Uma derrota que resume os pecados do Grêmio

Sassá deu trabalho a Kannemann: Botafogo mais longe do Z-4
A derrota para o Botafogo neste domingo é daquelas que servem para definir qual a briga do Grêmio no Campeonato Brasileiro. E ela não é de título, definitivamente. O filme que se viu na Ilha do Governador já se repetiu algumas vezes na competição, com enredos tristemente repetidos: diante de um adversário mais fraco, o time de Roger Machado simplesmente não soube se impor; fora de casa é uma equipe completamente diferente, e muito menor, do que é dentro da Arena; e, quando tem a chance de encostar na briga, a equipe tropeça. São pecados demais para pleitear algo realmente grande dentro da competição.

Todos esses erros foram repetidos várias vezes, e hoje todos eles ocorreram. O Grêmio já perdeu pontos em 2016 para Vitória, Santa Cruz, América-MG, Chapecoense e Sport, por exemplo. Longe de Porto Alegre, só venceu uma vez - a outra vitória fora de casa foi no Gre-Nal, disputado a alguns quilômetros da Arena. E, quando é o último a jogar numa rodada, ou quando tem a chance de encostar e até mesmo assumir a liderança, o Tricolor normalmente fracassou. Ocorreu assim nos três jogos já citados, especialmente no 0 a 0 com o Santa Cruz, em casa, quando uma vitória significaria a liderança do torneio.

Poucas vezes neste campeonato o time de Roger Machado jogou tão mal quanto hoje - talvez só diante do Atlético-PR, em Curitiba, na 11ª rodada. É verdade que o gramado do Estádio Luso-Brasileiro dificultava o toque de bola tricolor, é também fato que Marcelo Grohe, Geromel e Miller Bolaños foram desfalques importantes. Mas nada explica a apatia gremista.

Eram 28 minutos e o apenas esforçado time carioca já vencia por 2 a 0. Sem forçar o ritmo, encontrava espaços com enorme facilidade. Desencaixado desde o começo, o Grêmio marcou mal e jogou descompactado a tarde inteira. Jaílson, inadaptado na função de Giuliano, foi amplamente dominado por Neílton, tão improdutivo quanto infernal; Marcelo Oliveira e Edílson sofreram a tarde inteira com a velocidade pelos lados do time da casa; no meio, os volantes fracassaram e Douglas errou quase tudo o que tentou. Não houve uma só peça que se salvasse no primeiro tempo.

Liderado por Camilo, autor do gol mais lindo do campeonato, e pelo inspirado Luís Ricardo na ala direita, o Fogão merecia ter ido para o intervalo com vantagem ainda maior. Após ser goleado pelo Cruzeiro no meio de semana, entrou em campo jogando por um prato de comida, diante de um adversário anêmico, sem reação, que parecia cumprir uma formalidade de tabela, e não brigando por coisas grandes. O segundo gol, de Sassá, surgiu naturalmente, a partir de espaços do desorganizado time gaúcho desde o meio, até a marcação errada de Kannemann sobre o centroavante Sassá, que venceu Bruno Grassi com um chute cruzado.

Roger deveria ter mexido ainda no primeiro tempo. A ideia de que falta grupo é relativa, para não dizer falaciosa: havia várias opções para mudar o rumo do jogo. A falta de um plantel maior não pode encobrir erros de escalação visíveis do treinador gremista. Por exemplo, Pedro Rocha, destaque na goleada sobre o Corinthians, não pode reserva em favor de Henrique Almeida. O camisa 32 é um dos que poderiam muito bem ter entrado. No meio, era possível escolher entre um dos volantes para o seu ingresso, ou mesmo o de Ramiro, que deve obrigatoriamente ser titular se a ideia for manter a formação com três centromédios de origem, por saber fazer corredor melhor que qualquer outro. O próprio Lincoln poderia ter dado um pouco mais de vitalidade e qualidade a um meio que errava praticamente todas as tramas.

No entanto, o treinador gremista só foi mexer aos 12 minutos da etapa final, perdendo praticamente um terço do segundo tempo em que nada aconteceu. O gol de Batista, aos 35, foi isolado, e não resultado de uma melhora tática ou técnica da equipe. Foi uma iniciativa pessoal de Luan e uma bela definição do jovem centroavante reserva, possível também graças ao recuo do Botafogo. Ainda assim, não houve retranca: o time alvinegro fez o feijão com arroz, controlou o Grêmio com tranquilidade e, após ter sofrido o desconto, jamais foi ameaçado novamente. Vitória absolutamente justa.

