Mais que o gol no fim, a consciência dos problemas

Lincoln contra Mussis: gol no fim mantém Grêmio vivo na Libertadores
Além do resultado, o melhor que aconteceu para o Grêmio na noite de hoje foi o reconhecimento de quase todos sobre aquilo que que foi o jogo. Em vez de discursos inflamados, exaltando imortalidades e afins, tanto o técnico Roger Machado quanto jogadores e dirigentes demonstraram consciência de que o futebol apresentado pela equipe no Nuevo Gasómetro foi menos que insuficiente - beirou o horroroso em diversos momentos. E que o empate em 1 a 1, embora ótimo, foi achado, bem mais que conquistado.

É preciso colocar em perspectiva que o jogo começou com a dificuldade adicional do pênalti logo aos dois minutos. Uma circunstância, porém, criada pelo próprio Grêmio, a partir da chegada intempestiva e precipitada de Marcelo Oliveira em Belluschi dentro da área. Um jogo que sabidamente seria complicado começava com um gol sofrido logo de cara e a obrigação de uma mudança da estratégia pensada durante a semana inteira.

O Grêmio deu a impressão de que reagiria. Foi para cima com atitude, empilhou chances nos primeiros 15 minutos e acuou o San Lorenzo. A reação, porém, durou pouco. Logo a equipe argentina retomou o controle das ações, com Ortigoza controlando a meia-cancha com sua categoria habitual. O primeiro milagre de Marcelo Grohe veio aos 19, cara a cara com Cauteruccio. Ele faria outros três no primeiro tempo, fora uma tirada de Geromel em cima da linha (mais uma).

O Grêmio, por sua vez, penava para criar. Douglas, em vez de assumir a meia-cancha como devia, mais tentava jogadas de efeito que tocar a criação. Giuliano, pela direita, fez má jornada, sempre controlado por Más. Já Maicon, pela segunda vez seguida, foi mal fora de casa, dispersivo, desatento e comprometedor (quase entregou um gol ao não afastar uma bola de forma séria, tentando um inconsequente e absurdo chapéu quando era o último homem). Luan e Everton eram os dois que, quando combinados, criavam alguma coisa. Porque mudavam de posição, saíam da previsibilidade que vitima o time de Roger em 2016.

Se o Grêmio torcia para o intervalo vir logo, o segundo tempo não trouxe qualquer melhora. Apenas o San Lorenzo começou com menos ímpeto, mas o Tricolor seguia inócuo ofensivamente. Roger mexeu certo: retirou os apagados Giuliano e Douglas e colocou Bobô, em boa fase e necessária referência, e Lincoln, tão pedido pelos torcedores pela boa fase que vive. Só que as trocas não melhoraram em nada a produção da equipe, que não tinha saída pelos lados e era nula pelo centro do campo, sem ultrapassagens ou qualquer tipo de dinâmica. E a entrada de Romagnoli no lugar de Blanco deu um refinamento ainda maior ao superior meio-campo argentino.

A etapa final foi menos desastrosa que a primeira em termos defensivos, mas a atuação foi tecnicamente ainda mais constrangedora. O Grêmio não criou nada, não conseguia trocar dois passes com qualidade. O que mais irritava era que, visivelmente, com um pouco mais de criatividade o empate seria possível, já que o time de Pablo Guede é vulnerável atrás, com apenas Mussis marcando à frente da área. Aí, faltou ao San Lorenzo mais atitude para definir a partida. Mesmo com Marcelo Grohe em noite mágica, o time de Boedo forçou menos do que poderia no segundo tempo. Belluschi participou menos do que devia, principalmente após o ingresso de Romagnoli. Os laterais subiram menos do que o time precisava para definir a parada. O time de Guede confiou na vantagem mínima e na inoperância gremista, mas acabou punido com um cruel gol de empate aos 44 minutos.

