Contra a organização, a estrela de Levir

Colocado em campo por Levir Culpi, Gum evitou derrota do Flu no último lance do clássico
Sem o mesmo tempo de trabalho de Ricardo Gomes à frente do Botafogo, Levir Culpi se vira como pode no seu começo de jornada nas Laranjeiras. Hoje ficou clara a diferença de nível de formação entre as duas equipes: mais consolidado, o time alvinegro foi melhor no clássico em Volta Redonda na maior parte do tempo. O Fluminense conseguiu igualar apenas na base da motivação - e na estrela de seu novo técnico.

Mesmo mais modesto tecnicamente, o Botafogo em geral foi melhor devido à sua maior organização. O trabalho de Ricardo Gomes não é brilhante, mas está consolidado. Assim, peças modestas como o volante Aírton (ex-Flamengo e Internacional) conseguem se desprender de suas funções básicas e passam a executar tarefas mais complexas, que exigem treinamento e confiança. O centromédio fez uma partida irreconhecível para seus padrões: em vez de apenas quebrar a bola, acertou passes infiltrados, fez boas arrancadas e participou de lances de ataque com boa qualidade.

Comandado pelo uruguaio Juan Salgueiro, algoz do Fluminense na Libertadores de 2013 vestindo a camisa do Olimpia, o Botafogo teve mais criação no primeiro tempo. Jogou no campo tricolor e obrigou o time de Levir a apelar para chutões na maior parte da etapa inicial. Sem Fred, faltou referência ao ataque, como sempre. Para piorar, Diego Souza foi nulo: omitiu-se de ser o protagonista que deveria ser e raramente veio buscar a bola junto aos volantes, o que poderia ajudar o time da pressão. Não é à toa que a entrada de Gérson em seu lugar, no segundo tempo, melhorou este setor do time.

Melhor em campo, o Botafogo abriu o placar num gol quase que ocasional de Ribamar. Não totalmente ocasional porque a jogada foi muito bem tramada, com lançamento perfeito de Salgueiro, infiltração de Aírton como ponta (!) e arremate cruzado de Gegê, que desviou no companheiro e entrou. Levir não demorou a mexer: além da troca de Diego Souza por Gérson, fez outra aparentemente estranha, retirando o amarelado Renato Chaves e investindo no eterno Gum para a zaga. Time que está perdendo troca zagueiro desde quando?

Mesmo após a mexida, e mesmo já sem Salgueiro em campo, o Botafogo seguiu melhor, mais consciente e organizado. Só passou a recuar a partir dos 35 minutos, quando o Fluminense veio para o abafa final. Ainda assim, poucas chegadas realmente levavam perigo. Numa delas, aos 37, Cícero entrou livre, mas dividiu com Jefferson e perdeu. O Fogão parecia realmente perto de vencer seu segundo clássico seguido em 2016 contra o rival.

Até que uma cena que se repete há sete anos voltou a ocorrer: no último lance do jogo, Gum subiu mais que Émerson (zagueiro destaque da partida) e cutucou de cabeça no canto de Jefferson. Justo ele, o substituto que ninguém entendeu; o zagueiro que por várias vezes teve seu ciclo nas Laranjeiras dado por encerrado; ele, que salvou o Flu tantas vezes com gols salvadores, estava lá para empatar aos 47:45 da etapa complementar.

O gol dá uma tranquilidade um pouco maior para Levir pensar a semana de Fla-Flu. Começar na fase decisiva do Campeonato Carioca perdendo clássico, e tendo de enfrentar outro na sequência, seria dureza. O pontinho obtido no fim para o invicto time de Ricardo Gomes tem boa importância.

Em tempo:
- Apesar do jogo corrido e nada monótono, Botafogo e Fluminense terão de evoluir bastante se não quiserem entrar no Brasileirão apenas para não serem rebaixados. O nível técnico do jogo de hoje foi bem baixo, mesmo em comparação com os outros clássicos nacionais pouco brilhantes que temos visto neste começo de temporada.

- Cinco mil pessoas, estádio pequeno e semivazio, goleiro tendo de usar camiseta com esparadrapo para fingir que é o número 1... Muito charmoso o Cariocão.

Ficha técnica
Campeonato Carioca 2016 - Taça Guanabara - 1ª rodada
13/março/2016
FLUMINENSE 1 x BOTAFOGO 1
Local: Raulino de Oliveira, Volta Redonda (RJ)
Árbitro: Péricles Cortez (RJ)
Público: 5.390
Renda: R$ 106.560,00
Gols: Ribamar 3 e Gum 47 do 2º
Cartão amarelo: Renato Chaves, Marlon, Giovanni, Carli, Bruno Silva e Aírton
FLUMINENSE: Diego Cavalieri (5,5), Wellington Silva (4,5), Renato Chaves (5) (Gum, 9 do 2º - 6,5), Marlon (5) e Giovanni (4,5); Edson (5) (Felipe Amorim, 27 do 2º - 5), Cícero (5,5), Diego Souza (4,5) (Gérson, 9 do 2º - 5,5) e Gustavo Scarpa (5,5); Osvaldo (4,5) e Marcos Júnior (4,5). Técnico: Levir Culpi
BOTAFOGO: Jefferson (6), Luís Ricardo (6), Carli (6), Émerson (6,5) e Diogo Barbosa (5,5); Aírton (6,5), Rodrigo Lindoso (5,5), Bruno Silva (5,5) (Fernandes, 44 do 2º - sem nota) e Salgueiro (6,5) (Neílton, 17 do 2º - 5); Ribamar (5,5) e Gegê (6). Técnico: Ricardo Gomes

Foto: Mailson Santana/Fluminense.

Comentários

Vale lembrar que os times cariocas jogaram 7 partidas apenas para definir os 8 times que disputam a segunda fase. O campeonato, mesmo, só começa agora. Pergunto: para que ter os grandes nessa primeira fase?
Vicente Fonseca disse…
Pois é uma ótima pergunta. O estadual do Rio, se começasse agora, teria um formato próximo do perfeito, na minha opinião. Poucas datas, muitos clássicos. Aquela primeira fase era totalmente desnecessária (poderiam jogar os 12 pequenos e 4 passariam pro octogonal, por exemplo).