A Seleção nunca dependeu tanto de Neymar, e as escolhas de Dunga agravam o problema



Quinto maior artilheiro da história da Seleção Brasileira, com 44 gols, Neymar entrou, pela enésima vez na carreira, nas vinhetas dos programas televisivos, por conta de seus lances geniais e de efeito na vitória sobre o Peru. Sua atuação foi realmente espetacular, e é ótimo para o Brasil que ele chegue à Copa América vivendo, talvez, a melhor fase de sua carreira. Com o toque de midas da genialidade, Neymar será, claro, o referencial do time de Dunga nesta campanha no Chile. Só que toda esta festa em torno do craque não pode esconder algo muito claro: a Seleção nunca dependeu tanto dele.

Na verdade, o Brasil nunca dependeu tanto de um homem só. Os times de 1958 a 1970 (incluindo o mal sucedido de 1966) eram repletos de craques. Em 1974, Rivellino era o principal jogador da equipe, mas ainda havia Jairzinho, por exemplo. Vinte anos depois, Romário foi "o cara" do Tetra, mas tinha a seu lado Bebeto, para não falar em Mauro Silva, Dunga, Aldair, Jorginho... Mas e agora, sem Neymar? Como fica?

Na Copa do Mundo do ano passado, a dependência do time com relação a ele já era absurdamente preocupante. E o pior: nesta Copa América, o principal coadjuvante do camisa 10, Oscar, está fora por lesão. Contra o Peru, mais um agravante: Philippe Coutinho, contundido, também não pôde jogar. Ele é tão ou até mais criativo que Oscar, e poderia suprir a articulação à altura. Tem condições de ser um parceiro até melhor para Neymar do que o meia do Chelsea. O teste conjunto da dupla vai ficar para o duelo de quarta, contra a Colômbia, se tivermos a sorte de Coutinho se recuperar a tempo.

Para piorar as coisas, Dunga escolheu o substituto errado. Nada contra Fred, que, além de ter a confiança do técnico, vem fazendo bons amistosos. Mas é uma questão de característica: Fred é um jogador que preenche bem o meio, se movimenta bastante, mas não tem a contundência ofensiva ou criativa exigida para alguém que deveria ter a função de dialogar com Neymar. O jogo de hoje era claramente para Roberto Firmino começar. Foi com ele que o Brasil venceu a França com autoridade em Saint-Dennis, exibindo uma mecânica ofensiva muito interessante. A melhora da Seleção nos minutos finais do jogo de ontem coincide com a sua entrada no lugar de Fred. Mesmo que Firmino não tenha entrado tão bem, Neymar é obrigado a cumprir menos tarefas com ele em campo e, assim, consegue ser ainda mais efetivo.

Sem Oscar, Coutinho e Firmino, Neymar fica responsável por ser o articulador, o meia-atacante e o centroavante do Brasil,tudo ao mesmo tempo. Ele consegue porque é um gênio, mas não é obrigado a (nem capaz de) jogar sempre a mesma bola que jogou ontem. O dado mais preocupante é justamente o maior elogio ao craque: a Seleção criou dez chances de gol ao longo do jogo, e todas (repito, TODAS) tiveram a participação de Neymar. Nesta conta entram o gol, o qual ele iniciou a jogada como articulador e concluiu como centroavante, e a assistência mágica para Douglas Costa, num passe que só quem é diferente enxerga. Lembrando: o adversário era apenas o Peru, sétimo colocado entre nove seleções nas últimas eliminatórias. A seleção de Ricardo Gareca saiu lamentando a derrota, e com toda razão. Poderia e merecia ter tido resultado melhor.

Comentários