Sete pontos atrás do Palmeiras, fora do G-4 e já ao alcance de outras três equipes na próxima rodada, o Grêmio vai dando adeus, na prática, às chances de título, que outrora eram palpáveis. Além da enorme distância para o líder, há outros quatro times à sua frente, o que dificulta muito a empreitada. É verdade que três dos cinco rivais mais fortes já não enfrentam mais o Tricolor, mas é contra os mais fracos que o time não tem se ajudado. Hoje, por mais desfalques que tivesse, a vitória era obrigação. O Botafogo vinha abalado por uma goleada sofrida, e mais: jogou na quinta-feira à noite, enquanto os gaúchos tiveram a semana inteira para treinos. Difícil explicar rendimento tão medíocre.

Quanto ao Botafogo, uma vitória absolutamente fundamental na luta contra o rebaixamento. Depois da goleada do meio de semana, pela Copa do Brasil, era importante não sofrer um novo revés, que poderia abalar e jogar o elenco numa crise em momento decisivo do campeonato. Com 29 pontos, em 11º lugar, o time carioca abre uma folga razoável de cinco pontos para a zona de rebaixamento. Organizado, tem boas condições de realmente se manter na primeira divisão, objetivo maior desta temporada.
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Campeonato Brasileiro 2016 - 19ª rodada (jogo atrasado)
4/setembro/2016
BOTAFOGO 2 x GRÊMIO 1
Local: Luso-Brasileiro, Rio de Janeiro (RJ)
Árbitro: Wagner Reway (MT)
Público: 5.199
Renda: R$ 143.720,00
Gols: Camilo 20 e Sassá 28 do 1º; Batista 35 do 2º
Cartão amarelo: Emerson Santos, Carli, Aírton, Luan, Maicon, Ramiro e Edílson
BOTAFOGO: Sidão (5,5), Luís Ricardo (7,5) (Emerson Silva, 35 do 2º - sem nota), Carli (5,5), Emerson Santos (6) e Victor Luís (6); Aírton (6,5), Bruno Silva (5,5), Fernandes (6) (Dudu Cearense, 26 do 1º - 6) e Camilo (7); Neílton (6) e Sassá (6,5) (Rodrigo Pimpão, 15 do 2º - 5). Técnico: Jair Ventura
GRÊMIO: Bruno Grassi (5,5), Edílson (4,5), Wallace Reis (5,5), Kannemann (5) e Marcelo Oliveira (4); Maicon (4,5) (Kaio, 30 do 2º - 5), Jaílson (4,5), Walace (4,5) (Ramiro, 12 do 2º - 5) e Douglas (4); Luan (5,5) e Henrique Almeida (4,5) (Batista, 12 do 2º - 6). Técnico: Roger Machado

Foto: Vitor Silva/SSPress/Botafogo.

Comentários

Anônimo disse…
Acho que esse 4-3-1-2 funcionou melhor contra os dois Atléticos porque o Bolaños tem bem mais mobilidade que o H. Almeida, tanto para tabelar e trocar de posição na frente quanto para recompor sem a bola. Hoje, aconteceu que o ataque "afunilou" enquanto o Botafogo ficava sempre com pelo menos um a mais quando atacava, pois o H. Almeida não tem as características que permitiram a esse esquema funcionar (se entendi bem)

Tudo indica que vai ser mais um ano brigando pra chegar na Libertadores somente.
Chico disse…
É sempre assim: o time tem uma semana inteira pra treinar e não joga absolutamente nada!

E outra coisa: esse esquema com 3 volantes agora? No meio do campeonato quando o time joga de outro jeito há mais de um ano quer inventar agora? Será que é só pra pra arranjar um lugar pro Jaílson?
Vicente Fonseca disse…
O esquema 4-3-1-2 funcionou bem contra os Atléticos por conta da maior movimentação do Miller, sim. Mas uma coisa é importante que se diga: contra o Paranaense, foi ainda melhor porque jogaram Jaílson e Ramiro fazendo o corredor. Não há lugar para Maicon e Walace com este esquema, pois são jogadores mais lentos, de outra característica.

Acho, Chico, que o Roger está mais do que tentando encaixar o Jaílson no time: está tentando achar uma forma de jogar sem o Giuliano. Eu ainda acho que o melhor seria colocar Walace, Maicon/Jaílson (um dos dois, à escolha), Douglas, Luan e Pedro Rocha e Everton abertos pelos lados.