Contra um Grêmio consistente, faltou articulação e sangue nos olhos ao Palmeiras



Diz-se desde o começo do ano que o grande problema de montagem do enorme elenco do Palmeiras era a falta de um matador, um centroavante de ofício. De fato, era a grande falha do trabalho de Alexandre Mattos, até as chegadas de Alecsandro e Lucas Barrios, mas não é o único. Por confiar demais no inconfiável Valdivia, o time paulista se despreocupou do setor criativo. Herança dos tempos de Oswaldo, a equipe jogou sem um articulador de fato diante do Grêmio. E foi justamente a falta desta peça uma das principais razões para a derrota em Porto Alegre.

Marcelo Oliveira inicialmente deve apostar em Robinho para atuar como meia. Trata-se de um jogador com boa chegada de trás, bom arremate, mas sem a característica primordial de um meia clássico: buscar a bola junto aos volantes e fazer o time jogar a partir da distribuição de jogadas - algo que Douglas, por exemplo, faz muito bem. Ontem, na Arena do Grêmio, Robinho foi muito mais um marcador da saída de bola gremista do que o meia criativo que a equipe tanto precisava. A culpa não é dele, e ele em si não fez um mau jogo. Só não supriu uma lacuna que ninguém até agora conseguiu suprir quando Valdivia. Quem mais se aproximou disso em jogos anteriores foi Zé Roberto, mesmo como lateral esquerdo, pois tem o cacoete de compor o meio. Com Egídio, ontem, nem essa possibilidade o Alviverde teve.

Até o Grêmio abrir o placar, isso não foi tão sentido. Diante de um adversário que jogava em casa, convinha ao Palmeiras esperar o time gaúcho e tentar uma saída em velocidade, especialmente com Dudu. Foi depois do 1 a 0 que a coisa complicou de vez. Marcelo Oliveira enxergou a necessidade de colocar alguém de mais criatividade e mudou o meio-campo todo. Cleiton Xavier e Zé Roberto entraram no setor, mas não mudaram nada. Aí, veio outra questão: faltou organização e, principalmente, iniciativa ao Palmeiras para buscar o empate. Tanto Cleiton quanto Zé não faziam o vaivém necessário para dar dinamismo ao meio-campo. O resultado foi um time espalhado, distante, mal organizado e apático, que não criou sequer uma chance de gol após ter saído em desvantagem.
Grêmio segue no 4-2-2-2, com meias e atacantes alternados. No Palmeiras, o erro de Marcelo Oliveira: um único meia na equipe, e sem a característica da articulação
É preciso salientar também, claro, os méritos do Tricolor. Depois de um primeiro tempo muito truncado, Roger Machado posicionou o Grêmio de forma mais agressiva na segunda etapa, com marcação mais adiantada, muito combate na saída de bola adversária e, principalmente, jogadas pelas pontas. A equipe gaúcha voltou mais compactada e explorando melhor os lados do campo, algo que faltou na etapa inicial, quando voltou ao vício do afunilamento, facilitando os desarmes palmeirenses. Feito o gol, não diminuiu o ritmo. O Grêmio se impõe com muita força dentro da Arena. Só o Sport tem campanha superior como mandante até agora.

O principal mérito gremista, porém, foi outro: a forma como ele administrou o resultado. Sem correr riscos nem passar por qualquer susto, o Grêmio manteve a bola no ataque e, mesmo com o perdido Edinho no lugar de Douglas, jamais chamou o Palmeiras para a pressão. Ao contrário de partidas anteriores, como diante do Corinthians, desta vez houve muita segurança defensiva pelo lado azul. O crescimento coletivo do time de Roger é visível, e a boa colocação é reflexo disso. O golaço de Maicon, por sua vez, o símbolo da boa fase.

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