A estreia de Dourado na Arena foi também um abraço do Grêmio com sua própria história

A noite da última quarta-feira foi de festa, mas principalmente de reconciliação para os gremistas. A principal delas, claro, foi com as grandes conquistas: nada mais natural que o maior campeão da história da Copa do Brasil encerrasse seu aparentemente interminável jejum de grandes títulos trazendo-a para o armário pela quinta vez.

A imagem talvez mais tocante e simbólica da noite, porém, veio antes do jogo (homenagens à Chapecoense à parte, claro): o abraço de Hélio Dourado com Romildo Bolzan. Presidente responsável pela ampliação do Olímpico e do patamar do Grêmio em âmbito nacional, Dourado assistiu, quarta, seu primeiro jogo na Arena. Ele foi o dirigente mais resistente à mudança para o Humaitá: desde sempre criticou o modelo do negócio (contestação que se mostrou muito pertinente com o tempo) e a mudança de bairro do clube.

O abraço do histórico com o atual presidente é muito maior do que simplesmente uma comemoração de título: ele simboliza um Grêmio que se reconcilia com o seu passado sem deixar de olhar para o futuro. O time de 2016 foi feito do modo como quase todos os grandes times gremistas foram montados: com os pés no chão, contratações criteriosas, valorização da base e técnicos que conhecem o histórico do clube.

E como era importante para o Grêmio desvincular-se do seu passado - não esquecê-lo, mas tratá-lo justamente como passado, como deve ser. A conquista de quarta-feira é a primeira da Era Arena, um estádio que agora tem suas histórias próprias para contar. Este é um olhar para a frente que o clube precisava de fato fazer, embora seja necessário aperfeiçoá-lo, claro. O Grêmio campeão de 2016 é um Grêmio de estádio novo, mas com uma torcida que carrega a alma de sempre. É um Grêmio que joga firme, como sempre fez em seus melhores momentos, mas que trouxe consigo um DNA de modernidade costurado a partir de um trabalho olhando para a frente desenvolvido por Roger Machado. Um Grêmio que respeita o passado sem se balizar exclusivamente nele - uma equação difícil de ser resolvida, pois a linha entre passado e saudosismo é muito tênue.

Claro, há ainda bastante a melhorar. Especialmente fora de campo: se dentro dele o futebol teve um ano muito positivo, o indesculpável estado de degradação da área do Estádio Olímpico e a interminável negociação para obtenção da gestão plena da Arena são desafios importantes do segundo mandato de Romildo no Tricolor. Talvez sejam estas duas peças as que faltam para que o quebra-cabeças esteja finalizado. As peças que, se encaixadas, deixarão o passado definitivamente no passado, sem margem para conflitos existenciais que possam atrapalhar o futuro.

As mesclas de alma de Olímpico com o avanço da Arena, da alma de Renato com a cultura de Roger, da experiência de Douglas com a juventude de Everton, todas elas, estão registradas no abraço de Dourado com Romildo. Uma noite na qual se reencontrou de forma esplêndida com a sua história, mas sem deixar de lado a necessidade de construir narrativas novas para enriquecê-la ainda mais.

Foto: Grêmio/Divulgação.

Comentários

Chico disse…
Acabaram os argumentos dos cúlorados: 1- GRÊMIO pentacampeão, 2- interrado rebaixado, 3- GRÊMIO líder do ranking da cbf.
Chico disse…
Essa conquista do Tricolor é um retorno do velho GRÊMIO copero. Que campanha espetacular do Imortal.