Espanha, América do Sul e até Itália

A cada timaço montado pelo Barcelona, a lista de maiores equipes da história do futebol precisa de atualização. O de 2009-2011 representou o auge do estilo vencedor espanhol, com um toque de bola imparável complementado por Messi. Este de Luis Enrique traz esta herança, mas talvez esteja conseguindo ir além. Agora, Messi pode até ser coadjuvante, como foi hoje (de luxo, mas coadjuvante), pois há Neymar e Suárez prontos para decidir. É um time espanhol de sotaque catalão, talento sul-americano e com contragolpes fatais típicos dos melhores times italianos. Uma fórmula completa e imbatível.

Gianluca Vialli, antiga estrela da Itália (que inclusive enfrentou o Barcelona na final de seu primeiro título europeu, em 1992, jogando pelo Sampdoria), disse que a Juventus só seria campeã europeia em Berlim se estacionasse um ônibus em frente à meta defendida por Buffon. Foi um elogio ao Barça, claro, mas também um pedido a Massimiliano Allegri: que a Juve jogasse à italiana. O problema é que a equipe de Turim não é acostumada a atuar assim.

A estratégia inicial de Allegri foi a mesma aplicada por Cesare Prandelli naquele Espanha x Itália da semifinal da Copa das Confederações de 2013. Naquele jogo, os italianos fizeram tudo o que os espanhóis faziam: marcavam adiantados, sob pressão, e não davam tempo de Xavi e Iniesta pensarem. Foi o que a Juve tentou fazer, e até fez com sucesso, nos primeiros dois minutos. Só que o Barça vai além daquele estilo espanhol clássico: ele tem ingressos surpreendentes, trocas de funções constantes. Bastou Iniesta entrar desacompanhado na área que Rakitic já fez 1 a 0, e eram só três minutos.

A Juventus sentiu o baque. Um gol cedo demais destrói qualquer plano de jogo. Nos 15 minutos posteriores ao gol, tentou se encontrar em campo. O Barcelona empilhou chances, parecia perto de matar o confronto, mas desperdiçou chances demais. Aos poucos, Pirlo, Vidal, Pogba e Marchisio foram valorizando a posse de bola e a pressão foi arrefecendo. Tudo lembrava o duelo contra o Real Madrid no Santiago Bernabéu. Quando Morata empatou o jogo no começo do segundo tempo, muitos talvez tenham pensado que aquela história se repetiria.
Marchisio e Pogba inverteram de lado ainda no 1º tempo, o que deu fòlego à marcação da Juve
Só que o Barcelona é cheio de recursos. E, se precisar jogar se defendendo, ele consegue também. Porque os meias são combativos, e basta eles roubarem uma bola para ligarem um contragolpe que pode ser mortal. Os dois gols catalães no segundo tempo vieram exatamente deste modo. O terceiro, de Neymar, coroa o craque brasileiro como o artilheiro do mata-mata desta Liga dos Campeões, com 7 gols, uma monstruosa média de um gol por jogo. Suárez, o melhor da decisão de hoje, fez cinco, e Messi só dois. O Barcelona não é mais dependente do argentino, por mais incrível que ele seja. Por isso, talvez, nunca tenha sido tão poderoso quanto agora.

Diante de uma equipe que deu pinta de campeã desde o primeiro jogo do mata-mata, em Manchester, contra o City, a Juventus fez o que pôde. O placar de 3 a 1 é exagerado. A Juve tem um timaço, um meio-campo como poucos no mundo, jogou sem seu principal zagueiro e ainda assim só foi morta, mesmo, no último lance do jogo. Foi uma equipe tão grande que, mesmo diante de um adversário de outro planeta, não abriu mão de atuar do seu jeito, propondo o jogo, marcando forte e sob pressão. Se não fez isso durante a noite toda, foi porque o Barça não deixou.

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