O Joinville foi a deixa: a sequência "fácil" do Grêmio vai ser dureza



Quem esperava facilidade ontem na Arena deve ter se decepcionado. Mas, convenhamos, era lógico que o Grêmio enfrentaria dificuldades contra o Joinville. Depois de uma semana dura, com clássico no domingo e líder do campeonato fora de casa na quinta, mesmo enfrentar em casa um dos lanternas da competição seria compromisso complicado, diante do cansaço físico e principalmente psicológico. Depois de ter de usar 110% de sua concentração no Mineirão, era óbvio que esse desgaste ocorreria.

E tomar um gol logo no começo só dificultou as coisas. Afinal, o jogo ficou à feição para o JEC: com 1 a 0 a favor de cara, o time catarinense pôde se fechar e explorar a velocidade dos contragolpes. A melhora recente da equipe do norte de Santa Catarina não é à toa: viu-se na Arena um conjunto bem organizado, entrosado e malicioso ao armar ataques em velocidade. Poderia ter definido a parada ainda no primeiro tempo, não tivesse perdido duas situações claríssimas na pequena área.

Aí está a diferença: paradoxalmente, mesmo jogando um futebol abaixo do que vem jogando, o Grêmio venceu não só na raça, como todos dizem, mas porque tem jogadores melhores. Teve quase tantas chances claras como seu adversário, mas fez mais gols porque é tecnicamente melhor. Claro, nada disso seria possível sem uma entrega completa dos jogadores: a comemoração de cada gol, tanto do primeiro como do segundo, foi marcante, intensa, que mostra que todos têm um objetivo comum. Foi na raça, no grito de uma Arena cada vez mais parecida com o Olímpico em termos de pressão ao adversário, mas foi também na maior hierarquia técnica gremista em relação ao Joinville.

Mas o jogo de ontem foi um claro aviso: a sequência tida como fácil será complicada. No returno é que o Brasileirão começa a se equilibrar, pois cada equipe já sabe qual é sua briga, e já sabe da necessidade de pontos que tem. Além disso, o Grêmio enfrentará esta série de equipes abaixo tecnicamente entremeada com dois duelos pela Copa do Brasil contra o Coritiba. O desgaste será grande, como ocorreu em julho, quando a equipe sofreu uma queda de rendimento. Claro, todos passarão por isso - Corinthians, Atlético, Palmeiras, Fluminense, todos estão na mesma situação. O Grêmio tem a facilidade de ter a tabela mais acessível, mas também a obrigação de pontuar mais por conta disso.

Talvez as vitórias tenham de vir como vieram ontem: na base da imposição, na marra, no limite. O resultado foi importantíssimo também por isso: nesta segunda fase do campeonato, o mais importante é sempre pontuar, mais do que ter desempenho convincente. Perder pontos como os de ontem em casa é proibido, mesmo com todas as dificuldades.

Com 36 pontos, o Grêmio se fixa no G-4. Não garante Libertadores, claro, mas já está matematicamente mais próximo da liderança que do 5º colocado, algo nada definitivo quando faltam 19 rodadas, mas significativo. O time de Roger já abre uma distância confortável para trás, já saiu do "fedor", da parte encrespada, com Fluminense, Palmeiras, São Paulo, Sport e Atlético Paranaense. É importante demais distanciar-se de uma briga tão complicada, equilibrada e de alto nível. Afinal, voltar a ela, algo que pode ocorrer, tensiona mais toda a situação.

Por isso, a sequência de vitórias recém obtida foi tão importante, e por isso continuar vencendo também será: contra Ponte, Coxa, Figueirense e Goiás, a necessidade de pontos é alta não apenas para manter distância confortável para os demais concorrentes, mas para jogar contra eles, todos, sem a necessidade absoluta e irrevogável de pontuar. Passados esses quatro compromissos, aí sim, teremos uma noção definitiva se a briga gremista é por título ou G-4. Não será nada fácil. Vimos ontem que não.

Comentários

Lique disse…
se diz que esse gremio sabe impor o jogo, mas depois de ter vencido contra o atl-mg no puro contra-ataque, sabia que ia ser foda pegar time retrancado (o que tb não era o caso do inter). deu na marra, nos gols de bola parada.

fazia tempo que eu não lamentava tanto não estar no estádio, para comemorar um golaço de falta no fim do jogo. deve ter sido uma alegria só, tipo aquele gol de cabeça do domingos contra o náutico na série b, o gol do diego souza contra o sp na libertadores 2007, o gol do aílton em 1996. o típico gol decisivo que define uma campanha.

agora é concentrar nessa seqüência que parece fácil mas que tem touca na jogada, muito cuidado.
Vicente Fonseca disse…
Até quinta a minha dúvida era saber se o Grêmio saberia jogar de forma reativa. Porque de forma propositiva me parece claro que sabe - é o melhor mandante do campeonato, e mesmo fora de casa ganhou de Avaí e Santos desta forma, se impondo. O que dificultou muito contra o Joinville, me parece, foi ter tomado o gol de cara. Para um time desgastado, ter que começar o jogo precisando de dois gols é complicado.