O Brasileirão viveu seu melhor fim de semana até agora. O desafio é torná-lo rotina

É verdade, foram apenas 16 gols em 10 jogos, mas o Campeonato Brasileiro viveu seu melhor momento na temporada neste final de semana. Foram dois clássicos regionais, alguns encontros chamativos de peso nacional, um duelo de alto nível pela liderança e, principalmente, ótimos públicos. A média da rodada superou os 27 mil torcedores, número que, pelos dados de 2014, seria no mundo todo inferior somente às ligas alemã e inglesa.

Os atrativos, de fato, foram grandes. Só o Maracanã recebeu 93 mil pessoas em menos de 24 horas. A torcida do Flamengo, sabemos, nunca precisou de maiores motivos para ir em peso até ele, mas diante do Grêmio tivemos o maior público rubro-negro no campeonato. O motivo principal, a estreia de Paolo Guerrero. No domingo, 42 mil torcedores, a maioria do Flu, compareceu para ver o time tentar assumir a liderança diante do cambaleante Vasco e, também, a apresentação de Ronaldinho. Os planos tricolores não deram certo, e os cruz-maltinos levaram a melhor com justiça.

Jogo entre Sport e São Paulo bateu recorde da Arena Pernambuco
Mas como tornar isso uma rotina? Porque não será em toda rodada que haverá clássico (como em Palmeiras x Santos), apresentação de craque ou duelo de líderes (como em Corinthians x Atlético Mineiro). Não será em todo certame que o Sport fará a campanha que faz para pegar o São Paulo com 42 mil torcedores na Arena Pernambuco, ou que o Inter chegará a ponto de disputar uma final de Libertadores e será capaz de ter quase 20 mil torcedores com motivação para ver seus reservas enfrentarem o fraco Goiás no Beira-Rio.

Na verdade, infelizmente, a ótima rodada que tivemos ainda é ocasional. Foi disparadamente a melhor em termos de estádios cheios deste Brasileirão (a segunda melhor teve 21.732 torcedores por partida), mas é bom lembrar que há pouco tempo, nesta mesma temporada, tivemos ridículos 10.813 por jogo de média numa rodada de fim de semana, e isso no comecinho deste mesmo mês de julho. A média do campeonato atual ainda é relativamente modesta: 17.374. Ainda assim, é boa no comparativo e nas projeções: no segundo turno, este número sempre cresce consideravelmente. Não será surpresa passarmos dos 20 ou 22 mil até dezembro, um número ainda longe do ideal, mas que já indica uma crescida a ser comemorada diante do que foram as últimas temporadas.

Por sinal, um fator pouco considerado nestes últimos cinco anos, quando nossa média oscilou entre medíocres 15.311 (2012) e 17.771 (2014) foi que tivemos várias rodadas - ou até anos inteiros - com grandes estádios parados ou em reformas. Isso diminuiu consideravelmente o potencial de média de público nestes anos, num momento em que o crescimento dela era visível, e que o campeonato por pontos corridos começava a cair no gosto do público (em 2009, um dos anos mais equilibrados, tivemos 20.497 torcedores por jogo, a melhor média desde a Copa União de 1987). 2015 é, portanto, o primeiro ano em que as novas arenas serão usadas do início ao fim da competição. Isso faz uma grande diferença, mais até do que um suposto equilíbrio ou briga pela ponta da competição.

O problema é que a incompetência da maioria dos nossos dirigentes não permite que a lotação delas seja uma rotina. O fato de o Campeonato Brasileiro ver sua média aumentar a partir da construção dos novos estádios não justifica que os preços mínimos para alguns jogos sejam tão altos. Ao contrário: o público tem vontade de ir aos estádios, mas bilhetes mais baratos permitiriam que uma parcela excluída há anos de nossas canchas pudesse a elas retornar, deixando as arenas ainda mais cheias, e as médias ainda mais altas. Poderíamos ter tido 70 mil pessoas no Maracanã para ver Guerrero sábado, ou 60 mil no clássico entre Flu e Vasco no domingo. A média, só com o acréscimo chutado agora nesses dois jogos, poderia ter facilmente saltado para 30 mil torcedores nesta rodada.

O desafio de manter esta média alta não é simples, e dificilmente será superado em 2015. Muito porque os dois lados que brigam nesta questão são maniqueístas demais para ouvir o que o outro prega. Quem defende ingressos caros para os estádios confortáveis vai esfregar os dados que estou trazendo aqui na cara de quem diz que a elitização afastou o público do nosso futebol. Mas a comparação pegando apenas esse crescimento pequeno é simplista e incorreta: arenas modernas só se pagam e se justificam se estiverem lotadas. Portanto, 27 mil pessoas por jogo, na verdade, deveria ser a regra do Brasileirão, e não a exceção. Cruzeiro x Avaí, no moderno Mineirão do 7 a 1, não atraiu mais que 14 mil pessoas. No Gigante da Pampulha antigo esta marca já seria um fracasso; no novo, é um verdadeiro desastre.

O outro lado também comete exageros: o que estamos vendo não são estádios às moscas, mas sim uma mudança forte do tipo de frequentador. Pessoas de maior poder aquisitivo são as que estão conseguindo pagar para ver as partidas - e isso vem bem antes da Copa de 2014, mas dos programas cada vez maiores de associação nos grandes clubes do país. A fidelização é importante, mas não dá para deixar de lado os mais humildes. Só chegaremos perto de médias de ligas europeias quando, além da inclusão destes novos torcedores, que já ocorre há quase uma década, conseguirmos resgatarmos aqueles que não têm mais como frequentar os estádios por conta das altas entradas. Por enquanto, a única coisa que fizemos foi trocar um modelo atrasado por outro excludente. Esta conta não fecha, e é bom lembrar que agora ela sai bem mais cara do que nos moldes antigos.

Comentários

Unknown disse…
Quato ao maracanâ, existe um problema que ninguém sabe a explicação: Apesar de a lotação máima ser de 78mil pessoas, ele é liberado para apenas 58 mil. Esse acréscimo de 20 mil pessoas fatalmente contribuiria para a diminuição do preço médio do ingresso. Só que até agora ninguém entende porque a PM, Suderj ou sei lá mais quem impedem que sejam vendidos todos os ingressos.
Vicente Fonseca disse…
Confesso que esse detalhe eu não sabia. Lotação de 78 mil sim, mas imaginei que fosse liberado pra uns 75 mil. Neste caso, o público de Flamengo x Grêmio foi realmente excelente.