Temos apenas um pedido para o segundo turno do Brasileirão: que seja tão bom quanto o primeiro
Jogos que terminam à meia noite, campeonato espremido por conta dos deficitários estaduais, arbitragens polêmicas, confusas e incompetentes, média de quase uma demissão de treinador por rodada, jogos que seguem ocorrendo em Datas FIFA... Tudo joga contra o futebol brasileiro há bastante tempo. E todo esse cenário equivocado se reflete no que acontece dentro de campo, com jogos de qualidade bem abaixo do que o nosso principal campeonato poderia e deveria oferecer. Mas não em 2015.
Quem usar o velho chavão de que o Campeonato Brasileiro deste ano está fraco, ou nivelado por baixo, é porque provavelmente não o está acompanhando direito - ou, quem sabe, só enxergue o seu próprio time jogar - e ele, no caso, venha decepcionando. Porque é inegável que estamos vendo em 2015 um campeonato surpreendente, o melhor Brasileirão dos últimos tempos. Em termos de emoção, seguramente o melhor desde o sensacional certame de 2011, que dificilmente repetirá o feito de 19 dos 20 times interessados na última rodada, já que a rodada de clássicos foi arquivada. Em termos técnicos, um dos melhores do século XXI. É que os acertos vêm superando, com folga, os erros.
A média de gols ainda baixa (2,22 por jogo, a pior em 25 anos) esconde partidas muito interessantes. Não foram poucos os ótimos jogos que tivemos neste primeiro turno: o Brasileirão já começou com um ótimo 2 a 2 entre Palmeiras e Atlético Mineiro no Allianz Parque, teve um eletrizante Grêmio x Corinthians em Porto Alegre a seguir, alguns ótimos e históricos clássicos e, nas últimas duas rodadas, nos brindou com pelo menos três grandes jogos: o imparável Corinthians x Sport, o moderníssimo Atlético x Grêmio e o empolgante Palmeiras x Flamengo. Todas excelentes partidas, nenhuma delas com cara de pelada.
A média de público é excelente, ao menos em comparação com anos recentes. Pode, embora não seja o mais provável, superar até mesmo a de 22.953, a maior de todos os tempos, obtida em 1983. No primeiro turno, somando pagantes e não-pagantes, tivemos 18.320 torcedores por jogo nos estádios - o número sempre aumenta no returno, devido ao seu caráter decisivo, o que sugere que devamos superar os 20 mil torcedores por jogo, média abaixo do que podemos, mas já bem razoável. Já tivemos rodadas onde muitos estádios receberam bastante gente, algo raro para o normalmente frio primeiro turno. Na 14ª , a média bateu nos 28 mil; na 16ª, a melhor desde a adoção dos pontos corridos, 30.680.
Não são apenas os bons jogos e o sucesso das partidas às 11h da manhã de domingo que explicam o sucesso de público: este é o primeiro ano desde 2009 em que não há estádios fechados para reformas, partidas sendo disputadas em canchas cujo mandante provisório, a primeira temporada em que as novas arenas estão em pleno funcionamento. Era lógico que isso melhoraria o índice de torcedores presentes. Nos estádios novos, a média de público já é melhor que a de 32 anos atrás: 26.524 torcedores por partida, contra 10.953 das canchas antigas. Claro, se as entradas naquelas fossem mais acessíveis, poderíamos ter ainda mais partidas com cara de estádio lotado, fora, claro, termos um público mais democrático e heterogêneo. É o desafio que fica, e acredito, com o otimismo de sempre, que daqui a pouco alguns clubes vão se dar conta disso. Estádio lotado valoriza o campeonato, e ajuda a melhorar a cara e a qualidade do que se vê em campo.
Também colaborou para a melhoria dos jogos uma medida polêmica (para não dizer equivocada) implantada pela CBF: o excesso de cartões amarelos aplicados pelos árbitros. Como as reclamações não são mais toleradas, perde-se menos tempo com blá-blá-blá em campo. Claro, expulsar atletas que nem desrespeitosos são é um absurdo, patético até, mas que a medida obteve sucesso no aspecto de o jogo ficar menos picotado é inegável. O principal, porém, é que mais juízes estão deixando a partida correr, marcando menos "faltinhas". A FIFA recomenda que o tempo de bola rolando seja sempre de 60 dos 90 minutos, algo que era raro de se ver por aqui. Em Grêmio x Sport, por exemplo, este número foi superado com folga (65). E, apesar de uma atuação confusa, o árbitro Péricles Bassols Cortez colaborou para isso, assinalando apenas 14 faltas ao longo daquele jogo. Em Inter x Atlético, outro ótimo jogo, foram apenas 15. Em Corinthians x Atlético Paranaense, mais uma partida de bom nível, 19.
