Ao mudar o esquema no intervalo, o Uruguai expôs a falta de variações táticas do Brasil
Entrada de Álvaro González deu ao Uruguai o domínio do jogo |
A história de que falo começa em função da capacidade de Óscar Tabarez de, numa mexida, reestruturar o que não vinha dando certo. Assim como naquele mundial, montou o Uruguai num 4-4-2 com duas linhas, abrindo os meias Carlos Sánchez e Cristián Rodríguez pelos lados. O objetivo era frustrar as triangulações dos pontas brasileiros com os laterais e volantes, robustecendo as beiradas. Não deu certo porque logo aos 40 segundos Douglas Costa já fazia 1 a 0, e numa falha do sistema celeste. Se ele estivesse correto, Willian jamais ficaria no mano a mano com o zagueiro Coates na lateral do campo.
Este sistema tem um problema que o Uruguai já mostrou recentemente na Copa das Confederações e na Copa do Mundo: a falta de criatividade no meio. Lodeiro e Arrascaeta são bons, mas ainda não conseguiram assumir o protagonismo da função como Forlán conseguia. Isso ficou escancarado ontem, com a equipe charrua sofrendo para agredir um Brasil que tomava conta do jogo. Tudo funcionava no time de Dunga: Neymar saía para buscar jogo como um ponta de lança, jamais foi centroavante fincado. Willian e Douglas Costa iam bem pelos lados, contando com o desprendimento e a boa atuação de Fernandinho e Renato Augusto.
Suárez, o melhor em campo, dominou David Luiz, o pior |
Aí, veio o deja-vu sul-africano. Primeiro, por Tabarez. Naquela Copa, ele escalou o esquema de ontem na estreia contra a França, e o Uruguai sofreu para criar. Na partida seguinte, mudou o modelo do meio-campo, formando um losango, com Forlán recuado na armação. Ontem tirou Cristian Rodríguez no intervalo e pôs Álvaro González, um triplo acerto: retirou um jogador que estava mal, robusteceu a marcação no meio e deu articulação e parceria à dupla de ataque, colocando o ótimo Carlos Sánchez na ligação. A dominação uruguaia foi tamanha na etapa final que, mesmo com o domínio brasileiro no primeiro tempo, o 2 a 2 soa injusto com a Celeste.
Pelo lado brasileiro, a sensação de "eu já vi isso antes" veio forte em relação ao jogo da eliminação daquela Copa, a fatídica virada sofrida diante da Holanda. O Brasil de Dunga é semelhante ao de 2010: um time com esquema já muito bem definido, mas que se abala diante de uma adversidade e, principalmente, sem qualquer variabilidade tática. Bastou Tabarez mexer no meio para a Seleção se perder em campo. Bastou uma adversidade, como aquele estranho primeiro gol holandês em Port Elizabeth.
O mais preocupante para o Brasil em relação ao jogo de ontem nem é o resultado em si, embora ele seja ruim. É justamente o fato de Dunga não ter aprendido nada de seis anos para cá. Segue sendo um treinador muito preocupado em achar um onze que lhe seja fiel e confiável e um esquema que funcione razoavelmente bem, mas que não pensa na possibilidade de algo acontecer fora do roteiro previsto. Esta limitação séria, ocorrida em 2010, se repetiu ontem: diante do domínio uruguaio nos minutos finais, seu time reagiu com nervosismo semelhante ao daquela partida contra os holandeses. Só não teve ninguém expulso.
Fotos: AUF/Divulgação.
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