Um erro numa mera saída de bola pode ter mudado a história do Campeonato Argentino



Faltando sete rodadas para o fim do Campeonato Argentino, Boca Juniors e San Lorenzo fizeram neste fim de semana, na Bombonera, uma espécie de final antecipada. Ambos os clubes negam, lembrando que ainda há muitos pontos em disputa, mas o clima ontem era esse. O jogo entre os dois ponteiros era a chance da equipe da casa de disparar na liderança e encaminhar a conquista do título. Tanto que Edgardo Bauza montou o Ciclón de forma retraída, valorizando o empate. Vencer, só se desse, em caso de um erro do Boca. E ele veio no final, da forma mais cruel possível.

Rodolfo Arruabarrena sofreu com os desfalques nesta decisão. Na Argentina, como no Brasil, o campeonato não para em Datas FIFA. Quem mais saiu perdendo neste caso foi o Boca, que se viu sem Tevez, Gago e Lodeiro para o confronto decisivo. Porém há elenco de sobra na Bombonera: Palacios substituiu Carlitos em alto nível, Meli teve boa atuação no lugar de Gago e, para a vaga de Lodeiro, o treinador apostou em outro uruguaio: o jovem Bentancur, de apenas 18 anos. Jogador clássico, de ótimo toque e cabeça erguida, ele não sentiu o peso do jogo. Fez um ótimo primeiro tempo, especialmente, e cada boa jogada sua era comemorada por Arruabarrena, feliz de ver que sua aposta dava resultado.

Mas a juventude de Bentancur cobrou seu preço. Aos 45 da etapa final, ele não percebeu que o centroavante Mauro Matos estava atrás de Cata Díaz e, pressionado pela marcação de Buffarini, saiu jogando por baixo, buscando o companheiro que estava próximo. Díaz, porém, orientava os volantes a subirem para o ataque, e nem percebia que a bola vinha em sua direção. Matos se aproveitou do vacilo, recebeu a bola livre e decidiu o clássico em favor do San Lorenzo, fazendo o time visitante chegar a 50 pontos e, assim, ultrapassar o Boca, que estacionou nos 49.

Bentancur sabe que errou. Marcado pelo lateral adversário, deveria ter afastado a bola, mas sua qualidade de articulador o fez pensar em sair jogando, o que num confronto deste peso nem sempre é o mais prudente a se fazer, ainda mais nos acréscimos. Chorou ao final do clássico por conta de seu equívoco, sentindo o peso de ver um campeonato, talvez, desabar sobre suas costas. Logo ele, que vinha bem, que mostrava grande personalidade. O fato de ter errado mostra também que ele estava lá atrás, armando o jogo como um autêntico camisa 10 que já é. Jogador de futuro, que terá de aprender com este grave erro do presente, num jogo que, para ele, estava sendo inesquecível por bons motivos.

O San Lorenzo jogou menos que o Boca, mas teve sua eficiência e pragmatismo premiados. A dedicação da equipe aos preceitos de Bauza é comovente. Buffarini praticamente não subiu, tentando controlar as subidas de Pérez e Calleri por seu lado; Barrientos, ponteiro envolvente, foi na prática um auxiliar do jovem lateral Arias, que tinha pela frente a bomba de segurar Peruzzi, Meli e Palacios pelo lado esquerdo de defesa. O convocado do San Lorenzo, Néstor Ortigoza, entrou em campo nos 20 minutos finais depois de ter atuado 86 minutos pela seleção paraguaia em um amistoso no Chile. Detalhe: o jogo em questão acabou menos de 24 horas após o começo do clássico de ontem. Ele tomou um avião de Santiago a Buenos Aires, chegou meia noite à concentração, ficou no banco e entrou no segundo tempo. Por mais que se insista neste assunto já batidíssimo e chato, os méritos deste time de Boedo vão muito além das rezas do Papa Francisco.

O gol de Mauro Matos em três momentos
Como articulador que é, Bentancur volta ao campo de defesa para tentar armar um ataque do Boca

Pressionado por Buffarini, ele não percebe que Matos está atrás de Cata Díaz e toca a bola para o companheiro que, por sua vez, orienta jogadores de frente e nem presta atenção no lance. Matos percebe o vacilo...
...entra livre e, com frieza, toca na saída de Orión: San Lorenzo 1 a 0 e líder do Campeonato Argentino, em plena Bombonera

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