Os pênaltis foram cruéis com Murillo, mas fizeram justiça a Tévez e à Argentina



Embora seja um jogador cheio de personalidade, é inegável que Carlitos Tévez carregou nos ombros nos últimos quatro anos o grande peso de ter sido o único batedor a errar uma cobrança na decisão por pênaltis que eliminou a Argentina na Copa América de 2011. Diante do futuro campeão Uruguai, o próximo atacante do Boca Juniors bateu mal, à meia-altura, facilitando o trabalho do goleiro Muslera. Pois quis o destino que, quatro anos depois, após um infindável sequência de erros nas cobranças da marca da cal, fosse justamente ele, o sétimo cobrador platino, a acertar sua batida e classificar a albiceleste das quartas para as semifinais do torneio - exatamente o mesmo objetivo não concretizado por conta de seu erro quatro anos atrás.

É inegável que a perna ainda pesava para Carlitos, mesmo passado tanto tempo daquele clássico. Na última temporada italiana, por exemplo, ele era o batedor oficial da Juventus. Em um jogo importante do Campeonato Italiano, contra a Roma, fez dois gols de pênalti. Na decisão da Supercopa da Itália, diante da Lazio (uma decisão, portanto), errou sua cobrança. Talvez prevendo uma possível falta de confiança de Tévez, o técnico Tata Martino o deixou como sétimo batedor do argentino, atrás de nomes bem mais modestos tecnicamente, como Garay, Biglia e Rojo. Estes dois últimos erraram suas execuções. Carlitos, após quatro erros seguidos entre argentinos e colombianos, bateu com perfeição. O futebol é mágico por isso: quase sempre dá a chance de redenção a quem um dia foi "vilão". Ontem foi o dia de Carlitos.

Não dá para ligar aquele erro contra o Uruguai com sua não ida à Copa do Mundo de 2014 - Alejandro Sabella tinha outros motivos para deixá-lo de fora do Mundial, embora muitos até hoje o contestem por isso. Ainda assim, a volta de Tévez à seleção argentina não poderia ter sido de forma mais bonita. Aliás, poderá: se a Argentina ganhar esta Copa América. Mesmo reserva desta equipe, Carlitos já deu sua contribuição de maneira importante para a conquista de uma taça que o selecionado azul e branco busca frustradamente há 22 anos.
Meio em losango da Colômbia deu espaço para a Argentina tramar jogadas nos primeiros 25 minutos de partida
Os pênaltis fizeram completa justiça ao que foi o jogo. A Argentina dominou a Colômbia praticamente o tempo todo no Estádio Sausalito. O grande acerto de Tata Martino foi recuar Biglia para o lado de Mascherano e adiantar Pastore para a linha de meias. O articulador do PSG teve muito boa atuação trocando de posição frequentemente com Messi, que flutuou entre a ponta direita e o centro, confundindo a marcação colombiana a ponto de José Pekerman ter de retirar Teo Gutiérrez logo aos 23 minutos para colocar em campo Edwin Cardona, aquele mesmo meia criativo do Atlético Nacional, mas que desta vez atuou basicamente como um bloqueador pelo lado esquerdo defensivo da equipe amarela. A mexida deu mais consistência à Colômbia, mas não impediu que a Argentina dominasse a partida. Mesmo sem vencer nos 90 minutos, foi o melhor jogo dos bicampeões mundiais nesta Copa América. O triunfo só não se concretizou antes dos pênaltis porque o goleiro Ospina teve uma noite mágica.

A triste injustiça da vez fica por conta de Jeison Murillo. Ao lado de Ospina, o quarto zagueiro que substitui o lendário Mario Yepes teve uma atuação espetacular parando o inspirado ataque argentino, mas mandou seu pênalti na lua. Foi a última batida colombiana antes do acerto de Tévez. Como demonstrou ter muita bola no corpo, ele vai ter tempo para se redimir, como Carlitos conseguiu ontem. Quem sabe não será nas quartas de final da Copa América de 2019, aqui no Brasil?
Saída de Teo e entrada de Cardona posicionam Colômbia no 4-1-4-1. Messi para a jogar menos aberto, para tentar deixar o meia colombiano sem função em campo

Comentários

Diogo Terra disse…
Eis uma ironia daquelas: na mesma semana em que vieram à tona insinuações de favorecimento ao Boca de parte da arbitragem da Conmebol e da AFA, contra o Corinthians em 2013 (lá, como nos crimes da ditadura, ao menos estão investigando...), a Argentina quase é operada pelo juiz.

O Agüero sofre um pênalti claro ao ser agarrado na área, o Cuadrado deu uma tesoura no Messi e a Pulga leva amarelo por uma reclamaçãozinha?

A banca recebe e paga, só não vê quem não quer...

Vamos ver hoje á tardinha, como vai se comportar o juiz. É triste essa patrulha - mas a Conmebol não se dá o respeito mesmo.

Sobre o jogo: a Argentina já pagou um preço altíssimo ano passado por não ter um finalizador decente. Talvez pague de novo.
Vicente Fonseca disse…
Achei o juiz sem qualquer critério. No primeiro tempo, só tentativa de assassinato era falta. No segundo, se borrou e acabou parando mais o jogo.

O incrível na Argentina é que seus finalizadores em tese são ótimos. Mas de fato, ano passado pagou caro por isso e nesta Copa América dominou amplamente três de seus quatro jogos, mas venceu por margem mínima ou nem venceu. Isso costuma cobrar um preço alto - contra o Brasil, num possível clássico, não haverá perdão.