100% com Tite, e na sequência mais difícil

Implacável na cabeça de área, Casemiro foi o melhor em campo
Não foi brilhante como contra o Equador, mas foi muito importante para o Brasil derrotar a Colômbia, ontem, em Manaus. A vitória por 2 a 1 faz a Seleção desgarrar um pouco da briga ferrenha que marca as eliminatórias sul-americanas, e diante de uma adversária direta na luta por uma vaga na Rússia 2018. O principal da noite, porém, talvez tenha sido o modo como o time de Tite lidou com as adversidades. E elas ocorreram ao longo do jogo, muito por conta também da qualidade de quem estava do outro lado.

Muito da boa atuação do primeiro tempo veio, claro, por conta do gol cedo. O modo como ele saiu seria uma tônica do jogo, inclusive: Neymar forçando pelo lado direito, em cima do lateral Medina. Cavou o escanteio, bateu com perfeição e Miranda cumprimentou de cabeça no primeiro pau. Como diante de Venezuela e Uruguai, o Brasil abriu o placar com menos de dois minutos de partida.

O gol logo a um minuto tirou a Colômbia da zona de conforto logo de cara: times de José Pekerman nunca entram em campo pensando só em se defender, mas era lógico que o empate servia aos visitantes. Agora, porém, em vez de poder jogar no erro brasileiro, os colombianos eram obrigados a rever todo plano de jogo e arriscar mais. Explorar a velocidade de Muriel ficou mais difícil. Era preciso, então, que Macnelly Torres entrasse mais no jogo ao lado de James Rodríguez. Mas o camisa 10 não teve parceria - e ainda foi exemplarmente marcado por Casemiro, seu companheiro de Real Madrid, e que deve enfrentá-lo semanalmente a cada treino no Santiago Bernabéu.

O Brasil detinha o controle do jogo, mas explorava pouco o lado direito. Com Daniel Alves ocupado com Muriel, Willian não tinha parceria e foi discreto. Mesmo que Gabriel Jesus não brilhasse, o meio era dono do jogo, com muita consistência de Casemiro e, especialmente Renato Augusto. Algumas chances foram criadas, o segundo gol parecia perto, até que veio o inesperado empate colombiano, em ótimo levantamento de James que Marquinhos desviou contra. O Brasil sentiu o golpe, Neymar quase perdeu a cabeça antes do intervalo. A parada veio em boa hora.

Tite tentou mudar não mudando peças num primeiro momento. O Brasil começou o segundo tempo agressivo, mas a Colômbia se mostrou preparada para contragolpear, sugerindo que se atirar seria uma ameaça até mesmo de derrota. A entrada do veloz Cuadrado no lugar do cadenciado Macnelly Torres reforçou esta ideia. O jogo ficou tão estudado quanto perigoso. Tite, então, repetiu o ato de Quito: Willian até vinha crescendo na etapa final, mas acabou sacado para a entrada de Philippe Coutinho. A seguir, Paulinho saiu para o ingresso de Giuliano, jogador com poder de recomposição, mas mais capacidade criativa. E, suprema ironia, foi não insistência, mas num contra-ataque, com a participação destes dois jogadores, que saiu o gol salvador de Neymar, em genial chute cruzado que, enfim, venceu o ótimo goleiro Ospina.

Não foi brilhante, mas foi consistente e na base das alternativas táticas. Em apenas dois jogos, o Brasil de Tite já se mostra bem superior ao de Dunga, e já nem corremos o risco de estarmos nos precipitando ao fazer esta análise. Com o antecessor, a Seleção jogava em função de Neymar; agora, ele é a cereja do bolo, mas não o recheio todo. As duas vitórias contra equatorianos e colombianos vieram através da enorme capacidade coletiva apresentada: setores dialogando, sistema de jogo compacto, jogadores ocupando espaços e se aproximando para tabelamentos. Tudo o que se pedia, e que antes faltava. E ontem, também, superou-se outro aspecto que pesou muito em tempos recentes: a pressão psicológica. O Brasil mostrou força para passar por cima do momento difícil a que foi submetido em campo e chegou ao segundo gol sem perder o controle dos nervos - um aspecto que Tite também sabe lidar com maestria.

Em uma sequência das mais complicadas das eliminatórias, o Brasil se tornou o único país a ganhar seus dois jogos. Sai da incômoda 6ª colocação, que o deixava fora até da repescagem por longos seis meses, e pula para a vice-liderança, que tem toda a cara de ser igualmente provisória. Mês que vem, tendo pela frente Bolívia e Venezuela, é a hora de pular para a ponta, chegar a 21 pontos em 10 partidas (ótimos 70% de aproveitamento) e começar a encaminhar o passaporte para o território russo. Nada mal para quem temia terminar o turno fora da zona de classificação.

Em tempo:
- Coutinho será reserva de novo contra a Bolívia em Natal?
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Eliminatórias da Copa do Mundo 2018 - América do Sul - 8ª rodada
6/setembro/2016
BRASIL 2 x COLÔMBIA 1
Local: Arena da Amazônia, Manaus (AM)
Árbitro: Patricio Loustau (ARG)
Público: 36.601
Renda: R$ 5.840.500,50
Gols: Miranda 1 e Marquinhos (contra) 35 do 1º; Neymar 28 do 2º
Cartão amarelo: Paulinho, Neymar, Marcelo, Giuliano e Medina
BRASIL: Alisson (5,5), Daniel Alves (6,5), Marquinhos (5), Miranda (6,5) e Marcelo (6,5); Casemiro (7,5), Paulinho (5,5) (Giuliano, 25 do 2º - 6) e Renato Augusto (6,5); Willian (5,5) (Philippe Coutinho, 20 do 2º - 7), Gabriel Jesus (6) (Taison, 40 do 2º - sem nota) e Neymar (7,5). Técnico: Tite
COLÔMBIA: Ospina (7), Medina (5), Jeison Murillo (5), Óscar Murillo (6) e Díaz (5,5); Barrios (5,5), Sánchez (6), Macnelly Torres (4,5) (Cuadrado, 6 do 2º - 6) e James Rodríguez (6); Muriel (5,5) (Marlos Moreno, 36 do 2º - sem nota) e Bacca (5,5) (Roger Martínez, 26 do 2º - 5). Técnico: José Pekerman

Foto: Lucas Figueiredo/CBF/Divulgação.

Comentários

Franke disse…
Após esses dois jogos, pensei como seria o Tite treinando a Alemanha. Me parece que os estilos fechariam bem.
Vicente Fonseca disse…
Tite na Alemanha seria ruim - para as demais seleções. Acho que não só encaixaria bem como ele é um técnico bem superior ao próprio Joachim Löw.