O título do Leicester e de Claudio Ranieri é o que de mais humano o futebol já viu
Morgan comemora: gol de empate contra o United foi o do título |
Claro, tomar o exemplo do título do pequeno clube de East Midlands como padrão é um absurdo. Porque ele vai contra todos os prognósticos: nunca o poder de investimento de um clube de futebol foi tão importante em momento algum da história do esporte quanto de 20 ou 25 anos para cá. Livre do rebaixamento por milagre no ano passado, o Leicester é um dos clubes que menos recebe dinheiro da televisão na Inglaterra. Não fez contratações bombásticas, nada disso: seus protagonistas são um meia argelino de trajetória até então discreta, um atacante japonês que nem sempre é titular de sua seleção e um centroavante que até quatro anos atrás jogava a quarta divisão nacional.
E mais: os concorrentes do Leicester formam a liga mais competitiva do mundo. O calendário exaustivo dificulta a vida dos clubes ingleses em torneios continentais, mas a Premier League tem em Manchester United, Manchester City, Liverpool, Arsenal, Chelsea e Tottenham alguns dos 20 clubes que mais geram receita no mundo. Bem mais da metade dos 66 titulares destes seis times disputou a última Copa do Mundo. Há 20 anos o título nacional ficava com um deles (exceto o Tottenham, que amarga jejum de 55 anos).
O título do Leicester, por tudo isso, pode ser considerado o mais surpreendente dos tempos modernos do futebol. Ao contrário das conquistas de Copa do Brasil de clubes como Paulista e Santo André, do título europeu da Grécia ou da Libertadores pelo Once Caldas, se deu em uma competição de pontos corridos. Isso em uma época onde dinheiro e pontuação andam juntos, e em relação a um clube que jamais, nem nos tempos mais remotos, havia sido campeão nacional. É muito argumento junto, muita improbabilidade junta.
Ao visitar a mãe na Itália, Ranieri não viu jogo do título |
A trajetória deste time e a de seu comandante se confundem. Ranieri não ganhava nada de especial há 12 anos, e nunca tinha sido campeão nacional em lugar algum, mesmo dirigindo camisas mais pesadas. O Leicester, por sua vez, sequer sonhava que um dia poderia alcançar um título desta magnitude. Ranieri não viu o jogo do título: estava visitando sua mãe na Itália hoje à tarde, e estava voando até a Inglaterra durante a partida entre Chelsea e Tottenham. Mais um toque humano nessa história tão humana que, paradoxalmente, chega a beirar o sobrenatural.
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