Final única e participantes convidados: o pacotaço da Conmebol para piorar a Libertadores
Confesso que fiquei muito feliz ao abrir os sites esportivos hoje à tarde e ver que a Conmebol havia chegado à conclusão de que a Libertadores precisava de mudanças, e já a partir de 2017. Principalmente porque a alteração mais comentada era a de esticá-la: em vez de acavalar o torneio entre fevereiro e julho, como ocorre há muitos anos, aumentar sua duração até novembro e fazer com que alguns dos eliminados na fase de grupos disputem a Copa Sul-Americana - que começará em junho e terminará também no fim do ano. Modelo semelhante ao que ocorre na Europa, com suas duas principais competições continentais.
O principal motivo de minha satisfação é que a mudança tende a forçar a CBF a mexer no calendário brasileiro. Como Libertadores e Sul-Americana correrão juntas de junho a novembro, há duas opções: a Copa do Brasil será disputada só até metade do ano e com todos os seus potenciais participantes, como nos anos 90, ou será igualmente alongada - o que é possível, já que a própria Libertadores ocupará datas mais espaçadas entre suas fases.
Ambas opções são melhores que as adotadas anteriormente (clubes da Libertadores não jogam a Copa do Brasil) ou atualmente (eliminados da Copa do Brasil precocemente jogam a Sul-Americana). E, para funcionarem, talvez obriguem a entidade a repensar o modelo dos campeonatos estaduais, reduzindo seu número de datas de forma que seja possível aos clubes conciliarem três competições fortes ao mesmo tempo no fim do ano. Até mesmo a preparação física tenderia a mudar, neste caso: há clubes que trabalham com dois picos físicos (um para julho, outro para dezembro) para os meses de decisões. Agora, todas ocorrerão no fim do ano, como ocorre no Velho Continente.
Só que nem tudo que vem da Europa serve para a nossa realidade. E uma medida terrível, que há tempos é ventilada de forma quase que ameaçadora, parece prestes a ser posta prática: a final em jogo único e campo neutro. Argumenta a Conmebol uma suposta maior justiça, pois, das últimas dez finais de Libertadores, sete tiveram o mandante do segundo jogo como campeão. O argumento em si já é bem questionável - afinal, quem disputa o segundo jogo é porque teve melhor campanha e, em tese, é um pouco mais forte, mas a questão vai muito além disso: a festa das torcidas na decisão da Libertadores é talvez o maior charme do futebol sul-americano, o auge do ano no nosso continente. E isso não ocorrerá mais.
Esse caráter tão peculiar do nosso torneio principal será subtraído em prol de um estrangeirismo mal importado, trazido a fórceps de uma realidade que conta com malha ferroviária superior, capacidade de deslocamento das pessoas bem melhor e poder aquisitivo médio da população maior. São realidades distintas, modos de encarar o futebol quase que opostos, e isso precisa ser considerado. Ver o que dá certo na Europa é bom para uma série de situações, como combater o nosso atraso em questões como estádios precários e punição a dirigentes corruptos, mas péssimo em outras tantas, como neste monstrengo que está se criando - imaginem quantos torcedores teríamos, digamos, no Allianz Parque, para Atlético Nacional x Independiente del Valle na decisão deste ano?
Aliás, além de alongar a Libertadores, uma outra boa medida para copiarmos dos europeus e que não será realizada seria a de impedir que clubes convidados a disputassem. Pois ao aumentar de 38 para 42 os participantes da Libertadores, a Conmebol cogita convidar quatro equipes para disputá-la a cada edição, segundo critérios pouco elucidados até agora. Isso seria o fim da seriedade de uma competição que sempre foi tão valorizada por sua dificuldade, tanto de participação como no seu próprio ingresso, ao exigir que dela participem somente os melhores times de cada país.
E assim essa tarde cheia de esperança que comecei a viver hoje se transformou em mais uma das tantas de enorme preocupação com o cenário do nosso futebol continental. Pensando bem, a Libertadores acavalada, a Sul-Americana cheia de clubes brasileiros ruins e os estaduais de 19 datas não pareciam tão ruins assim...
O principal motivo de minha satisfação é que a mudança tende a forçar a CBF a mexer no calendário brasileiro. Como Libertadores e Sul-Americana correrão juntas de junho a novembro, há duas opções: a Copa do Brasil será disputada só até metade do ano e com todos os seus potenciais participantes, como nos anos 90, ou será igualmente alongada - o que é possível, já que a própria Libertadores ocupará datas mais espaçadas entre suas fases.
Ambas opções são melhores que as adotadas anteriormente (clubes da Libertadores não jogam a Copa do Brasil) ou atualmente (eliminados da Copa do Brasil precocemente jogam a Sul-Americana). E, para funcionarem, talvez obriguem a entidade a repensar o modelo dos campeonatos estaduais, reduzindo seu número de datas de forma que seja possível aos clubes conciliarem três competições fortes ao mesmo tempo no fim do ano. Até mesmo a preparação física tenderia a mudar, neste caso: há clubes que trabalham com dois picos físicos (um para julho, outro para dezembro) para os meses de decisões. Agora, todas ocorrerão no fim do ano, como ocorre no Velho Continente.
Só que nem tudo que vem da Europa serve para a nossa realidade. E uma medida terrível, que há tempos é ventilada de forma quase que ameaçadora, parece prestes a ser posta prática: a final em jogo único e campo neutro. Argumenta a Conmebol uma suposta maior justiça, pois, das últimas dez finais de Libertadores, sete tiveram o mandante do segundo jogo como campeão. O argumento em si já é bem questionável - afinal, quem disputa o segundo jogo é porque teve melhor campanha e, em tese, é um pouco mais forte, mas a questão vai muito além disso: a festa das torcidas na decisão da Libertadores é talvez o maior charme do futebol sul-americano, o auge do ano no nosso continente. E isso não ocorrerá mais.
Esse caráter tão peculiar do nosso torneio principal será subtraído em prol de um estrangeirismo mal importado, trazido a fórceps de uma realidade que conta com malha ferroviária superior, capacidade de deslocamento das pessoas bem melhor e poder aquisitivo médio da população maior. São realidades distintas, modos de encarar o futebol quase que opostos, e isso precisa ser considerado. Ver o que dá certo na Europa é bom para uma série de situações, como combater o nosso atraso em questões como estádios precários e punição a dirigentes corruptos, mas péssimo em outras tantas, como neste monstrengo que está se criando - imaginem quantos torcedores teríamos, digamos, no Allianz Parque, para Atlético Nacional x Independiente del Valle na decisão deste ano?
Aliás, além de alongar a Libertadores, uma outra boa medida para copiarmos dos europeus e que não será realizada seria a de impedir que clubes convidados a disputassem. Pois ao aumentar de 38 para 42 os participantes da Libertadores, a Conmebol cogita convidar quatro equipes para disputá-la a cada edição, segundo critérios pouco elucidados até agora. Isso seria o fim da seriedade de uma competição que sempre foi tão valorizada por sua dificuldade, tanto de participação como no seu próprio ingresso, ao exigir que dela participem somente os melhores times de cada país.
E assim essa tarde cheia de esperança que comecei a viver hoje se transformou em mais uma das tantas de enorme preocupação com o cenário do nosso futebol continental. Pensando bem, a Libertadores acavalada, a Sul-Americana cheia de clubes brasileiros ruins e os estaduais de 19 datas não pareciam tão ruins assim...
Comentários
Vamos ver, mas vindo de quem comanda não adianta esperar coisa muito boa.
Times convidados? Final única? Quanta palhaçada!