Cavani precisa de companhia no ataque do Uruguai. Mesmo sem Suárez



É claro que estar atrás no marcador e ter de buscar um gol é uma situação de circunstância de jogo, que nem sempre serve para o seu início. Mas é inegável: os melhores 25 minutos do Uruguai nesta Copa América foram os que sucederam ao gol argentino no clássico de ontem. Não apenas pela necessidade de atacar, mas por uma mudança tática promovida por Óscar Tabárez, que já deveria ter sido colocado em campo desde o início, seja diante da Jamaica ou diante da própria Argentina.

A aposta do Maestro nesta Copa América, sem poder contar com Suárez, é isolar Edinson Cavani na frente e contar com a chegada dos meias para abastecê-lo. Contra a fraca Jamaica, jogo no qual o Uruguai tinha a obrigação de propor as ações, já não havia dado certo: acostumado a jogar com outro atacante de referência a seu lado (seja Luisito na seleção ou Ibrahimovic no PSG), Cavani pouco fez em campo naquela tarde. Com a bola nos pés, a Celeste foi maçante, sonolenta, pouco objetiva e sem nenhum poder de penetração. Ontem, embora o centroavante não tenha ido bem mesmo que a equipe tenha passado do 4-5-1 para o 4-4-2, o Uruguai cresceu com a mexida. Passou a ter mais facilidade de ligar os ataques e por pouco não alcançou um empate que lhe deixaria muito próximo da classificação. Diante da poderosa Argentina, que é infinitamente superior à equipe caribenha.
No 4-2-3-1, Uruguai marcou bem a Argentina no primeiro tempo, mas não criou quase nada
O raciocínio inicial de Tabárez faz sentido: sem Luisito, e sem um substituto que chegue sequer perto do seu nível, é melhor em tese o Uruguai apostar em bons meias para acionar Edinson à frente. Mas as peças foram mal escolhidas. Diego Rolán, jogador de boa temporada no futebol francês, foi o pior em campo ontem no clássico, pois atuou em uma função diferente da que está habituado: em vez de ter liberdade para ingressar na área e dialogar com Cavani, passou o jogo todo como um meia que primeiro precisava marcar Rojo para depois pensar em atacar. Sem qualidade para armar jogo, foi pouco efetivo. Cansado pela correria, perdeu uma chance na pequena área que, se estivesse jogando na sua, sem precisar se desgastar tanto, talvez tivesse colocado para dentro. Jogador de definição, ele não costuma perder esse tipo de gol.

O que fica claro é que a ausência de Suárez não é motivo para isolar Cavani. Ao contrário: é preciso alguma figura que ao menos cumpra taticamente o que faz o artilheiro do Barcelona. Abel Hernández, por exemplo, é muito menos jogador que Luisito, mas sua entrada no ataque ao lado de Cavani melhorou sobremaneira o poder de fogo da Celeste. Pelos seus pés, quase veio o empate aos 44 minutos, não fosse uma grande defesa de Sergio Romero. A Argentina já demonstrara na estreia que, pressionada, poderia entregar o ouro. Ontem isso quase aconteceu de novo. E o Uruguai, ao contrário do Paraguai, não tinha motivos para entrar tão fechado, pois, mesmo sem Luisito, é bem mais time que os guaranis.

Talvez a formação que finalizou o jogo de ontem seja o que deva começar a partida contra o Paraguai. Se não por convicção de Tabárez, pela necessidade de vencer - o Maestro não é teimoso, e já provou isso diversas vezes, mudando as formações da Celeste sempre que as coisas não rendem conforme o esperado. Com Sánchez na direita, Cristian Rodríguez na esquerda e Hernández e Cavani juntos na frente, a Celeste tende a fluir melhor o seu jogo. No meio, a entrada de Álvaro González ao lado de Arévalo Ríos (grande partida dos dois, por sinal) dá a consistência suficiente para que o time não fique aberto demais. Até porque não há outra maneira: o empate no sábado não garante a vaga uruguaia para os mata-matas, mas a vitória sim.
No 4-2-2-2, Uruguai consegue fluir melhor seu jogo e obriga Argentina a recuar Biglia para auxiliar Mascherano, deixando apenas Pastore adiantado no meio

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