em dezembro de 2001, além de Olimpia, Santos, Independiente Medellín, Flamengo, Internacional, Fluminense, 15 de Novembro, Boca Juniors, Atlético Goianiense, Cruzeiro, Goiás, Universidad Católica, Palmeiras, Millonarios, Santa Fe, Atlético Paranaense, San Lorenzo, e, finalmente, a categórica derrota para o Rosario Central na Libertadores deste ano. Que pode e deve ter sido a última. Pois tudo isso tem tudo para virar passado hoje à noite, que é A noite, pois é a que carrega a inadiável e indiscutivelmente maior de todas as 24 oportunidades que o clube gaúcho teve no período de voltar a ser feliz e soltar o grito de campeão.

Os jogadores devem entrar em campo sem lembrar destes fracassos. Mas os torcedores, claro, o carregarão. Lembrar deles não é fazer mau agouro ou pensar que tudo vai dar errado de novo, pelo contrário: é necessário para dar a dimensão da importância que o jogo de hoje à noite tem na história do clube. O Grêmio não jogará apenas por mais um título, ou para ser o maior campeão da história da Copa do Brasil: ele joga para inaugurar as conquistas de sua nova Arena e, principalmente, para dar a seu torcedor uma alegria que ele merece e sonha há bastante tempo.

Os gremistas sonham com este momento há muito tempo. Estão tão eufóricos quanto desconfiados: sim, a vantagem é enorme, as condições são todas favoráveis, mas quem garante que o time não vai sofrer um apagão com em algumas destas eliminações citadas? Claro, aí entraríamos no terreno da mística. E é só mesmo na mística, ou só se apartando demais da razão, que se pode ver alguma possibilidade de que o pentacampeonato não venha, afinal de contas.

Muito se perguntou nos últimos dias a respeito da parada forçada devido à tragédia da Chapecoense. Ela beneficia quem na final da Copa do Brasil? Grêmio ou Atlético Mineiro? Na verdade, não é tão simples responder. Aos gaúchos certamente não foi o ideal: o Tricolor vinha no embalo de uma vitória maravilhosa no Mineirão e enfrentaria um rival esfacelado, sem treinador e precisando mudar tudo em termos táticos para ter alguma chance remota de reversão. A parada esfriou esse cenário amplamente favorável, e ainda deu tempo ao Galo para trabalhar um pouco mais. Diogo Giacomini teve sete dias além do que previa para pensar numa estratégia de ganhar o título hoje à noite.

Por outro lado, a quebra do ritmo de decisão da semana passada pode, sim, beneficiar o Grêmio. A razão é simples: a euforia diminuiu. A atuação de gala em Belo Horizonte já está um pouco mais distante no tempo, o clima de oba-oba que poderia haver foi massacrado pela tristeza de Chapecó. Atrasar a disputa em uma semana pode talvez ter ajudado a aumentar a ansiedade, mas também ajudará a conter uma euforia que poderia ser prejudicial. Pensar que o Galo pode ter se preparado melhor também pesará para que o Tricolor tenha total respeito pelo adversário e suas chances de reversão, por menores que sejam.

Fala-se muito de tudo isso porque em finais, em mata-matas, o fator psicológico pesa muito. Neste caso, um fato completamente estranho ao próprio torneio, que foi o acidente da Chape, desce de paraquedas num jogo com ingredientes já bastante intensos. Somando esse caráter aleatório de um adiamento imprevisível ao fato de o Grêmio estar há 15 anos sem levantar uma taça de grande expressão, temos aí terreno para tornar o jogo de hoje à noite extremamente nervoso. Até vidente prevendo virada andaram enfiando nessa receita.

