Enquanto Mourinho não repete Klopp, Klopp supera Mourinho. E com sobras

Mourinho sofre com crise semelhante à enfrentada por Klopp
Quem lembra do último ano de Jürgen Klopp à frente do Borussia Dortmund inevitavelmente faz uma relação do que vem acontecendo com José Mourinho neste começo de temporada europeia pelo Chelsea. Ovacionado pela torcida mesmo em meio à maior crise técnica da equipe desde a chegada de Roman Abramovich, o português amarga uma campanha sofrível, na qual, como atual campeão nacional, beira a zona de rebaixamento. Situação muito semelhante à vivida por seu colega alemão na temporada passada em Dortmund, quando o Borussia chegou a virar o turno da Bundesliga na zona de rebaixamento.

A recuperação do time amarelo veio no returno alemão; a de Mourinho, ainda não chegou. Hoje, ao perder para o Liverpool do próprio Klopp, ele nunca esteve tão ameaçado no cargo, embora os torcedores ainda o idolatrem. E o pior: parecia que a má fase teria fim em Stamford Bridge. Logo aos três minutos, Ramires fez 1 a 0 de cabeça, após lindo toque de calcanhar de Diego Costa para Azpilicueta, que centrou na cabeça do volante brasileiro. Seguiram-se minutos de pressão que sugeriam um Chelsea a fim de decidir logo a parada.

Alarme falso. O resto do primeiro tempo foi todo do Liverpool. Apagado de início, ainda se adaptando à ideia de Klopp de escalá-lo mais aberto, Philippe Coutinho fazia falta à criação vermelha. Mas o time visitante era superior: Skrtel dominava Diego Costa, Milner fazia a ponta direita com competência e Firmino se movimentava bem como falso nove. O domínio da equipe visitante resultou em cinco chances de gol na primeira etapa, e 11 finalizações contra apenas duas do a-cada-minuto-mais-tímido Chelsea. Na última delas, Coutinho recebeu de Firmino, cortou Ramires com um drible seco e de canhota, que não é a boa, acertou o ângulo do goleiro Begovic.

Só pelas descrições dos gols, já vemos que os brasileiros comandaram a tarde em Londres. Quase todos foram realmente bem. O pior deles, Oscar, discreto como em toda a temporada, quase fez um golaço do meio de campo. O segundo tempo voltou com um Chelsea diferente, mais agressivo, mas ainda assim sem o controle do jogo, que era equilibrado. Lucas, à frente da área, foi importante limpa-trilhos à frente da defesa vermelha. Ainda se arriscou no ataque algumas vezes, algo raro desde que saiu do Grêmio para o futebol inglês. Quem sabe com Klopp não retoma essa que era sua melhor característica?

Mourinho mexeu bem ao tirar o apático Hazard para a entrada do ex-Fluminense Kenedy, mas pecou aos 24, retirando o seguro Obi Mikel para a entrada de Fabregas. Seu time perdeu a consistência que restava no meio e sofreu a virada aos 29, em lance no qual Benteke ganhou pelo alto justamente onde costumava se postar o volante nigeriano. Gol de Coutinho, de novo de fora da área. O terceiro, de Benteke, foi consequência dos nervos à flor da pele do time da casa, que via mais uma derrota se aproximar.
Com Klopp, Coutinho se posiciona mais à esquerda na criação

Com 11 pontos em 11 jogos, o Chelsea tem um desafio imenso: nunca um time com pontuação tão baixa nesta altura do campeonato chegou entre os quatro melhores na primeira divisão inglesa. Mas a hora é de pés no chão: o time de Londres precisa, sim, aceitar a péssima fase e pensar, primeiro, em sair do risco de cair. A crise é real, e já não mais uma má fase passageira: dos últimos oito jogos, o Chelsea só ganhou um. Terça passada, caiu nas oitavas da Copa da Liga para o modesto Stoke. Mourinho segue com moral com a torcida, e talvez seja ele mesmo o nome mais indicado para reabilitar o time, mas algo precisa ser feito já.

Pelo lado do Liverpool, é fácil perceber que o estilo sanguíneo de Klopp já contagiou o elenco. Em vez de se abalar com o gol no começo, a equipe visitante jogou com a personalidade que é a marca do seu treinador e se impôs ao Chelsea de forma categórica, em pleno Stamford Bridge. Ainda não estamos falando de um postulante à liderança, mas nada garante que num campeonato tão equilibrado o Liverpool possa chegar. A primeira pequena revolução, que era acabar com a série de oito jogos sem vencer a equipe de Londres, o alemão já conseguiu.

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Ficha técnica
Campeonato Inglês 2015/16 - 11ª rodada
31/outubro/2015
CHELSEA 1 x LIVERPOOL 3
Local: Stamford Bridge, Londres (ING)
Árbitro: Mark Clattenburg (ING)
Público: 41.577
Gols: Ramires 3 e Philippe Coutinho 47 do 1º; Philippe Coutinho 29 e Benteke 37 do 2º
Cartão amarelo: Obi Mikel, Philippe Coutinho, Lucas, Emre Can e Benteke
CHELSEA: Begovic (6), Zouma (5,5), Cahill (5), Terry (4,5) e Azpilicueta (6) (Falcao García, 30 do 2º - 4,5); Obi Mikel (6,5) (Fabregas, 24 do 2º - 4,5), Ramires (6) e Oscar (5); Willian (6), Diego Costa (6) e Hazard (4) (Kenedy, 13 do 2º - 5,5). Técnico: José Mourinho
LIVERPOOL: Mignolet (6), Clyne (5,5), Skrtel (7), Sakho (6,5) e Moreno (5,5); Lucas (6,5), Milner (6,5) (Benteke, 18 do 2º - 7), Emre Can (6), Philippe Coutinho (8) e Lallana (6,5); Firmino (6) (Ibe, 30 do 2º - 6). Técnico: Jürgen Klopp

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