O Brasil passará seis meses fora até da repescagem. Vai ter Copa em 2018?

Daniel Alves falhou no segundo gol, mas salvou Brasil no fim
Fiz esse questionamento logo após o 7 a 1. Diante de inúmeros problemas internos, técnicos e psicológicos, e tendo de enfrentar uma eliminatória que tinha tudo para ser duríssima, a seleção brasileira corria o maior risco de sua história de ficar fora de uma Copa do Mundo pela primeira vez em 2018. Passado um terço do caminho nas eliminatórias, o que se vê é pouco animador e muito preocupante: em seis partidas, o Brasil só venceu as duas barbadas (Venezuela e Peru em casa). Está atrás de Uruguai, Equador, Argentina, Colômbia e Chile - ou seja, fora até da repescagem. E o pior? não dá para dizer que seu desempenho tenha convencido nenhuma vez até agora, nem que haja qualquer perspectiva real de melhora neste aspecto.

Mesmo que não tenha terminado em derrota, a partida de ontem, contra o Paraguai, foi a mais preocupante de todas. O terror de ter passado quase a noite toda na ridícula 7ª colocação, com a perspectiva de enfrentar a altitude de Quito na sequência, foi o de menos. Na verdade, só o pano de fundo para um cenário desolador dentro de campo. A Seleção de Dunga é engessada e espaçada - diante do Uruguai já vimos isso. Diante de um rival tecnicamente fraco, e sem nenhum meia criativo, desperdiçou a possibilidade de contar com a criatividade de Lucas Lima ou Philippe Coutinho para entrar em campo com dois volantes que pouco contribuem na criação de jogadas. Isolou Renato Augusto na armação, deixando-o sempre longe dos dois pontas e do centroavante.

Com um meio lento, sem saída qualificada e com jogadores distantes um do outro, o Brasil conseguiu a proeza de rivalizar com o modesto time paraguaio no primeiro tempo. Isso que a equipe de Ramón Díaz tinha basicamente apenas uma jogada: balão de trás procurando os pontas Benítez e González e cruzamento deles buscando os finalizadores Lezcano e Santa Cruz. Antes do primeiro gol, três outras tentativas surgiram assim, sempre às costas dos laterais Daniel Alves e Filipe Luís. Nada foi feito pelo técnico brasileiro para mudar essa situação tão banal quanto real.

Inimigo da posse de bola e da criatividade, Dunga voltou do intervalo abrindo o time, mas de forma equivocada, apostando em mais força física com Hulk no lugar de Fernandinho, este sim bem sacado. A tão necessária entrada de um meia que pensasse mais o jogo só veio na metade do segundo tempo, com Lucas Lima, que errou bastante, mas melhorou o time mesmo assim. De todo modo, o empate veio muito mais pela pesada camisa pentacampeã e pelo ímpeto individual dos atletas que por uma suposta melhora tática da seleção, ou um grande acerto de Dunga em substituições mais que obrigatórias e óbvias.

Isso olhando pelo lado brasileiro, claro. Na verdade, a principal razão de todas para o 2 a 2 de hoje foi a mesma do 2 a 2 de quinta, em Quito: fraco, o Paraguai recuou demais e chamou o Brasil para a pressão. A postura foi tão covarde que conseguiu a proeza de fazer Dunga abrir de suas teimosias (mais sólidas que cláusulas pétreas da Constituição Federal) e deixar só Renato Augusto como marcador no meio nos 20 minutos finais. Não era necessário ter mesmo sequer um volante neste período do jogo. Assim como jamais foi necessário ter dois marcadores que se limitassem a isso no começo da partida.

O aproveitamento brasileiro atual, de 50,0%, é normalmente suficiente para levar uma equipe ao menos até a repescagem. No caso desta eliminatória, porém, não está servindo para isso, e o motivo é simples: na América do Sul, há sete seleções brigando por estas cinco vagas, enquanto três são verdadeiros sacos de pancadas. Quem perder ponto para Bolívia, Peru e Venezuela ficará para trás. A tabela é clara: a diferença do 7º para o 8º colocado (Paraguai e Peru, respectivamente) é de cinco pontos, maior que a do 1º (Uruguai) para o 7º. Será preciso pontuar mais do que o normal para que a vaga ao Mundial da Rússia venha. Ou seja: o Brasil precisa melhorar não só seu futebol, mas também seus resultados. E o quanto antes.

Com Copa América e Jogos Olímpicos pela frente, Dunga (será mesmo que ele fica?) terá seis meses para deixar o Brasil mais leve e qualificado tecnicamente. A questão é que, conhecendo seu trabalho, isso dificilmente ocorrerá, por conta de seus conceitos como treinador. Não estou falando naquele velho papo de fazer a seleção jogar como antigamente, um futebol artístico, que particularmente abomino; estou falando em equilibrá-la. O que menos se vê no Brasil de hoje é equilíbrio. É a seleção mais fechada dentre as candidatas sul-americanas a uma vaga na Copa - o próprio Paraguai, bem mais fraco, tem com Ortigoza uma saída de bola no meio tecnicamente superior. A colocação de dois cabeças de área que basicamente marcam é ultrapassada e trava a seleção - e um time travado é algo tão maléfico quanto um faceiro demais.

Serão seis meses sem jogos, mas ainda assim decisivos. E tensos, pois, com o Brasil fora da zona de classificação, está bem claro que os temores quanto a uma possível ausência em 2018 não eram por puro pessimismo.

Foto: APF/Divulgação.

Comentários

Chico disse…
Ontem vimos a diferença entre Paraguai e Uruguai.
Vicente, o profeta.