Eis que então decidimos virar nosso olhar para dentro de campo. E aí, na lógica, a verdade é uma só: o Grêmio está muito perto do título que há tanto tempo persegue, e é difícil que o perca, pois tem todas as vantagens: joga em casa; tem uma uma ótima vitória de 3 a 1 aplicada na partida em que foi visitante, conquistada com total superioridade, a qual é mais importante do que se pensa, pois deixará o Galo numa encruzilhada: se o Atlético se atirar para cima, abrirá espaços e tomará gols fatais, mas se atuar fechado demais dificilmente terá poderio ofensivo para furar a bem postada defesa gaúcha.

Além disso, o Grêmio tem um time taticamente muito mais coeso que o Atlético, por mais que Giacomini pense em reforçar seu meio-campo para equilibrar a batalha do setor. Só que a consistência do meio gremista é resultado de um trabalho de quase dois anos, e não de uma semana de trabalho imprevisto. Mas o principal fator, além da vantagem enorme, é o fato de o time de Renato Portaluppi estar muito concentrado na busca deste objetivo, bem mais que o próprio Galo, inclusive. Vale lembrar que já se citou anteriormente que a parada de 20 dias entre a semifinal com o Cruzeiro e a final com o Atlético poderia quebrar o ritmo de competição gremista, hipótese desmentida pela atuação monstruosa de 15 dias atrás, com nível inclusive superior ao demonstrado diante da Raposa.

Hoje é a noite mais aguardada e importante para os gremistas dos últimos 15 anos. Porque nunca o título de grande expressão esteve tão próximo como agora. É a noite que nascerá para enterrar de vez um jejum que por várias vezes parecia interminável, ou então para prolongá-lo ainda mais, no que seria a maior de todas as decepções que o clube terá enfrentado neste período tão árido de sua história. Os argumentos lógicos pesam todos a favor; os irracionais podem pender para o lado que o estado de espírito de cada torcedor quiser.

Retrospectos
O Grêmio desta Copa do Brasil é um time que faz papel muito melhor fora de casa que dentro da Arena. Isso contradiz completamente a campanha feita pela equipe no Brasileirão. Longe de casa, o Tricolor venceu três dos quatro jogos que disputou e empatou outro; em Porto Alegre, venceu um, empatou outro e perdeu outro. Mas jamais tomou dois gols em um mesmo jogo, requisito mínimo para levar a disputa para os pênaltis hoje. Já o Atlético ganhou só dois dos sete jogos disputados, mas nenhum por dois gols de diferença. Terá de fazê-lo contra o melhor time que enfrentou até agora na competição. E mais: somente em casa, contra o Juventude, o time mineiro não sofreu gols. Ou seja: a exigência provável para hoje é fazer pelo menos três gols contra um time que só levou quatro em toda a Copa do Brasil.

Galo na fase de grupos
A Libertadores de 2017 segue mudando o regulamento do Brasileirão. Ontem, a Conmebol confirmou que uma das vagas que seria de equipes mexicanas vai para o Brasil, que agora terá seis clubes direto na fase de grupos: os quatro primeiros do Brasileiro, o campeão da Copa do Brasil e a Chapecoense, declarada campeã da Sul-Americana. Assim, o Atlético Mineiro garantiu vaga na fase de grupos. Imaginem se tivéssemos tido neste fim de semana: neste caso, o Galo entraria da pré-Libertadores para a fase de grupos após o término do campeonato nacional. Confusão sem fim.

Em várias frentes
Devido à tragédia de terça passada, não comentamos o quanto o 1 a 0 aplicado pelo Vitória sobre o Coritiba complicou a vida do Internacional no Campeonato Brasileiro. As chances de escapar são tão improváveis que até mesmo uma ida aparentemente sem sentido ao STJD está sendo empreitada pelo Colorado. Dificilmente haverá sucesso nos tribunais. Dentro de campo, as chances são um pouco maiores, mas ainda assim ínfimas. É a semana mais tensa da história do clube rubro.

Comentários

Vine disse…
O pior de tudo pros colorados é que o time realmente vai cair, e não está sendo feito nenhum planejamento para o ano que vem. Clubes grandes que caem assim sobem sofrendo. A diretoria é esquizofrênica. Vai custar caro.