O empate deixa o San Lorenzo praticamente fora da Libertadores. Se não vencer o Toluca fora de casa, o time argentino dará oficialmente adeus na fase de grupos pelo segundo ano seguido. Por isso, e pelo ponto obtido diante de uma atuação fraquíssima, o empate é espetacular para o Grêmio. A equipe se mantém viva, provavelmente entrará na penúltima rodada ainda como vice-líder e, o principal, terá agora 28 dias para corrigir seus erros. Eles são muitos (time previsível na frente e vulnerável atrás), mas Roger terá tempo para consertá-los. A Libertadores para na hora certa, e com uma situação de tabela ainda favorável para o Tricolor Gaúcho.

Copa Libertadores da América 2016 - 1ª fase - Grupo 6 - 4ª rodada
15/março/2016
SAN LORENZO 1 x GRÊMIO 1
Local: Nuevo Gasómetro, Buenos Aires (ARG)
Árbitro: Andrés Cunha (URU)
Público: 27.000
Gols: Ortigoza (pênalti) 3 do 1º; Lincoln 44 do 2º
Cartão amarelo: Ortigoza, Marcelo Oliveira e Maicon
SAN LORENZO: Torrico (5,5), Buffarini (6), Angeleri (5,5), Caruzzo (5,5) e Más (6); Mussis (6,5) (Blandi, 45 do 2º - sem nota), Ortigoza (7) e Belluschi (6); Cerutti (6), Cauteruccio (5) (Matos, 28 do 2º - 5) e Blanco (5,5) (Romagnoli, 15 do 2º - 6). Técnico: Pablo Guede
GRÊMIO: Marcelo Grohe (9), Ramiro (5,5), Geromel (6), Fred (5,5) e Marcelo Oliveira (4,5); Edinho (5), Maicon (4), Giuliano (4,5) (Lincoln, 19 do 2º - 6) e Douglas (4) (Bobô, 19 do 2º - 5); Luan (5) (Pedro Rocha, 31 do 2º - sem nota) e Everton (6). Técnico: Roger Machado

Foto: Lucas Uebel/Grêmio.

Comentários

Fizeram bem em não falar, mas eu estou liberado:

DÁ-LHES, GRÊMIO! COPEIRO, PELEADOR, IMORTAL!!! CHORA, SECADOOOOOORRRR!!!!!!

:-)
Lique disse…
como é difícil achar lateral que seja bom na frente e atrás. problema eterno do grêmio. é sempre onde vaza. laterais e centroavantes.
Vicente Fonseca disse…
Hahah, boa, Sancho!

Será que é só do Grêmio, Lique? Segundo a Bola de Prata, tivemos os melhores laterais esquerdos dos Brasileiros de 2013 e 2014, além do melhor direito de 2015. Acho que é um problema geral do Brasil a lateral.

Ontem, o Marcelo Oliveira foi muito mal, a começar pelo pênalti, mas acho que em geral ele tem sido mais vitimado pela falta de auxílio ali (o Everton vem bem, mas não ajuda neste sentido) que por problemas técnicos em si.

Agora, se a gente for comparar com os laterais do San Lorenzo, realmente, ficaremos pra trás (os laterais de River e Racing também são superiores aos nossos). Por isso, acho que é problema geral do futebol brasileiro. Talvez só o Atlético-MG esteja realmente bem servido dos dois lados, e olha que o Marcos Rocha foi comprometedor semana passada contra o Colo-Colo.
Lique disse…
Sim, lateral é um problema crônico do futebol brasileiro (talvez mundial). Os poucos que aparecem, são levados embora antes dos 20 anos. Mas a impressão que tenho é que se encontra meia, atacante, volante, até goleiro nas categorias de base. Lateral é FODA. Mesmo os que deram certo no Grêmio vieram de outras bases. Na real hoje nem dá para saber, metade dos jogadores de categoria de base já vêm trazidos de outros estados ou até do interior.
Vicente Fonseca disse…
Bom, isso é verdade. Acho que um critério razoável pra dizer se é "da base" é se o cara se profissionalizou pelo clube. Neste caso, acho que o Mário Fernandes foi o último lateral de alto nível formado pelo Grêmio (e como zagueiro). Esse Raul tem ferramenta, vamos ver se dá alguma coisa.
Chico disse…
Milagre em Buenos Aires.

Grohe, Geromel e Lincoln salvaram a noite Tricolor.

E quando o secador pensou que ia dormir bem...