Sampaoli supera seu mestre, mas Bielsa foi o grande campeão da Copa América
A final da Copa América reuniu mais do que duas grandes seleções treinadas por comandantes argentinos: foi um verdadeiro ode a Marcelo Bielsa, o técnico sul-americano mais influente do continente nas últimas décadas. Embora não tenha um currículo recheado de títulos, El Loco tem uma filosofia clara, de futebol ofensivo, intenso e dinâmico, que é cada vez mais seguida, e não apenas aqui na América do Sul. Tata Martino e Jorge Sampaoli são dois de seus mais conhecidos e bem sucedidos pupilos.
O curioso é que, embora argentino, Bielsa pode se sentir talvez até mais vitorioso pelo fato de o Chile ter sido o campeão. Há vários motivos para isso. O primeiro é que o trabalho de Sampaoli é bem mais consolidado que o de Tata, e portanto tem mais a sua cara. Mentor de um dos melhores times da história do futebol chileno (La U, campeã da Sul-Americana de 2011), o carequinha era o substituto natural de Claudio Borghi, demitido por começar mal as eliminatórias para a Copa de 2014. Além do grande trabalho comandando nomes fundamentais para a seleção, como Aránguiz e Vargas, ele representava uma continuidade do que Bielsa começara: um processo complexo, que prometia alçar o Chile a um patamar superior no continente, mais condizente com a boa qualidade do seu futebol.
Quando a Universidad de Chile foi campeã com sobras daquela Copa Sul-Americana, os olhos do continente brilharam. Afinal, ali parecia haver uma espécie de Marcelo Bielsa, mas não tão "loco" assim. Depois de uma participação desastrosa na Copa América de 2007, Bielsa foi contratado para que o Chile aprendesse a se impor como protagonista. Se os seus jogadores são historicamente baixos, e a defesa era sempre frágil, a equipe passaria a se sobressair pela qualidade ofensiva de suas peças. A Roja chegou à África do Sul desta maneira, mas acabou eliminada pelo Brasil sem fazer cócegas no time de Dunga. A crítica que se fazia era de que o ofensivismo era exagerado. Sampaoli, portanto, era o nome certo para dar esse equilíbrio que faltava.
Ainda assim, a contribuição de Bielsa é inestimável para o título chileno. Colocar uma nação em um patamar diferente é um processo que leva anos, e foi por conta de suas ideias que a Roja chegou ao título hoje. É verdade que Sampaoli deu seu toque pessoal: em vez do às vezes suicida 3-4-3 de seu ídolo, propôs durante toda a Copa América um 4-4-2 em losango menos revolucionário, mas mais eficiente, que se transformava em 3-4-3 quando o time atacava. Mas o principal, na hora decisiva, estava lá, e tinha a marca de Bielsa: o Chile foi sempre o protagonista da competição. Pode ter sido ajudado por erros de arbitragem em mais de uma vez (inclusive na decisão de hoje), mas mereceu sempre vencer todos os jogos que disputou.
A confiança no trabalho de anos, a segurança em propor o jogo, em confiar na qualidade do sensacional quinteto Aránguiz-Vidal-Vargas-Sánchez-Valdivia foi muito maior que o medo de a defesa vazar. Jogar em casa poderia ter sido uma pressão a mais, mas acabou virando combustível por conta dessa postura de seleção grande, algo que sempre faltou ao futebol do país nas horas decisivas. O lance que definiu o título simboliza tudo isso: Alexis Sánchez mandou um "beijinho no ombro" do trama das decisões por pênaltis e, um ano depois da trágica derrota para o Brasil no Mineirão, venceu Romero com uma cavadinha inapelável, que levou o Estádio Nacional à loucura.
Na decisão diante da Argentina, o maior de todos os desafios, a dominação se deu quase que o temo todo. Mesmo contra uma constelação liderada por Lionel Messi, que havia massacrado o Paraguai quatro dias atrás, o Chile foi sempre o time mais próximo de vencer o jogo nos 120 minutos de bola rolando. Não teve medo de escalar Beausejour, um meia que atua como lateral nos jogos onde a equipe precisa atacar mais - o normal, diante de Messi, seria escalar um jogador menos agressivo naquela função. Teve o protagonismo e a intensidade que permeiam as ideias de Bielsa aliados à maior segurança e pragmatismo propostos por Jorge Sampaoli, um argentino que provavelmente se tornou hoje o maior treinador da história do país vizinho.
