O título heroico de Portugal eleva Cristiano Ronaldo ao panteão das maiores lendas do futebol

Ronaldo, o líder, e Éder, o herói da final: Portugal é campeão
Quando caiu pela segunda vez em prantos no gramado do Stade de France, aos 23 minutos de jogo, Cristiano Ronaldo passou a braçadeira de capitão da seleção portuguesa para Nani, que o abraçou e lhe disse algo, que possivelmente tenha sido "vamos jogar por ti e sermos campeões". Na verdade, Nani nem precisou ter dito nada disso para que a frase tenha sido, na prática, verdadeira. A perda do capitão e craque da equipe no primeiro tempo da decisão da Eurocopa, contra a França, fora de casa, era a provação que faltava para os portugueses superarem. E eles conseguiram.

Os heróis do mar foram os heróis do campo a competição toda. Mas quase foram fiasco também. Na primeira fase, foram três empates no fraco grupo de Islândia, Áustria e Hungria. Cristiano Ronaldo desdenhou dos islandeses e ganhou ainda mais a antipatia do resto do continente, que comemorou quando ele errou o pênalti que daria a vitória sobre os austríacos, no jogo seguinte. Mas foi decisivo ao marcar duas vezes contra os húngaros e salvar seu time de uma eliminação precoce. Era a primeira vez em que ele fora decisivo na Euro 2016.

Tudo parecia dar errado para Portugal até então. Além do frustrante empate com a Islândia na estreia e do pênalti perdido por Ronaldo contra a Áustria, dois dos gols da Hungria haviam sido em desvios que mataram o goleiro Rui Patrício. O 3 a 3 levava a equipe adiante para pegar uma Croácia que tinha pinta de favorita. Mas, no final da prorrogação, sofrendo pressão terrível do time balcânico, Quaresma fez o gol da classificação para o duelo com a Polônia. Um jogo que começaria com gol de Lewandowski, mas que iria para nova prorrogação. E, desta vez, pênaltis. E o mesmo Ronaldo que furou quando teve a chance de definir com a bola rolando foi o que motivou os colegas a baterem e acertarem todas as cobranças na marca da cal. Se não dava na qualidade, ele ia como capitão e líder espiritual do time de Fernando Santos.

O choro de Cristiano Ronaldo, que deixou a final no 1º tempo
Na semifinal, ele foi tudo isso: capitão, artilheiro e dono do jogo. Com um gol e uma assistência, fez sua melhor partida na Eurocopa. Comandou os 2 a 0 sobre o País de Gales e chegou à decisão esfomeado por uma nova grande atuação e pelo título inédito. Até que a dividida com Payet o tirou cedo demais de combate. Chorou de tristeza e desespero, para depois chorar de alegria.

Cristiano Ronaldo não foi o craque da Euro, não jogou o que sabemos que é capaz, mas foi ainda assim o nome da competição, por tudo que representa e por tudo que este título significa para sua carreira. Porque, apesar de Rui Patrício, Pepe e Renato Sanches terem sido mais regulares, a pressão de vencer sempre caiu sobre ele. E, ao conseguir levar esse time a um título continental, ele deixa de ser "apenas" um cracaço para se tornar uma verdadeira lenda do futebol mundial. O único que conseguiu ganhar o título europeu de clubes e de seleções como protagonista em um mesmo ano. O maior artilheiro da história da Euro, ao lado de outra lenda, Michel Platini. Um dos pouquíssimos supercraques que conseguiram ganhar um título jogando por uma seleção que não pertence à elite do futebol mundial. Sua vibração hoje foi muito maior que em qualquer conquista obtida por ele pelo Real Madrid. Hoje foi o dia mais especial de sua carreira - um dia que começou triste, desesperador até, mas que terminou feliz como nenhum outro.

Mas a lenda não seria lenda se não tivesse outros tantos heróis juntos dela. Há anos se diz que Cristiano Ronaldo não conseguia ir longe com Portugal porque não tinha companhia à altura. Nesta Euro, os colegas foram tão bem que até ofuscaram o craque em outras partidas. Hoje, por exemplo, o zagueiro Pepe foi monstruoso. E o centroavante Éder, decisivo: antes de marcar o golaço que decidiu o torneio, já vinha muito bem no jogo, prendendo bola, fazendo pivô e dando um enorme trabalho aos defensores franceses. Mas Quaresma entrou bem de novo, Sanches foi impetuoso como sempre, João Mário prendeu bola com inteligência, Fontes exibiu a seriedade costumeira. Todos foram destaques.

O gol que decidiu a Euro: chute certeiro do reserva Éder
Afora ter passado por enormes provações durante toda a Eurocopa, Portugal superou com a vitória de hoje uma série de traumas também. O primeiro, e maior deles, foi o de 12 anos atrás: a derrota para a Grécia em Lisboa foi definitivamente sepultada no Stade de France. A França pagou o pato na mesma moeda: derrota de 1 a 0, em casa. Além disso, foi o primeiro título português de uma grande competição com sua seleção principal. Havia, ainda, um tabu de dez jogos sem vencer a França, uma eterna algoz lusitana. Não mais, depois de hoje.

França essa que carregava todo o favoritismo, mas decepcionou. Começou bem, mas não soube se impor diante de um adversário que jogava desfalcado de seu melhor jogador, e dentro de casa. Um adversário que terminou o jogo visivelmente mais inteiro fisicamente, mesmo tendo disputado três prorrogações ao longo da Eurocopa. Faltou Pogba, faltou Giroud, faltou Griezmann. Sobrou Sissoko: por ele talvez passe boa parte do futuro deste ótimo time. Uma equipe que ainda tem lenha para queimar no Mundial da Rússia, mas que hoje deixa seus torcedores mais que frustrados. A Euro segue na Península Ibérica, só um pouco mais a oeste.

Fotos: UEFA.

Comentários

Vine disse…
- Emocionante Portugal ganhar justamente sem o melhor jogador.
- Chutaço feliz do Éder, coroando a coragem do treinador, que não pensou apenas em defender.
- Triste pelo Griezmann ter perdido mais uma final.
- Onde anda Varane?
Vicente Fonseca disse…
Vine, o Varane sentiu uma lesão muscular séria no final de maio. O problema o tirou não só da Euro, mas também da final da Liga dos Campeões.