O crime perfeito
Allione comemora: Palmeiras venceu, mas sofreu |
A imagem da etapa final é fortíssima, mas não dá para esquecer que o primeiro tempo foi cheio de méritos do Verdão. Dizíamos aqui que o Central tem mais time que o Palmeiras, e isso continua valendo. Mas a equipe paulista fez seus melhores 45 minutos na temporada na primeira parte do jogo de ontem. Sabedora do melhor toque de bola argentino, atuou com humildade, mesmo em casa. Marcou muito bem, bloqueou os avanços do conjunto visitante, não lhe dando espaços para criar nada. E, quando recuperava a bola, era muito mais intensa e perigosa.
O time de Rosário tinha quase 60% da posse da bola, mas as chances eram palmeirenses. Quase nunca trabalhadas, porém: a atuação discreta de Robinho tornava a velocidade de Dudu e Gabriel Jesus as melhores opções. O gol surgiu assim, de Dudu para Gabriel, e depois completado na raça de Cristaldo - ele não pode oferecer muito mais do que isso. Um gol arrancado na base da vontade, e nisso o Palmeiras sobrou em relação aos argentinos no primeiro tempo.
A etapa final, porém, foi completamente diferente, porque a postura dos comandados de Coudet foi diferente. Em vez de aceitar a marcação do Palmeiras e respeitar em demasia o time brasileiro, a equipe argentina decidiu fazer o que sabe de melhor: ocupou com personalidade o campo adversário e, na base da qualidade da troca de passes entre os volantes Musto e Colman e dos meias Cervi, Aguirre e Da Campo, começou a abrir espaços na defesa adversária. Há dez dias, no Campeonato Argentino, o River Plate passou por isso e cedeu o empate no que era uma vitória por 3 a 1. E como o Palmeiras é um time extremamente deficiente do ponto de vista defensivo, o segundo tempo foi um completo filme de terror.
Cada rebote era rosarino, o que trazia cada vez o Verdão para dentro de sua área. Com o atacante Herrera no lugar do zagueiro Burgos, os laterais viraram defensores num 3-4-3 extremamente agressivo. O Central chegou a ter, até 30 minutos do segundo tempo, quase 80% do tempo de posse de bola. Ela batia e voltava da área palmeirense o tempo todo. Inúmeras chances foram criadas, incluindo um pênalti desperdiçado por Marco Rubén - se o artilheiro estivesse em boa noite, o resultado teria sido bem diferente. Fernando Prass, cada vez mais devoto de São Marcos, pegou esta cobrança e fez outros tantos milagres.
Para piorar, Marcelo Oliveira mexeu mal. Como seu time não tinha qualquer chance de contra-ataque, não fazia mais sentido manter Dudu e Gabriel Jesus em campo. Um deles deveria ser imediatamente retirado para a entrada de Arouca ou Allione, jogadores que pudessem reter um pouco mais a bola, o que seguraria a pressão. Arouca substituiu Thiago Santos em um seis por meia dúzia, Rafael Marques e Cristaldo foi mais ou menos o mesmo, e Allione por Robinho também. No fim, o gol de Allione passará a impressão de que foi tudo estratégico; na verdade, foi um grande golpe sorte do até ontem ameaçadíssimo técnico palmeirense, que tomou um baile tático de seu colega argentino quando os dois tiveram de tomar decisões capazes de mudar os rumos da partida. Essa sim, foi a grande injustiça da noite.
O Central fez por merecer ao menos um empate, mas foi castigado pelos excessivos erros de conclusão. Larrondo, companheiro perfeito de Rubén, fez bastante falta ontem no ataque, assim como a firmeza de Donatti lá atrás dificilmente permitiria o gol de insistência de Cristaldo no primeiro tempo. Apesar do grande volume, porém, não para negar que o time argentino decepciona na Libertadores: fez uma estreia abaixo de sua média contra o Nacional em casa e perdeu para o Palmeiras por conta de muitos erros. Precisa fazer ao menos quatro pontos contra o River uruguaio para voltar à briga. Bola este time tem para jogar muito mais do que isso - e para errar bem menos.
Quanto ao Palmeiras, valeu pelo resultado, o que não é pouco. Mas há muito o que corrigir. Apesar do gol e da raça, Cristaldo não é jogador para ser titular de quem quer ir longe numa Libertadores. Robinho, que é quem pensa no meio, esteve abaixo do seu nível de participação habitual. A precipitação de Dudu matou várias chances de contra-ataque, o que ajudou a aumentar a pressão platina. A forma como a equipe aceitou a pressão é extremamente preocupante. E nada disso pode ser encoberto por conta do resultado, se o objetivo é mesmo o de fazer grande campanha.
Foi um crime, mas um crime perfeito. Pois abateu uma vítima poderosa, e o que foi obtido é de altíssimo valor. Foi tão perfeito que, ao menos no segundo tempo, não deixou nenhum vestígio (de futebol). Mas isso aí é outro problema.
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Copa Libertadores da América 2016 - 1ª fase - Grupo 2 - 2ª rodada
3/março/2016
PALMEIRAS 2 x ROSARIO CENTRAL 0
Local: Allianz Parque, São Paulo (SP)
Árbitro: Enrique Cáceres (PAR)
Público: 36.100
Renda: R$ 2.450.240,50
Gols: Cristaldo 24 do 1º; Allione 48 do 2º
Cartão amarelo: Thiago Santos, Robinho, Allione, Gabriel Jesus e Burgos
PALMEIRAS: Fernando Prass (8,5), Lucas (5), Thiago Martins (5,5), Vítor Hugo (5) e Zé Roberto (5,5); Thiago Santos (6,5) (Arouca, 21 do 2º - 5,5), Jean (6) e Dudu (5,5); Robinho (5,5) (Allione, 38 do 2º - 6,5), Cristaldo (6,5) (Rafael Marques, 27 do 2º - 6) e Gabriel Jesus (6). Técnico: Marcelo Oliveira
ROSARIO CENTRAL: Sosa (5), Salazar (5), Burgos (4,5) (Herrera, intervalo - 6), Pinola (5,5) e Álvarez (5,5); Musto (6), Colman (6,5) (Protti, 41 do 2º - sem nota), Da Campo (6) (Lo Celso, 20 do 2º - 5,5), Cervi (6,5) e Aguirre (6); Rubén (4,5). Técnico: Eduardo Coudet
Foto: César Greco/Palmeiras.
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