O curioso é que, embora argentino, Bielsa pode se sentir talvez até mais vitorioso pelo fato de o Chile ter sido o campeão. Há vários motivos para isso. O primeiro é que o trabalho de Sampaoli é bem mais consolidado que o de Tata, e portanto tem mais a sua cara. Mentor de um dos melhores times da história do futebol chileno (La U, campeã da Sul-Americana de 2011), o carequinha era o substituto natural de Claudio Borghi, demitido por começar mal as eliminatórias para a Copa de 2014. Além do grande trabalho comandando nomes fundamentais para a seleção, como Aránguiz e Vargas, ele representava uma continuidade do que Bielsa começara: um processo complexo, que prometia alçar o Chile a um patamar superior no continente, mais condizente com a boa qualidade do seu futebol.
Quando a Universidad de Chile foi campeã com sobras daquela Copa Sul-Americana, os olhos do continente brilharam. Afinal, ali parecia haver uma espécie de Marcelo Bielsa, mas não tão "loco" assim. Depois de uma participação desastrosa na Copa América de 2007, Bielsa foi contratado para que o Chile aprendesse a se impor como protagonista. Se os seus jogadores são historicamente baixos, e a defesa era sempre frágil, a equipe passaria a se sobressair pela qualidade ofensiva de suas peças. A Roja chegou à África do Sul desta maneira, mas acabou eliminada pelo Brasil sem fazer cócegas no time de Dunga. A crítica que se fazia era de que o ofensivismo era exagerado. Sampaoli, portanto, era o nome certo para dar esse equilíbrio que faltava.
Ainda assim, a contribuição de Bielsa é inestimável para o título chileno. Colocar uma nação em um patamar diferente é um processo que leva anos, e foi por conta de suas ideias que a Roja chegou ao título hoje. É verdade que Sampaoli deu seu toque pessoal: em vez do às vezes suicida 3-4-3 de seu ídolo, propôs durante toda a Copa América um 4-4-2 em losango menos revolucionário, mas mais eficiente, que se transformava em 3-4-3 quando o time atacava. Mas o principal, na hora decisiva, estava lá, e tinha a marca de Bielsa: o Chile foi sempre o protagonista da competição. Pode ter sido ajudado por erros de arbitragem em mais de uma vez (inclusive na decisão de hoje), mas mereceu sempre vencer todos os jogos que disputou.
A confiança no trabalho de anos, a segurança em propor o jogo, em confiar na qualidade do sensacional quinteto Aránguiz-Vidal-Vargas-Sánchez-Valdivia foi muito maior que o medo de a defesa vazar. Jogar em casa poderia ter sido uma pressão a mais, mas acabou virando combustível por conta dessa postura de seleção grande, algo que sempre faltou ao futebol do país nas horas decisivas. O lance que definiu o título simboliza tudo isso: Alexis Sánchez mandou um "beijinho no ombro" do trama das decisões por pênaltis e, um ano depois da trágica derrota para o Brasil no Mineirão, venceu Romero com uma cavadinha inapelável, que levou o Estádio Nacional à loucura.
Na decisão diante da Argentina, o maior de todos os desafios, a dominação se deu quase que o temo todo. Mesmo contra uma constelação liderada por Lionel Messi, que havia massacrado o Paraguai quatro dias atrás, o Chile foi sempre o time mais próximo de vencer o jogo nos 120 minutos de bola rolando. Não teve medo de escalar Beausejour, um meia que atua como lateral nos jogos onde a equipe precisa atacar mais - o normal, diante de Messi, seria escalar um jogador menos agressivo naquela função. Teve o protagonismo e a intensidade que permeiam as ideias de Bielsa aliados à maior segurança e pragmatismo propostos por Jorge Sampaoli, um argentino que provavelmente se tornou hoje o maior treinador da história do país vizinho.
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