Não existe uma hora boa para D'Alessandro sair do Inter. Mas, se existisse, seria mesmo agora

D'Alessandro se emociona na despedida do Beira-Rio
Racionalmente, a hora para D'Alessandro deixar o Internacional é exatamente esta. À beira dos 35 anos, custa caro demais para o clube, que não terá Libertadores para rechear os cofres em 2016. Seu 2015 foi pouquíssimo recomendável: atuou em menos da metade dos jogos do Inter, fez raros gols. Não decidiu jogos com sua normalmente venenosa bola parada, tem falado mais do que entrado em campo e perdeu o protagonismo técnico para nomes como Vitinho e Valdívia, que de fato obtiveram rendimento muito melhor nos últimos meses.

Mas isso racionalmente.

O problema é que D'Alessandro desperta em 99% dos torcedores colorados sentimentos fortes demais para uma análise fria das circunstâncias, aquela que dirigentes precisam adotar em situações como esta. Foram sete anos e meio de extrema intensidade: seis títulos estaduais em sete disputas, uma Copa Sul-Americana conquistada quatro meses após sua chegada ao Beira-Rio, uma Libertadores na qual teve participação irregular e uma Recopa, quando já era o dono do time de novo. Não bastasse tudo isso, um histórico em Gre-Nais absolutamente invejável: 13 vitórias, 9 empates e 5 derrotas em 27 jogos, um aproveitamento de 59,3%, além de oito gols marcados sobre o rival. Sem ele, no mesmo período, o Inter obteve apenas 45,5% em clássicos.

Os números que trazemos são uma mera tentativa de quantificar a importância de D'Ale para o torcedor colorado, evidenciando sua passagem vitoriosa com vários títulos, gols, assistências, provocações e vitórias em Gre-Nais. Mas nem isso é suficiente: em 2008, apesar de todo o seu cartaz, ele chegou precisando provar, após vários períodos de altos e baixos depois de deixar o River Plate. Nestes oito anos de Beira-Rio, claro, ele também alternou: um ótimo final de 2008 veio com um período de forte irregularidade entre 2009 e a metade de 2010; após o bi da Libertadores, viveu seu auge no Inter, fazendo um 2011 de alto nível.

No início de 2012, uma irrecusável proposta da China (quase como as que temos hoje) parecia levá-lo para o Oriente em seu melhor momento. Mas D'Alessandro recebeu aumento substancial de salário e decidiu ficar, o que levou a torcida a respeitá-lo e idolatrá-lo ainda mais. Seu ano, porém, foi ruim como seria 2015: menos da metade dos jogos disputados, poucos gols e muitas lesões. Terminou falando em "pular da barca", mas ficou. Para se redescobrir com Dunga e ser a única coisa boa do Inter em 2013, e uma das melhores do muito bom 2014 com Abel Braga.

Inter 4 a 1, 2008: o primeiro Gre-Nal em que ele destruiu
A hora para sair, já falávamos, é esta mesma. Um dos poucos pontos positivos do Internacional após a traumática eliminação para o Tigres foi a de, com Argel Fucks, se descobrir um time que não depende mais de D'Alessandro. O grande medo de todos no clube, principalmente os torcedores, era justamente saber como ficaria o time após sua saída (a "D'Aledependência", ganhou até nome), no dia em que ela ocorresse. Isso não existe mais, em parte porque Diego Aguirre e Argel encontraram soluções alternativas, mas em parte também porque o próprio argentino já não rendia como nos velhos tempos.

Sua marca, porém, ficará para sempre. Virou cidadão de honra de Porto Alegre, se tornou sinônimo de coloradismo. Ganhou o coração de metade do Rio Grande do Sul e jamais foi indiferente para a outra metade - normalmente com respeito no trato diário, mas, devido ao seu tom sanguíneo e provocador (muitas vezes inclusive exagerado), também com forte rejeição. Um homem que, enfim, deixou sua marca como poucos. E que terá, no River Plate, o encerramento de sua vitoriosa carreira no mesmo terreno no qual começou jogando.

D'Alessandro sai do Inter, mas o Inter nunca sairá dele. E o principal: D'Alessandro sai muito maior do que quando chegou ao Beira-Rio, e o Inter hoje é também um clube muito maior por causa dele. Para o torcedor colorado, isso tudo já deveria servir como um enorme consolo.

Fotos: Ricardo Duarte/Inter e Alexandre Lops/Inter.

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