Num clássico pegado e equilibrado, a atuação dos goleiros desequilibrou em favor do Cruzeiro

Fábio teve atuação de gala na vitória do Cruzeiro: 1 a 0
Os inúmeros títulos conquistados de lado a lado e os vários clássicos decisivos disputados nos últimos anos acirrou a rivalidade entre Atlético Mineiro e Cruzeiro ao patamar de, provavelmente, a mais acirrada do país atualmente. Ontem, no primeiro capítulo do grande duelo de BH em 2016, já vimos que não foi a pré-temporada que diminuiu o ímpeto dos eternos rivais: eram 30 segundos de jogo e cada lado já tinha um jogador amarelado. Era a prévia de um clássico pegado, parelho, com muitas faltas, algumas entradas maldosas, muitas provocações e uma vitória cruzeirense que passou, principalmente, pela ótima atuação de seu goleiro em comparação com a fraca jornada do arqueiro atleticano.

Não que seja uma novidade Fábio salvar a pele do Cruzeiro. Em quase 700 partidas, ele já fez isso inúmeras vezes. Mas quando ele fecha o gol num clássico, há um sabor sempre especial. Já se passaram nove anos daquela fatídica goleada de 4 a 0 na qual ele tomou um gol bizarro estando de costas para o campo na final do Campeonato Mineiro, mas ainda há cruzeirenses que torcem o nariz para Fábio justamente por conta daquele episódio tragicômico. Ontem, porém (como em dezenas de outras oportunidades), sua atuação heroica teve ares de epopeia.

Sua série de grandes defesas começou aos oito minutos, em uma falta batida por Marcos Rocha no ângulo, que ele foi lá e buscou. Contra Robinho, foram três defesas, todas fundamentais: uma com o pé, cara a cara, no primeiro tempo; a outra, aos 24 da etapa final, a melhor de todas, pegando no chão um cabeceio violento e para baixo; e a última aos 46, já nos acréscimos, em chute buscando o canto, dentro da área, com vários jogadores lhe tapando a visão. Uma atuação enorme de um jogador que se torna enorme em jogos de tamanho enorme.

A comparação com seu colega atleticano é que, no fim das contas, decidiu o jogo. Com Victor lesionado, o jovem Uílson, 21 anos, ainda não passa confiança à torcida do Galo, tanto que a diretoria sonda o veterano Lauro, ex-Inter, atualmente no Lajeadense. Uílson falhou ao catar borboleta em uma falta lateral que só não resultou em gol porque Carlos César tirou de voleio em cima da linha, e bateu roupa no chute fraco de Élber completado por Rafael Silva para o fundo do gol. Gol que já entra para a história do clássico, pela provocação do atacante cruzeirense, estreante no duelo mineiro, ao imitar uma galinha em pleno Independência lotado de atleticanos.

Rafael Silva provoca o Atlético, para delírio dos companheiros
Apesar de tudo isso, falar que o Cruzeiro só venceu por causa dos goleiros é injusto. O time de Deivid soube controlar o ímpeto do Atlético, algo sempre complicado. Passado o susto inicial, controlou o primeiro tempo com uma bela atuação do argentino Cabral no meio e dos lisos ponteiros Élber e Allano às costas dos laterais rivais. Na etapa final, soube sofrer quando tomou pressão e matou o jogo quando teve a chance, jogando no erro do adversário. Ainda assim, o placar foi duro com o Galo, que era melhor e parecia mais perto do gol quando sofreu o 1 a 0.

A vitória ajuda o trabalho de Deivid a se afirmar na Toca da Raposa. É verdade que o Cruzeiro tem só o estadual para se preocupar agora, mas o lidera com folga e, agora, com vitória fora de casa sobre o grande rival. Ainda tem algumas carências de elenco (na lateral esquerda, o ótimo volante Sánchez Miño precisou atuar improvisado, por exemplo), mas, sendo bem treinado e ajustado, como foi ontem, pode fazer uma boa temporada. Ao Galo, a questão é saber como lidar com a derrota inesperada no clássico. Não deve atrapalhar a boa trajetória na Libertadores, mas as consequências de resultados assim nos estaduais às vezes tomam proporções descabidas. Exemplos no futebol brasileiro não faltam.

Fotos: Washington Alves/Light Press/Cruzeiro.

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