Após o quinto empate em dez jogos, torcida do Inter começa a perder a paciência com Argel

Aylon luta contra a marcação: nova atuação fraca do Inter 
O trabalho de Argel Fucks nunca chegou a ser uma unanimidade entre os colorados. No ano passado, porém, havia uma maior boa-vontade. Ele chegou em meio a uma crise devastadora pós-eliminação na Libertadores e goleada sofrida em Gre-Nal, tirou a equipe da segunda metade da tabela e a colocou na briga pelo G-4 até o último minuto do Campeonato Brasileiro, fazendo do Internacional o segundo melhor time do returno. Números inegavelmente bons. A resistência que havia de muitos é a de que a equipe jogava normalmente menos do que podia, apesar dos resultados positivos.

Mas esse cenário começou a mudar. Desde ontem, pela primeira vez, vem sendo possível notar mais insatisfação do que contentamento dos torcedores com seu trabalho. E isso faz todo sentido: 2016 está chegando ao final de seus primeiros três meses, e o Inter segue sem evoluir como equipe. É que agora nem os resultados têm ajudado: o empate com o Lajeadense foi o quinto do time rubro em dez jogos no Campeonato Gaúcho - o atual pentacampeão estadual mais empatou que venceu num torneio de baixíssimo nível técnico, e ocupa a modesta 5ª colocação a apenas três rodadas do fim da primeira fase, atrás dos modestos Juventude, São José e São Paulo de Rio Grande. A comparação com o Grêmio também não ajuda: mesmo fazendo um começo de ano abaixo do esperado, o rival está cinco pontos à frente na classificação, e isso que jogou metade de suas partidas no estadual com reservas.

Há um argumento que ainda existe em defesa de Argel, desde o ano passado: os desfalques. O Inter não tem Valdívia até julho, Vitinho só retornou há duas semanas e pouquíssima gente foi contratada - o melhor deles, Marquinhos, é um jogador só médio. Assim, o treinador colorado se viu obrigado a lançar jovens em demasia, como Luiz Felipe Scolari ano passado no Grêmio: Aylon e Andrigo se juntam a nomes como Eduardo Sasha e Rodrigo Dourado, outros dois prata-da-casa que ganham ares de experientes ao lado dos colegas novatos. Tudo isso pesa, além da fragilidade geral do elenco, sem dúvida o mais modesto formado no Beira-Rio em um início de temporada desde 2004.

A questão, porém, é que não é pela juventude dos novos titulares, por sua inexperiência, que o Inter tem rendido tão pouco. Uma das marcas de Argel em 2015 foi tentar reabilitar o futebol de D'Alessandro, que começara bem a temporada, mas perdera o brilho. Aposta natural, mas que acabou não funcionando. Para 2016, a ideia de centralizar o time na figura do argentino era óbvia, devido às perdas de elenco e reposições baratas, mas arriscada, pois D'Ale há tempos não conseguia mais manter o nível que sabemos que tem. Sua saída ainda em janeiro só piorou as coisas: é certo que ele não correspondia em campo ao que ganhava todo mês, mas sua saída inegavelmente deixou Argel sem uma referência técnica no meio, o que complica ainda mais tudo na formação do Inter.

Rodrigo Dourado é uma das referências do elenco modesto
Ontem, contra o Lajeadense, os problemas de quase sempre se repetiram: um Colorado com extrema dificuldade de criação, lento e previsível com a bola nos pés e, também, vulnerável a contragolpes adversários. Em boa parte do segundo tempo, a equipe de Argel foi inferior ao time da casa, e poderia ter perdido. Já é o terceiro empate seguido no estadual. As chances de liderança são mínimas, e as de ter de jogar a partida única das quartas de final fora de casa é cada vez maior.

O que ainda mantém Argel com certa paciência dos torcedores é a Primeira Liga. Não que a campanha seja brilhante: o Colorado foi o pior líder, empatou em casa com o Coritiba, bateu o fraquíssimo time reserva do Avaí e, aí sim um mérito, segurou sua classificação na Arena contra o Grêmio, o único rival forte da primeira fase. Conseguiu isso porque jogou diferente do que tem feito nos demais confrontos: ficou fechado atrás e explorou a velocidade nos contra-ataques. É o contrário de 2015, quando, comandado por Argel, ia bem em casa, ao propor jogo, mas fracassava fora, quando tentava se resguardar. Em 2016, o Inter já empatou com o São Paulo de Rio Grande, perdeu para o Veranópolis e sofreu para ganhar do Passo Fundo no Beira-Rio. É muito pouco.

Quarta, em Brasília, contra o Fluminense, a tendência é jogo parecido com o Gre-Nal, já que o time gaúcho será visitante no Mané Garrincha. Uma classificação para a final do torneio é tudo o que o treinador rubro precisa para retomar a confiança dos torcedores que estão prestes a explodir com ele. Mas, se ela não vier, o que resta de tolerância deve começar a virar pressão de fato.

Fotos: Ricardo Duarte/Internacional

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