Nada de jogo, como Roth queria

Kannemann foi bem no combate a Vitinho
Tudo o que o Internacional mais queria hoje era evitar uma derrota. Perder para o Grêmio poderia, se os resultados paralelos não ajudassem, recolocar a equipe na zona de rebaixamento, mas mais do que isso: acenderia uma série de dúvidas que, com a reação recente, passaram a ser relativizadas. Assim, a estratégia de Celso Roth não poderia ser outra senão a de impedir que houvesse jogo. O Gre-Nal truncado, cujo único resultado possível era mesmo este arrastado 0 a 0, foi uma vitória para o treinador colorado.

Mas o que tornou o Gre-Nal ruim não foi apenas isso. O clássico de baixo nível técnico passa também pelas características do Grêmio. Com Renato Portaluppi, é uma equipe que se defende com mais segurança que nos últimos tempos de Roger Machado. Portanto, contra-ataques o Inter teve pouquíssimos, e só um deles acabou em conclusão. Mas o Tricolor de Renato é um time que não gosta tanto de ter a bola (a teve em 69% do clássico), e tem menos criatividade. Sem Douglas, seu homem mais inteligente, sofreu demais para criar oportunidades claras. Assim, nenhum dos dois lados teve chances suficientes para que se formasse um compacto com os melhores momentos do jogo.

A estratégia inicial do Inter era deixar Kannemann sair jogando (tem menos qualidade que Geromel na saída) e, principalmente, anular a criação no meio. Na primeira meia hora do clássico, Valdívia seguiu Maicon como se fosse um volantão. Quando parou de fazê-lo, o Colorado deixou de controlar o jogo da mesma forma e passou a ser acossado. A parte final do primeiro tempo foi o melhor momento do Grêmio na partida. Mas pouquíssimas chegadas eram realmente perigosas: Edílson tinha Eduardo Sasha no seu encalço pela direita, Marcelo Oliveira e Pedro Rocha batiam em William e Ceará pelo esquerdo. Miller Bolaños começou como criador, mas, sumido, logo deu a função a Luan. Ele melhorou este aspecto do Tricolor, mas esteve bem marcado. Anselmo foi bem.

Nos primeiros 15 minutos do segundo tempo, a situação se inverteu: foi este o momento do Inter, que teve o contragolpe finalizado por cima por Vitinho e uma outra boa jogada que não foi concluída porque Geromel salvou. Momento que foi interrompido a partir da injusta expulsão de Rodrigo Dourado, que era o homem que trazia o time de trás e iniciava os contra-ataques. Sem ele, o Colorado perdeu o controle do meio, que voltou a ser gremista após a boa entrada de Jaílson. Com Everton investindo contra Ceará, o Tricolor parecia mais próximo de tentar a vitória, mas Renato mexeu mal ao retirar Maicon e colocar Guilherme. Talvez tenha sido pensando na partida de quarta, mas em relação ao Gre-Nal a troca retirou qualidade no pouco de criação que ainda existia em seu time.

No fim das contas, o empate caiu melhor para o Inter, que viu sua estratégia prevalecer. Claro, o 0 a 0 soa interessante também porque está dentro do contexto de uma rodada que acabou sendo positiva, já que Vitória e Sport perderam. A distância de dois pontos para a zona de rebaixamento é pequena, mas é a maior das últimas rodadas. Para quem enfrenta o Santa Cruz no Beira-Rio no próximo sábado, é uma perspectiva relativamente tranquila.

No caso gremista, dois pontos são negativos: um tropeço em casa (para quem briga por G-6 foram dois pontos perdidos) e desgastando os titulares. O Cruzeiro, adversário de quarta, mandou um time quase reserva a Salvador para encarar (e vencer) o Vitória. O torcedor não chegou a deixar a Arena triste, cantou pedindo o título da Copa do Brasil mas, claro, deixar de sentir o gostinho de empurrar o rival para o abismo foi visivelmente frustrante.

Em tempo:
- Público de hoje é o maior da história da Arena, superando inclusive os quase 52 mil torcedores do amistoso entre Brasil e França, em 2013. Foram apenas 2.250 lugares vazios - o que, levando em conta que vários lugares nunca são usados justamente para separar torcidas rivais, significa praticamente a lotação máxima do estádio gremista.

- O Inter tem razão ao reclamar da expulsão de Rodrigo Dourado, mas daí a dizer que provavelmente venceria o clássico se não fosse o cartão vermelho é um exagero. O gancho para Edílson, porém, deve ser pesado.
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Campeonato Brasileiro 2016 - 32ª rodada
23/outubro/2016
GRÊMIO 0 x INTERNACIONAL 0
Local: Arena do Grêmio, Porto Alegre (RS)
Árbitro: Francisco Carlos Nascimento (AL)
Público: 53.287
Renda: R$ 1.782.613,00
Cartão amarelo: Anselmo e Vitinho
Expulsão: Edílson 17 e Rodrigo Dourado 21 do 2º
GRÊMIO: Marcelo Grohe (6), Edílson (4,5), Geromel (6,5), Kannemann (6,5) e Marcelo Oliveira (5,5); Walace (6,5), Maicon (6) (Guilherme, 39 do 2º - 5,5), Ramiro (5,5), Miller Bolaños (5) (Jaílson, 20 do 2º - 6) e Pedro Rocha (5,5) (Everton, 10 do 2º - 5,5); Luan (6). Técnico: Renato Portaluppi
INTERNACIONAL: Danilo Fernandes (6), Ceará (5,5), Paulão (6), Ernando (6) e Geferson (5,5); Rodrigo Dourado (6), Anselmo (6,5), William (5,5), Valdívia (5) (Eduardo Henrique, 24 do 2º - 6) e Eduardo Sasha (6,5) (Gustavo Ferrareis, 41 do 2º - sem nota); Vitinho (4,5) (Aylon, 39 do 2º - sem nota). Técnico: Celso Roth

Foto: Lucas Uebel/Grêmio.

Comentários

Anônimo disse…
Deve ter sido o grenal mais feio desde a despedida do Olímpico. Mas não me surpreendi, infelizmente.

Desde que o Bobô saiu, o time não tem mais um centroavante que faça o pivô na grande área. Daí num jogo em que o espaço pra tocar a bola é muito reduzido, todos os lances acabam afunilando, como o adversário quer. Não que o Bobô fosse titular, mas era uma opção de jogo que o time perdeu pra situações como essa.

Tiago
Vicente Fonseca disse…
Olha, Tiago, não lembro recentemente de um Gre-Nal tecnicamente pior que esse. O primeiro da Arena, em 2013, foi até pior que o último do Olímpico, na minha opinião. Aquele em que os dois times puseram reservas, no começo de 2015, também foi horrível. Mas esse aí foi dos piores que já assisti.

E concordo plenamente contigo: o Bobô faz falta, sim, como opção de grupo. Bolaños não é dessa característica e Henrique Almeida é bem inferior em termos técnicos. Ontem poderia ter sido muito útil.