Não foi Brasília que causou a derrota do Flamengo, mas sua própria incompetência - e o Coxa



A mística de que o Flamengo não dá sorte em Brasília foi reforçada ontem com a surpreendente derrota para o Coritiba. Muita coisa conspirava a favor: com seis vitórias consecutivas, a equipe de Oswaldo de Oliveira enfrentaria um adversário desesperado, na zona de rebaixamento. Para melhorar, nada menos que 67 mil pessoas lotaram o Mané Garrincha, no maior público do Campeonato Brasileiro. A derrota por 2 a 0 era um dos resultados mais improváveis.

O que poucos apontaram antes do jogo é que o Coxa vem sendo melhor fora do Couto Pereira que dentro dele. Como visitante, a equipe paranaense, somando o jogo de ontem, conquistou 10 dos últimos 12 pontos que disputou no Campeonato Brasileiro. Em casa, o rendimento cai pela metade. É a característica alviverde, um time que se defende bem (sofreu só 25 gols em 26 jogos, apenas pior que Grêmio e Corinthians no fundamento), mas ataca muito mal (19 tentos marcados, só superior a Joinville e Vasco).

O jogo foi à feição do Coritiba. Diante de um Fla sem Sheik e Guerrero, encarou a equipe da casa com naturalidade e personalidade, conquistando dois gols em falhas da atordoada defesa rubro-negra e até mesmo deixando de matar o jogo ainda no primeiro tempo, quando Henrique Almeida perdeu na pequena área após ótima jogada de Kleber - o Gladiador, em seu melhor jogo até aqui pelo Coxa, fez a diferença. Eram 24 minutos e o placar já apontava 2 a 0. E este Flamengo de então 100% no returno é também um Flamengo que conquista seus placares na base muitas vezes da empolgação, do embalo, como diante do Cruzeiro, quinta passada, quando a atuação não era boa. Ter de buscar um 0 a 2 não estava nos planos.

Se o primeiro tempo foi o da extrema competência do Coritiba, o segundo foi o da incompetência do Flamengo. Ney Franco voltou do segundo tempo disposto a segurar a ótima vantagem e fechou o seu time. O Coxa se defendeu bem, é verdade, mas quase não contra-atacou. Isso dava ao time carioca a perspectiva de se jogar pra frente sem grandes preocupações atrás. Por isso, o principal fator para a manutenção do placar, na etapa final, foi principalmente a falta de criatividade carioca. Em 47 minutos de jogo, o Fla criou pouquíssimas oportunidades claras. Seus nomes mais criativos (Jorge, Ederson, Everton, Paulinho, Kayke) não tinham vitória pessoal na imensa maioria dos lances, e Oswaldo ainda mexeu mal, deixando Marcelo Cirino, um dos jogadores de maior poder de fogo deste grupo, no banco até os 29 minutos.

Nenhuma derrota vem em bom momento, claro, mas perder desta forma a três dias de um duelo complicado diante do Atlético Mineiro, em Belo Horizonte, é duro. O Flamengo sai do G-4, mas não da briga. Com 41 pontos, segue a um da zona da Libertadores, já que o São Paulo, leão em finais de semana e gatinho às quartas e quintas, maltratou a bola a noite toda contra a Chapecoense, num chocho 0 a 0 em pleno Morumbi - resultado que encaminha o Grêmio, o grande vencedor da 26ª rodada, de vez rumo à Copa 2016. Do Tricolor Paulista ao Inter, 8º colocado, a diferença é de dois pontinhos. O Atlético Paranaense, quatro atrás, até voltou à briga diante do fracasso dos dois favoritaços que fracassaram nesta quinta-feira. Com ajuda do rival Coxa, suprema ironia.

Comentários