Ocupando espaços com inteligência e atitude, o Grêmio fez história no Mineirão
Após limpar vários marcadores, Pedro Rocha finaliza e faz 2 a 0 |
Marcelo Oliveira fez um ótimo diagnóstico do que seu time deveria executar: o Grêmio gosta de ter a bola, então era preciso evitar isso a partir de uma marcação alta. Mas ficou na teoria: desde o início da partida, o Tricolor sempre foi mais agressivo que o Galo. Não se intimidou com o Mineirão lotado para exercer sua habitual corajosa pressão na saída de bola rival - postura que contrasta com as duas atuações de gala da equipe gaúcha contra o Atlético em 2015 e 2016 pelo Brasileiro, nas quais a equipe então treinada por Roger Machado jogou mais na espera que na ocupação ofensiva de espaços sem a bola. Ainda assim, o estilo do ex-técnico fica evidente a cada triangulação, a cada valorização de posse de bola. O Grêmio é quem parecia jogar em casa; o Atlético é quem aparentava estar em jejum há 15 anos.
A coragem gremista em atacar o Galo foi absolutamente inteligente. Renato Portaluppi ganhou o duelo tático com Marcelo Oliveira exatamente aí: se ficasse atrás, tentando segurar a pressão, entraria no jogo do Atlético, de ligação direta e tentativa de abafa. Ao ocupar os espaços deixados pelo Galo, controlou o jogo quase que o tempo todo no 11 contra 11. Embora muito forte tecnicamente, o time mineiro tem se dado mal contra o Tricolor justamente por ser um time que joga mas deixa jogar, dá espaços quando não tem a bola. A diferença é que, desta vez, o Atlético só deixou o Grêmio jogar, mas pouco jogou.
É difícil destacar alguém quando a atuação é praticamente perfeita, mas dois jogadores merecem menção especial: Maicon e Pedro Rocha. O primeiro, por liderar e ditar o ritmo do time, combater como um volante e armar como um meia da mais alta qualidade; o segundo, claro, pelos dois golaços. Embora tenha perdido uma chance clara e ter outra tirada em cima da linha, chamou a atenção a frieza do jovem atacante gremista na hora de concluir, especialmente no lance do primeiro gol. Em vez de chutar de qualquer jeito, com a afobação de quem recebe um passe na cara do gol em uma decisão, deixou Gabriel no chão com um corte seco e surpreendente e bateu colocado, com calma, na saída de Victor. Certamente houve muito papo prévio com Renato para que esta definição saísse mais calma, fria e precisa do que em outras partidas. Sua expulsão foi tão boba quanto exagerada, mas sua contribuição foi inestimável.
Mas muitos outros nomes precisam ser lembrados: Marcelo Grohe não trabalhou tanto, mas foi decisivo ao defender milagrosamente um chute de Júnior Urso na pequena área, que poderia ter mudado a história do jogo num momento onde o Grêmio dominava completamente as ações no primeiro tempo; Edílson levou ampla vantagem sobre Fábio Santos; Walace se desdobrou na marcação, com enorme imposição física; Douglas e Luan não decidiram, mas foram absolutamente fundamentais na inteligente armação de jogo gremista; Kannemann anulou Lucas Pratto, como todos pediam; e Geromel, embora tenha deixado Gabriel sozinho para marcar o golaço do Galo, foi épico na jogada do gol de Everton. Um lance improvável, cheio de atitude e qualidade, com cara de grande conquista; uma jogada que certamente entrará, em caso de título, como uma das maiores da história do clube.
A missão de Marcelo Oliveira é das mais ingratas: para reverter essa desvantagem inédita (nunca um mandante de jogo de ida perdeu uma final por dois gols de diferença na história do torneio), seu time precisará mostrar a consistência tática que jamais demonstrou em 2016, além de ver uma jornada absolutamente brilhante de todas as suas principais individualidades. Ontem, o coletivo gremista suplantou com sobras as estrelas do Galo.
Já o desafio do Grêmio, agora, é primordialmente anímico: controlar a ansiedade e evitar a euforia. Embora Renato já tenha pecado pelo oba-oba em outros tempos, parece claro que ele sabe o quanto é importante evitar isso tudo. O Tricolor não precisará repetir o nível da partida que fez ontem na Arena para ser campeão da Copa do Brasil. O que é absolutamente necessário é manter a estratégia de ocupar espaços, ficar com a bola, empurrar o Galo para trás e, principalmente, manter a concentração que vem tendo. Por enquanto, o peso da falta de conquistas recentes tem se revertido em mobilização e motivação. Faltam, agora, os últimos 90 minutos desta jornada. Serão os seis dias mais esperados das últimas décadas pela torcida tricolor.
Chapecoense, a um passo da glória
A campanha da Chapecoense na Copa Sul-Americana já entrou para a história como a melhor de um clube catarinense em torneios continentais em todos os tempos. A classificação para a final veio no saldo qualificado. E nada de moleza: o adversário eliminado foi ninguém menos que o copeiro San Lorenzo, que levantou a Libertadores dois anos atrás. Para a final, há o inestimável prejuízo de a Arena Condá não poder receber o duelo, por falta de capacidade - Porto Alegre e Curitiba são as opções estudadas. Hoje sai o adversário: em Medellín, o Atlético Nacional receberá o Cerro Porteño (na ida, empate em 1 a 1).
Rogério Ceni, a um passo do São Paulo
A direção do São Paulo precisava de um mero pretexto para fazer o que todos sabiam que aconteceria: a contratação de Rogério Ceni como treinador para 2017. Mesmo tendo recém aplicado 4 a 0 no rival Corinthians, Ricardo Gomes não resistiu à derrota para a Chapecoense, domingo, pelo Brasileirão. Nada mais óbvio.
Foto: Lucas Uebel/Grêmio.
Comentários
- a defesa milagrosa do Grohe no 1T;
- o segundo gol, meio místico, num momento em que o Galo tinha voltado melhor e apertando o Grêmio;
- o terceiro gol, completamente improvável, num momento em que a pressão era toda contra.
Foram detalhes importantes, e é fundamental manter essa precisão/concentração pros 90 minutos que ainda há.
Existe também um fator de sorte, né? Aquela bola no começo do segundo tempo em que o Pratto bateu, desviou na zaga e caiu na rede por cima do gol talvez tivesse entrado em outros tempos... Sorte que premia os bons, lógico.
Dois golos de Rocha em um jogo?! Incrível!
Estou mais nervoso do que nunca.