Nestes três jogos, citamos algumas equipes que praticam um futebol absolutamente moderno. Isso tem muito a ver com o nível do campeonato - é, sem dúvida, o principal fator para a série de boas partidas que estamos vendo semanalmente. O líder é o pragmático Corinthians de Tite, mas a média de quem está na ponta de cima são equipes propositivas, insinuantes, dinâmicas, dentro ou fora de casa. Atlético Mineiro e Palmeiras, por exemplo, são equipes que chegam a dar gosto de se ver jogar muitas vezes, pela qualidade do futebol que apresentam.
Já Grêmio, Sport e Atlético Paranaense, três dos melhores times da competição, podem não ter ido ao mercado com o vigor que se espera de um favorito, mas apostaram em trenadores jovens e atualizados, e também souberam valorizar suas categorias de base. O fato de estes três times sem elencos tão numerosos ou pomposos estarem na ponta de cima não sugere que o campeonato está fraco, ao contrário: mostra que mesmo grupos de atletas não tão grandes são capazes de jogar um futebol de alto nível. Não são equipes que estão lá pela fragilidade alheia, mas por méritos próprios. São três dos cinco times mais agradáveis de se assistir no país atualmente. Já o São Paulo pode estar até decepcionando pelo que dele se esperava, mas também saiu do lugar-comum ao contratar o colombiano Juan Carlos Osorio - e pode colher os frutos se tiver paciência com ele. Ainda é uma aposta no plantel caro, mas não em um medalhão cansado na casamata.
Todos estes são clubes que, de uma forma ou de outra, praticaram a renovação - uns de um modo mais competente que outros, no caso dos já citados gaúchos, paranaenses e pernambucanos - isso sem falar no barateado Fluminense do menino Gérson, ou na organizada Chapecoense de Vinícius Eutrópio, que jamais fechou uma rodada fora do G-10 até agora. Em suma, é disso que tanto precisamos no nosso futebol: oxigenação, gente nova, ideias novas. Tudo que a CBF não tem, tudo o que a Seleção Brasileira não fez ao recontratar Dunga em vez de apostar num nome novo.
Mas é esse, a renovação, talvez o ponto que mais dá esperança de que, sim, apesar de tudo, o futebol brasileiro tem salvação. O campeonato deste ano, apesar de todos os seus problemas de organização, de tudo o que joga contra por incompetência de quem gere o esporte no Brasil, acende esta chama. Que venha o returno! E que ele seja tão bom quanto o primeiro turno - embora tenhamos motivos suficientes para pensar que ele seguramente será ainda melhor.
Quem usar o velho chavão de que o Campeonato Brasileiro deste ano está fraco, ou nivelado por baixo, é porque provavelmente não o está acompanhando direito - ou, quem sabe, só enxergue o seu próprio time jogar - e ele, no caso, venha decepcionando. Porque é inegável que estamos vendo em 2015 um campeonato surpreendente, o melhor Brasileirão dos últimos tempos. Em termos de emoção, seguramente o melhor desde o sensacional certame de 2011, que dificilmente repetirá o feito de 19 dos 20 times interessados na última rodada, já que a rodada de clássicos foi arquivada. Em termos técnicos, um dos melhores do século XXI. É que os acertos vêm superando, com folga, os erros.
A média de gols ainda baixa (2,22 por jogo, a pior em 25 anos) esconde partidas muito interessantes. Não foram poucos os ótimos jogos que tivemos neste primeiro turno: o Brasileirão já começou com um ótimo 2 a 2 entre Palmeiras e Atlético Mineiro no Allianz Parque, teve um eletrizante Grêmio x Corinthians em Porto Alegre a seguir, alguns ótimos e históricos clássicos e, nas últimas duas rodadas, nos brindou com pelo menos três grandes jogos: o imparável Corinthians x Sport, o moderníssimo Atlético x Grêmio e o empolgante Palmeiras x Flamengo. Todas excelentes partidas, nenhuma delas com cara de pelada.
A média de público é excelente, ao menos em comparação com anos recentes. Pode, embora não seja o mais provável, superar até mesmo a de 22.953, a maior de todos os tempos, obtida em 1983. No primeiro turno, somando pagantes e não-pagantes, tivemos 18.320 torcedores por jogo nos estádios - o número sempre aumenta no returno, devido ao seu caráter decisivo, o que sugere que devamos superar os 20 mil torcedores por jogo, média abaixo do que podemos, mas já bem razoável. Já tivemos rodadas onde muitos estádios receberam bastante gente, algo raro para o normalmente frio primeiro turno. Na 14ª , a média bateu nos 28 mil; na 16ª, a melhor desde a adoção dos pontos corridos, 30.680.
