Dez anos depois, Iniesta repete Ronaldinho e sai aplaudido em novo massacre do Barça em Madrid

Iniesta deixa Neymar livre: craque foi aplaudido pelos rivais
Nesta semana que antecedeu o superclássico espanhol, muito se relembrou um duelo entre Real Madrid e Barcelona que estava de aniversário: quinta-feira, completaram-se dez anos do histórico dia em que boa parte da torcida do Real Madrid presente ao Santiago Bernabéu aplaudiu Ronaldinho por sua magistral atuação na goleada catalã por 3 a 0. O que ninguém esperava é que a cena fosse repetir justamente dois dias depois, com Andrés Iniesta, em uma das maiores noites, dentre tantas, de sua carreira. E que a goleada seria ainda maior.

Sabia-se que o futebol pobre do time de Rafa Benítez um dia pagaria o preço. O que ninguém imaginava é que ele seria tão alto. O equilíbrio da tabela do Campeonato Espanhol sempre foi ilusório: apesar de começar a temporada de forma irregular, tomando goleadas de Atlético de Madrid e Celta, o Barça vem jogando muito mais que seu rival. Tanto que vem prescindindo de Messi para liderar a competição. E hoje ele entrou no segundo tempo, com o jogo já decidido. Não fez falta nenhuma, mais uma vez, o que já dá a dimensão do futebol absurdo apresentado pelo time de Luis Enrique.

Messi não faz falta porque Neymar e Suárez formam uma dupla impossível. A diferença é que no clássico Sergi Roberto também foi ótimo. E Iniesta, o melhor de todos: aparecia em todos os lados do campo, armando, desarmando, lançando, finalizando, ditando o ritmo do time. Como em dezembro de 2010, naqueles históricos 5 a 0 no Camp Nou, o Barça parecia jogar outro esporte: impôs um ritmo e um nível de atuação semelhante ao do auge daquela máquina de Pep Guardiola, enquanto o Real Madrid, treinado pelo atrasado Rafa Benítez, jogava como um time do século passado. Vem sendo assim o ano todo, aliás.

Por mais que muitos torçam o nariz, o fato é que Casemiro fez falta hoje ao Real Madrid. Ou, ao menos, a figura de alguém como ele, que se posta à frente da área, faz o limpa-trilhos e sai jogando com alto nível. Kroos e Modric são excepcionais, mas jamais se encontraram lado a lado, como primeiros homens do meio. Foram dominados por Iniesta e Rakitic e nunca conseguiram ligação com os apagados James, Bale, Ronaldo e Benzema. Como os laterais Marcelo e Danilo também não podiam apoiar muito devido à presença de Neymar e Sergi Roberto, o Barcelona ocupou o campo madrilenho o primeiro tempo todo. Fez 2 a 0 e poderia ter sido bem mais.

Tanto que no segundo tempo a contagem permaneceu sendo ampliada. É verdade que o time da casa voltou mais agressivo, mas foi só o ímpeto inicial. Em três minutos, foram três chances do Real, mais que as duas da primeira etapa inteira. Mas, aos sete, Iniesta fez o terceiro, uma pintura. Já era a terceira chance do Barça também no segundo tempo. O controle do jogo estava retomado e o 3 a 0 definia a parada. Tanto que foi aí que Luis Enrique resolveu colocar Messi, aos 11, sabendo que as coisas estavam resolvidas e os espaços seriam cada vez mais generosos.

O baile foi inapelável, mas também é preciso citar que o Real Madrid poderia ter feito ao menos um gol. Cristiano Ronaldo, por exemplo, parou duas vezes em Claudio Bravo, o goleiro chileno que esteve em grande noite. A calma dos catalães, porém, era muito maior: o quarto gol, novamente de Suárez, deixou isso claro. E se fosse Messi, e não Munir, que tivesse as duas chances frente a frente nos minutos finais, talvez estivéssemos falando de um 6 a 0 agora.

O Real Madrid de Rafa Benítez vem jogando pouco, mas, se tivesse entrado como gosta o seu técnico, talvez não tivesse sido goleado. O que se cobrava da equipe era justamente uma maior ofensividade: treinadores que abrem mão de suas convicções, por mais criticáveis que elas sejam, costumam colher resultados trágicos, e foi justamente o caso de hoje. Ao ceder às pressões de torcedores e imprensa e armar um time aberto demais, ele correu o risco de perder o controle do meio-campo e sair goleado. Não há problema em começar um meio por Kroos e Modric (pelo contrário, são dois craques), mas desde que se jogue assim sempre, e não se mude de uma hora para outra, ainda mais num clássico.

Do lado do Barça, uma noite inesquecível. Uma noite em que Sergi Roberto manteve o alto nível do time ao substituir simplesmente Lionel Messi, em que Neymar foi novamente imparável, em que Suárez jogou o absurdo de sempre, mas, acima de tudo, uma noite de Andrés Iniesta. Um brasileiro sair aplaudido pela torcida rival é algo menos difícil do que um espanhol extremamente identificado com o maior rival - mesmo que ele tenha sido o autor do gol do título mundial da Espanha. O Barcelona não sente falta de Messi, e hoje isso foi provado de uma vez por todas. Ninguém no mundo (nem o Bayern) vem jogando em nível tão alto. 
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Ficha técnica
Campeonato Espanhol 2015/16 - 12ª rodada
21/novembro/2015
REAL MADRID 0 x BARCELONA 4
Local: Santiago Bernabéu, Madrid (ESP)
Árbitro: David Fernández (ESP)
Público: 80.500
Gols: Suárez 10 e Neymar 38 do 1º; Iniesta 7 e Suárez 28 do 2º
Cartão amarelo: James Rodríguez, Sergio Ramos, Carvajal, Daniel Alves e Busquets
Expulsão: Isco 39 do 2º
REAL MADRID: Navas (5,5), Danilo (4,5), Varane (4,5), Sergio Ramos (4) e Marcelo (5,5) (Carvajal, 13 do 2º - 4,5); Modric (5), Kroos (4,5) e Bale (5); James Rodríguez (4) (Isco, 9 do 2º - 4), Benzema (4,5) e Cristiano Ronaldo (5,5). Técnico: Rafa Benítez
BARCELONA: Bravo (7,5), Daniel Alves (7), Piqué (6,5), Mascherano (6) (Mathieu, 27 do 1º - 6) e Jordi Alba (6,5); Busquets (6,5), Rakitic (6,5) (Messi, 11 do 2º - 6) e Iniesta (9) (Munir, 31 do 2º - 5); Sergi Roberto (7,5), Suárez (8) e Neymar (8,5). Técnico: Luis Enrique

Foto: Miguel Ruiz/FCB.

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