Centroavante, confiança, banco e saldo

Maicon comemora o golaço: bela vitória e fim do sufoco
Para quem estreou tão mal na Libertadores, o Grêmio foi do inferno ao céu em apenas duas semanas - isso para quem só vê as coisas a curtíssimo prazo, claro. Seguindo seu começo irregular na temporada, o Tricolor em nada se pareceu com o time apático que foi abatido por dez homens em Toluca. Aplicou impiedosos 4 a 0 na LDU, se recuperou com sobras no grupo da morte e levou sua torcida do desânimo completo (um exagero) à total euforia pela atuação de hoje (outro exagero) - ambos sentimentos absolutamente normais, diga-se de passagem.

Dizíamos na prévia do jogo que era importante o gol cedo. E ele foi fundamental mesmo. O primeiro Grêmio da noite foi o Grêmio do Padrão Roger: muita agressividade e toques rápidos. Temia-se que Miller Bolaños centralizado fosse tirar Luan de perto da área, mas isso não aconteceu: inteligente e forte, o equatoriano sempre reteve a bola na frente e colocou seus companheiros em jogo, seja Luan pela esquerda ou Giuliano pela direita. Foi numa recuperação na raça de Giuliano que surgiu o golaço de Maicon, após tabela com Luan dentro da área.

Depois de 20 minutos avassaladores, o time gaúcho naturalmente diminuiu o ritmo. A fragilidade da marcação de Wallace Oliveira trazia arrepios à Arena, mas a LDU só chegou com perigo de fato em um rebote de Estupiñan, por cima do gol. Mais retraído, o Grêmio trocou poucos passes, mas se defendia melhor que no México (Marcelo Oliveira foi seguro, bem como Fred e Geromel) e atacava com verticalidade muito grande. Jogando no erro equatoriano, chegou ao segundo gol numa recuperação de Luan, que deu lindo passe para Miller deslocar Domínguez, totalmente fora de posição.

No segundo tempo, a expulsão precoce de Romero deixou o Tricolor em superioridade numérica. Mas, assim como em Toluca, o Grêmio não se impôs à LDU. Desta vez, porém, foi estratégia, e não incompetência: Roger voltou do vestiário, ainda com 11 contra 11, anunciando que faria esse jogo de resguardo. Manteve a ideia mesmo com um homem a mais, o que talvez não fosse do agrado de alguns, mas sem correr quaisquer riscos de sofrer desconto ou empate. No fim, com o sangue novo de Henrique Almeida e Everton, chegou a um 4 a 0 que foi até exagerado pelo que foi a partida.

Além da extraordinária goleada, a melhor notícia da noite foi Miller Bolaños. Inteligente, o equatoriano não precisou mais do que alguns poucos minutos para provar que será um enorme acréscimo ao time de Roger. Jogando centralizado ou alternando pelo lado, tem tudo para formar uma dupla infernal com Luan, outro que jogou muita bola. O Grêmio, que se ressentia de uma perda de mobilidade em 2015 quando algum centroavante começava jogando, agora parece pronto para jogar com um 9. Claro, Miller é tecnicamente superior a Bobô (a Braian Rodríguez chega a ser covardia comparar), e tem uma característica importantíssima: saber sair da área para tabelar, o que ajuda a manter a melhor característica do Grêmio de Roger, mas com um poder de fogo diferenciado. O melhor reforço possível, em suma.

Foi também a vitória da confiança, de um time que nem sempre se impunha em casa como tanto pedia seu torcedor, e hoje o fez com uma pressão típica dos tempos de Olímpico. O resultado recupera o moral de uma equipe que oscilou demais em fevereiro, e que há uma semana vivia quase uma crise após perder para o São Paulo-RS, em Rio Grande. Igualmente, um jogo em que o time mostrou opções interessantes de banco, com dois reservas entrando e marcando gol. Gols que dão saldo a um time que começou perdendo feio, em um grupo equilibradíssimo. Pode ser critério de desempate lá adiante.

Em tempo:
- Para noite com show dos Rolling Stones e muita chuva, a Arena recebeu ótimo público.

