Sem ar, sem goleiro, com vaga

No drama de La Paz, Maycon jogou de goleiro nos minutos finais
Apesar de todos os tropeços e os inúmeros problemas dentro e fora de campo que vem vivendo desde o ano passado, o São Paulo superou ontem dificuldades que o deixam mais forte para os mata-matas da Libertadores. Na altitude de La Paz, passou por cima de tudo: mesmo a 3.600 metros de altitude, quase sem oxigênio, foi buscar um empate com o Strongest após sair perdendo e suportou a pressão boliviana em todo interminável segundo tempo. A comemoração da classificação teve (rarefeitos) ares de título no altiplano.

E não foi exagero. A fase de grupos foi extremamente complicada, por erros do próprio São Paulo. Depois de perder em casa para este mesmo Strongest na estreia, sabia-se que a tarefa de seguir adiante não seria nada fácil. Foi preciso tirar quatro pontos do River Plate em Buenos Aires e segurar um empate heroico em La Paz. A fragilidade do rival também pesou: a equipe boliviana levou 6 a 0 do River e conseguiu a proeza de perder para o modesto Trujillanos, que conquistou três de seus míseros quatro pontos na chave vencendo o Strongest por 2 a 1 na Venezuela. Este resultado foi determinante para a classificação são-paulina, anulando os efeitos de outro péssimo placar anterior: o empate em 1 a 1 com os proprios venezuelanos, na 3ª rodada, fora de casa.

Jonathan Calleri, mais uma vez, foi o grande personagem da noite. Declarações de que não queria enfrentar o Boca nas oitavas soaram aos bolivianos como desprezo, como se a classificação são-paulina em La Paz fossem favas contadas. Mesmo provocado e hostilizado a noite toda, o artilheiro da Libertadores foi importantíssimo, mais uma vez, marcando o gol de empate no final do primeiro tempo. Após a partida, acabou expulso de forma injusta, pois nada parece ter feito, embora tenha sido alvo de uma confusão generalizada no gramado. O São Paulo vai recorrer junto à Conmebol para anular o cartão vermelho.

Os ares heroicos haviam já ganhado um contorno mítico minutos antes, após outra expulsão: a do goleiro Dênis, que levou a rara punição de dois amarelos por fazer cera. O zagueiro Maycon, melhor jogador em campo, foi para o gol e fez três ótimas intervenções: nenhuma tentativa de chute a gol dos bolivianos, mas interceptou cruzamentos com a segurança de quem certamente deve ir para debaixo das traves nos rachões das sextas-feiras no CT Barra Funda.

Diante do Toluca, o São Paulo enfrentará uma altitude que incomoda, mas bem mais branda. Jogará com muito mais confiança no México, após suportar a falta de ar boliviana. A questão é que agora o adversário joga muito mais bola. A Libertadores começa do zero, e nenhum brasileiro terá vida fácil.

Preocupação para domingo e quarta
A notícia mais preocupante da má quinta-feira que teve o Grêmio não é a derrota por 2 a 0 para o Juventude - embora ela preocupe e coloque em risco a equipe no Gauchão: é o novo caso de caxumba no elenco, desta vez da única peça realmente insubstituível, que é o zagueiro Geromel. Ele não jogará domingo, contra os caxienses, e, pior, no meio da semana que vem, diante do Rosario Central, na Arena.

A falta que ele fará ficou clara ontem: no Alfredo Jaconi, o Grêmio controlava a partida quando sofreu 1 a 0 num corte errado de Fred, uma saída atabalhoada de Marcelo Grohe e um leve desvio de Roberson para o gol. Uma nova falha do camisa 6, que subiu pouco na cobrança de escanteio, proporcionou a Klaus o 2 a 0. Bressan, com seu estilo sério, compromete bem menos, e por várias vezes salvou o companheiro de piorar as coisas. Contra o Juventude, as consequências do desajuste aéreo já foram graves. Diante do Rosario Central, de Marco Rubén, um dos três melhores centroavantes da América do Sul na atualidade, podem ser definitivas para o destino gremista na Libertadores.

Aliás: só agora, após um mês e quatro casos do tipo, é que o departamento médico do Grêmio notou que os jogadores precisam ser vacinados contra a doença?

Amanhã
Análise dos confrontos das oitavas de final da Libertadores e dos caminhos que o chaveamento indicará até a grande decisão.

Foto: Rubens Chiri/São Paulo.

Comentários

Anônimo disse…
Como o jogo com o Central será na quarta, é muito arriscado pôr os titulares que jogaram ontem no domingo. Por isso não entendi por que Walace e Maicon jogaram ontem, pelo menos um deles devia ter sido poupado.

Não deveria ser prioridade, mas meu receio é que ponham titulares para uma "jornada épica" domingo e cheguem ainda mais cansados na quarta. Pelo menos tem rodada de clássicos fim de semana no argentino, e o Central não deve poupar ninguém.

E que amadorismo nessa história da caxumba.

Tiago
Chico disse…
A direção gremista não conhece o significado da palavra planejamento.

O pior é jogar toda uma primeira fase com o time titular, e primeira liga também (torneio inútil), e depois, na fase decisiva, jogar time reserva.

Ontem nós vimos a diferença entre uma equipe que joga se poupando contra uma que quer ganhar.

Desde de o início da temporada estou pedindo por um zagueiro de verdade e agora sem Geromel. É foda!
Vicente Fonseca disse…
Acho que ontem era inevitável colocar alguns reservas, Chico. Não tem como fazer os caras jogarem 3 vezes em 5 dias (ou 4 em 8, contando o Central) e manter o nível. Mas aí concordo com o Tiago: tinha que ter havido uma melhor mescla de titulares e reservas (jogasse Edinho em vez de um entre Walace e Maicon, por exemplo).

Agora, domingo certamente haverá um desgaste maior que o previsto inicialmente. Mas realmente, o fato de o Central ter clássico dá uma amenizada na situação - pela postura deles, acredito inclusive que devem estar dando mais valor ao jogo com o Newell's que o contra o Grêmio, pois o maior objetivo deles é serem campeões argentinos agora, não tanto a Libertadores.

Essa de não terem contratado zagueiro de bom nível é FATO. O Geromel é absolutamente insubstituível. E sigo achando o Bressan mais seguro que o Fred.
Vicente Fonseca disse…
Quanto à Primeira Liga, temos uma discordância de tempos sobre a importância do torneio, mas vale lembrar que o Grêmio estreou com reservas diante do Avaí (o que impediu a classificação e um possível título bem alcançável) e um dos jogos, o Gre-Nal, valeu pelo Gauchão. Portanto, só contra o Coritiba os titulares jogaram uma vez a mais que o previsto na temporada. Não acho que ela tem prejudicado os planos ou causado cansaço pra mais agora.