Um desastre tem várias razões

Perdido, Jaílson foi um dos tantos que fracassou pelo Grêmio
Quando se toma 4 a 0 ainda no primeiro tempo, com todos os gols sofridos em um intervalo de apenas 17 minutos, estamos diante de algo fora do normal. O desastre que abateu o Grêmio em Curitiba vai, portanto, além de questões técnicas e táticas: passa muito pelo lado psicológico também. Apesar disso, explicar o fracasso no Couto Pereira e o fim virtual de qualquer possibilidade de disputar a liderança do Campeonato Brasileiro apenas pelo lado anímico é raso. Afinal, somente um combinado de enormes erros pode levar um time a uma jornada tão deplorável quanto a do Tricolor ontem.

Primeiramente, nunca devemos esquecer dos méritos de quem aplica uma goleada dessas, claro. O Coritiba foi extremamente eficiente: aproveitou quase todas as chances que teve e soube explorar os vários erros do Grêmio. Mas era um time desfalcado de alguns dos seus principais jogadores, principalmente Kléber, seu destaque maior na temporada. Em condições normais, jamais aplicaria uma goleada deste tamanho se o time gaúcho também não colaborasse.

Antes de sofrer o primeiro gol, era do time de Roger Machado a melhor chance do jogo: Henrique Almeida recebeu bom cruzamento de Edílson na pequena área e bateu certinho, mas deu o azar de a bola desviar em Juninho e subir. Houve, também, um pênalti não marcado a favor do Tricolor, uma mão de Luccas Claro dentro da área, e uma boa defesa de Marcelo Grohe em escapada de Raphael Veiga. Era um jogo equilibrado, portanto. Até Grohe cometer o indesculpável pecado da indecisão, não subir com Walisson Maia (bem como todos os seus zagueiros, é verdade) e sofrer o 1 a 0.

Ali, o jogo que era equilibrado se desfez por completo. Foram 17 minutos onde cada ataque do Coxa era um gol. Sinal claro de que o psicológico influiu muito na dimensão da goleada. Afoito, o Grêmio se jogou para o ataque, se desorganizou por completo e cedeu espaços generosos ao Coritiba, que os aproveitou com maestria. Mas esse descontrole azul só ocorreu porque antes Marcelo Grohe saiu mal do gol; porque o esquema com três volantes, mais uma vez, fracassou; porque Henrique Almeida jamais foi real um parceiro de ataque de Luan, como Pedro Rocha pode melhor ser; porque Marcelo Oliveira segue vazando pelo lado esquerdo; porque Walace erra passes demais na frente da área; e porque a zaga teve erros crassos de posicionamento de novo (Sassá fez gol idêntico ao de Leandro no domingo) e, pior, segue vazando por cima. São erros demais para serem perdoados.

A queda técnica do Grêmio no campeonato vai, portanto, além da saída de Giuliano. Há um acumulado de decisões equivocadas de Roger e de declínios técnicos de algumas peças. Os fatores, claro, estão também interligados. É certo que o time tem como render muito mais, já rendeu inclusive sem o meia que hoje está no Zenit: as vitórias sobre São Paulo, Atlético-PR e Corinthians, e o empate com o Atlético-MG, foram todas boas atuações sem a sua presença. Uma com cada esquema, porém. Roger ainda busca a melhor formação para suprir a perda de seu camisa 8, o time perde continuidade e se desestrutura com facilidade, como vimos ontem. Enquanto isso, pontos preciosos foram perdidos pelo caminho. E fiascos como o de ontem servem de alerta de o quanto é preciso repensar várias coisas no trabalho.

Para o confronto diante do Palmeiras, líder do campeonato, a postura evidentemente será outra. Dentro de casa, o Grêmio costuma se impor. Porém, haverá pressão: fora da briga pelo título, o time será pressionado, Roger e seus atletas serão provavelmente vaiados. A boa notícia é que ele admitiu ter cometido erros de escalação após o jogo de ontem, algo óbvio, mas que nem todos os treinadores enxergam, ou admitem que enxergam. Se o Brasileirão está fora de cogitação, a Copa do Brasil é a possibilidade que resta. Há mais duas semanas para que os enormes problemas escancarados ontem no Couto Pereira sejam corrigidos.
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Campeonato Brasileiro 2016 - 23ª rodada
7/setembro/2016
CORITIBA 4 x GRÊMIO 0
Local: Couto Pereira, Curitiba (PR)
Árbitro: Wagner Nascimento Magalhães (RJ)
Público: 9.221
Renda: R$ 182.140,00
Gols: Walisson Maia 21, Leandro 30, Raphael Veiga 34 e Neto Berola 38 do 1º
Cartão amarelo: Iago, Neto Berola e João Paulo
CORITIBA: Wilson (6), Walisson Maia (7), Luccas Claro (7), Juninho (6,5) e Juan (7); Alan Santos (7,5), João Paulo (6), Iago (6) e Neto Berola (7) (Yan, 15 do 2º - 6); Leandro (7) (Evandro, 17 do 2º - 6) e Raphael Veiga (8) (Bernardo, 36 do 2º - sem nota). Técnico: Paulo César Carpegiani
GRÊMIO: Marcelo Grohe (4), Edílson (4,5), Geromel (4), Wallace Reis (3,5) e Marcelo Oliveira (4); Walace (3,5), Jaílson (4), Ramiro (4) (Pedro Rocha, 32 do 1º - 5) e Douglas (4,5); Luan (4) e Henrique Almeida (4,5) (Kannemann, intervalo - 5). Técnico: Roger Machado

Fotos: Geraldo Bubniak/Agência Press Digital/Grêmio.

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