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Copa Libertadores da América 2016 - 1ª fase - Grupo 6 - 2ª rodada
2/março/2016
GRÊMIO 4 x LDU 0
Local: Arena do Grêmio, Porto Alegre (RS)
Árbitro: Jesús Valenzuela (VEN)
Público: 37.702
Renda: R$ 1.581.618,00
Gols: Maicon 11 e Miller Bolaños 36 do 1º; Henrique Almeida 37 e Everton 43 do 2º
Cartão amarelo: Geromel, Maicon e Norberto Araujo
Expulsão: Romero 1 do 2º
GRÊMIO: Marcelo Grohe (5,5), Wallace Oliveira (5) (Marcelo Hermes, 21 do 2º - 5,5), Geromel (6,5), Fred (6,5) e Marcelo Oliveira (6); Edinho (5,5), Maicon (7), Giuliano (6,5) e Douglas (6,5); Luan (7) (Henrique Almeida, 35 do 2º - 6,5) e Miller Bolaños (7) (Everton, 26 do 2º - 6,5). Técnico: Roger Machado
LDU: Domínguez (4), Quinteros (4,5) (Luis Bolaños, 26 do 2º - 4,5), Norberto Araujo (4,5), Romero (4) e Estupiñan (6); Benavídez (5,5), Hidalgo (4,5), Vera (5), Morales (5) e Alemán (5,5) (Puch, 27 do 2º - 5); Carlos Tenorio (5,5) (Padilla, 9 do 2º - 5). Técnico: Claudio Borghi

Foto: Lucas Uebel/Grêmio.

Comentários

Faraon disse…
Bah, eu achei algumas coisas bem preocupantes. A incapacidade do time trocar dois passes contra um time com 10; a má partida dos laterais; o Fred joga cravadão dentro da área, ruim de cobertura e zero antecipação. A ver.
Vicente Fonseca disse…
Acho sim que há o que melhorar, principalmente na questão do 11 contra 10. Mas notei na primeira metade do primeiro tempo a mesma troca rápida de passes que víamos no ano passado, além de marcação adiantada, o que rendeu, por exemplo, o gol do Miller.

Quanto aos laterais, acho que o Marcelo Oliveira foi bem, mas o Wallace, de novo, deixou a desejar. O Marcelo Hermes, por exemplo, foi superior. Quanto ao Fred, discordo. Acho que fez sua melhor partida, inclusive por cima (marcar o Tenorio não é fácil) e nas antecipações.

Mas em geral concordo contigo. Não dá pra ir ao céu como antes pro inferno, especialmente porque é começo de temporada (mesmo com entrosamento de 2015, isso pesa). A ver.
Vicente Fonseca disse…
Outra coisa: o Walace faz falta nesse meio de campo. A saída de bola é outra, bem mais rápida que com o Edinho. Isso pesa muito pro toque de bola do Grêmio ter sofrido um decréscimo de qualidade e velocidade. Ontem não pesou tanto porque Giuliano e Douglas fizeram seus melhores jogos no ano.

No mais, vejo tu concordando com MÁRIO SÉRGIO, que foi crítico em diversos pontos ontem, apesar da goleada. Nada mais justo.
Anônimo disse…
Concordo contigo, Vicente. O retorno do Walace vai dar outra dinâmica ao meio de campo do Grêmio. Não sei se é precipitado, mas talvez o Ramiro, quanto estiver 100%, tenha que tomar conta da lateral.

Um abraço,

Marcus Staffen
Vicente Fonseca disse…
A questão quanto ao Ramiro é se ele pode jogar ali. Até hoje, não vi lá grande contribuição dele nessa posição. Talvez há que se esperar um pouco mais o Wallace Oliveira dar resposta adequada. O certo é que o Galhardo vem fazendo falta.

Grande abraço, Marcus!
Chico disse…
O Tricolor mostrou quem é o dono da cidade e aplicou uma goleada impressionante.

Estréia magnífica de Miller. Luan e Douglas jogaram muito também.
Chico disse…
LDU sofreu a maior goleada nos últimos 6 anos de Libertadores.
Vicente Fonseca disse…
E foi a maior goleada gremista desde aqueles 4 a 0 no River, em 2002. Estávamos lá, Chicão!