Não são apenas os bons jogos e o sucesso das partidas às 11h da manhã de domingo que explicam o sucesso de público: este é o primeiro ano desde 2009 em que não há estádios fechados para reformas, partidas sendo disputadas em canchas cujo mandante provisório, a primeira temporada em que as novas arenas estão em pleno funcionamento. Era lógico que isso melhoraria o índice de torcedores presentes. Nos estádios novos, a média de público já é melhor que a de 32 anos atrás: 26.524 torcedores por partida, contra 10.953 das canchas antigas. Claro, se as entradas naquelas fossem mais acessíveis, poderíamos ter ainda mais partidas com cara de estádio lotado, fora, claro, termos um público mais democrático e heterogêneo. É o desafio que fica, e acredito, com o otimismo de sempre, que daqui a pouco alguns clubes vão se dar conta disso. Estádio lotado valoriza o campeonato, e ajuda a melhorar a cara e a qualidade do que se vê em campo.
Também colaborou para a melhoria dos jogos uma medida polêmica (para não dizer equivocada) implantada pela CBF: o excesso de cartões amarelos aplicados pelos árbitros. Como as reclamações não são mais toleradas, perde-se menos tempo com blá-blá-blá em campo. Claro, expulsar atletas que nem desrespeitosos são é um absurdo, patético até, mas que a medida obteve sucesso no aspecto de o jogo ficar menos picotado é inegável. O principal, porém, é que mais juízes estão deixando a partida correr, marcando menos "faltinhas". A FIFA recomenda que o tempo de bola rolando seja sempre de 60 dos 90 minutos, algo que era raro de se ver por aqui. Em Grêmio x Sport, por exemplo, este número foi superado com folga (65). E, apesar de uma atuação confusa, o árbitro Péricles Bassols Cortez colaborou para isso, assinalando apenas 14 faltas ao longo daquele jogo. Em Inter x Atlético, outro ótimo jogo, foram apenas 15. Em Corinthians x Atlético Paranaense, mais uma partida de bom nível, 19.
Nestes três jogos, citamos algumas equipes que praticam um futebol absolutamente moderno. Isso tem muito a ver com o nível do campeonato - é, sem dúvida, o principal fator para a série de boas partidas que estamos vendo semanalmente. O líder é o pragmático Corinthians de Tite, mas a média de quem está na ponta de cima são equipes propositivas, insinuantes, dinâmicas, dentro ou fora de casa. Atlético Mineiro e Palmeiras, por exemplo, são equipes que chegam a dar gosto de se ver jogar muitas vezes, pela qualidade do futebol que apresentam.
Já Grêmio, Sport e Atlético Paranaense, três dos melhores times da competição, podem não ter ido ao mercado com o vigor que se espera de um favorito, mas apostaram em trenadores jovens e atualizados, e também souberam valorizar suas categorias de base. O fato de estes três times sem elencos tão numerosos ou pomposos estarem na ponta de cima não sugere que o campeonato está fraco, ao contrário: mostra que mesmo grupos de atletas não tão grandes são capazes de jogar um futebol de alto nível. Não são equipes que estão lá pela fragilidade alheia, mas por méritos próprios. São três dos cinco times mais agradáveis de se assistir no país atualmente. Já o São Paulo pode estar até decepcionando pelo que dele se esperava, mas também saiu do lugar-comum ao contratar o colombiano Juan Carlos Osorio - e pode colher os frutos se tiver paciência com ele. Ainda é uma aposta no plantel caro, mas não em um medalhão cansado na casamata.
Todos estes são clubes que, de uma forma ou de outra, praticaram a renovação - uns de um modo mais competente que outros, no caso dos já citados gaúchos, paranaenses e pernambucanos - isso sem falar no barateado Fluminense do menino Gérson, ou na organizada Chapecoense de Vinícius Eutrópio, que jamais fechou uma rodada fora do G-10 até agora. Em suma, é disso que tanto precisamos no nosso futebol: oxigenação, gente nova, ideias novas. Tudo que a CBF não tem, tudo o que a Seleção Brasileira não fez ao recontratar Dunga em vez de apostar num nome novo.
Mas é esse, a renovação, talvez o ponto que mais dá esperança de que, sim, apesar de tudo, o futebol brasileiro tem salvação. O campeonato deste ano, apesar de todos os seus problemas de organização, de tudo o que joga contra por incompetência de quem gere o esporte no Brasil, acende esta chama. Que venha o returno! E que ele seja tão bom quanto o primeiro turno - embora tenhamos motivos suficientes para pensar que ele seguramente será ainda melhor.
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