Tite na Seleção: uma escolha atrasada que resolve apenas parte do problema

Tite se despede como técnico mais vitorioso da história do Timão
Seis meses depois de assinar um manifesto pedindo a renúncia imediata de Marco Polo del Nero da presidência da CBF, o técnico Tite se reúne com o mesmo cartola e aceita comandar a Seleção Brasileira. Eis uma pergunta óbvia a ser feita em sua primeira entrevista coletiva no novo cargo: o que mudou num período tão curto de tempo? Porque em várias das vezes nas quais Dunga balançou no cargo, diretores do Corinthians mantinham convicção de que ele jamais aceitaria trabalhar com Del Nero justamente por conta de tudo o que envolve o ambiente na CBF.

Seja como for, esteja Tite revendo posições ou não, o fato é que ele é a última cartada da cartolagem que vem diminuindo o futebol brasileiro ano após ano. É um caso raro: a Seleção Brasileira, normalmente o objeto de desejo de qualquer treinador no mundo, precisa mais do seu novo técnico que ele propriamente dela. Claro, treinar o Brasil ainda é levar a carreira a um patamar superior, seja em que situação ela estiver. Mas Tite tinha tudo no Corinthians, especialmente a admiração e o respeito de uma imensa torcida que, com certeza, continuará a idolatrá-lo. Del Nero será obrigado a ceder em caso de exigências - a vinda de nomes de sua confiança, como Cléber Xavier e Edu Gaspar, é o primeiro sinal disso.

A escolha de Tite é um acerto óbvio, mas vem com dois anos de atraso. Nada surpreendente para uma confederação que faz mudanças necessárias em passos de tartaruga - como a diminuição dos estaduais, que terão 18 datas em 2017, em vez das 19 deste ano. Foi preciso que o Brasil desse fiasco em duas Copas América e perdesse nove preciosos pontos nas eliminatórias para que todos se dessem conta de que era ele, e não Dunga, o nome correto para levar a Seleção a uma tão necessária renovação. Talvez eles já soubessem disso, mas não tinham interesse que essa renovação acontecesse. Coloco "talvez" por uma questão de educação, claro.

Trazendo o melhor treinador brasileiro para comandar a Seleção, muito dificilmente ela não melhorará. Tite sabe lidar com escassez e com fartura; sabe montar equipes competitivas de diferentes maneiras; é um treinador alinhado com o que de mais moderno o futebol atual pensa e propõe. Por tudo isso, e por sua excelente gestão de grupo, ele deve levar o Brasil, como equipe, a um novo patamar até a Copa de 2018 - sim, pois com ele comandando as chances de a Seleção não ir ao Mundial da Rússia beiram o zero. Friso o "como equipe" porque colocá-lo no cargo só muda a ponta final de todo um processo de trabalho que, sabemos bem, precisa ser totalmente virado do avesso, o que não é o caso agora, uma escolha muito mais desesperada que pensada. Mas claro, é melhor ter um técnico com cabeça arejada no comando do Brasil que outro que seja conivente com o atraso.

Vale lembrar também que a ida de Tite para o Rio de Janeiro poderá alterar decisivamente os rumos do Campeonato Brasileiro. Com ele, o Corinthians vinha fazendo o milagre de manter um aproveitamento alto mesmo sem metade do time campeão no ano passado. Agora, o caminho para Palmeiras, Grêmio e Internacional na luta pelo título poderá ficar um pouco menos espinhoso. Aliás, Mano Menezes voltou da China na semana passada. Como o Corinthians oscila entre ele e Tite desde 2008, já surge um favorito para substituir Adenor Leonardo Bachi no Parque São Jorge. Ou não?

Foto: Daniel Augusto Jr./Corinthians.

Comentários

Lique disse…
ao fim do mandato do tite, depois da copa de 2018, serão 14 anos de comando gaúcho na seleção, desde 2001. a exceção foi o parreira de 2003 a 2006.
Vicente Fonseca disse…
E dez anos seguidos. Mas, tirando o Felipão em 2002, o Rio Grande tá devendo um trabalho realmente bom na Seleção. Vejamos se o Tite consegue.
Sancho disse…
O Dunga fez um bom trabalho entre 2007 e 2009. Assim como Parreira fizera entre 2003 e 2005. Chega a Copa, e cagam tudo. A situação da seleção foi exatamente o contrário dos ciclos de 91-94 e 99-2002.

Não consigo concordar com a redução dos estaduais. Me dói a cada vez.