Simplicidade e corda esticada



Algumas suspeitas tomaram ares de confirmação após a fraca partida de ontem à noite na Arena. A primeira é a de que o Grêmio precisa melhorar em diversos aspectos, tanto em termos de reforços como de crescimento coletivo. Do modo atual, só fará um Brasileirão razoável se prosseguir sua Copa do Mundo iniciada no Gauchão, jogando com a corda esticada - ontem, até ela foi quase insuficiente. A segunda é que a formação do estadual não deveria ter sido modificada no começo do certame nacional: jogando com a mesma equipe e esquema que ficaram invictos por 15 jogos, o Tricolor voltou a vencer e a não sofrer gols. A terceira é a de que, apesar de todos os problemas, o que o Grêmio tem hoje é, em termos técnicos e teóricos, já suficiente para escapar do rebaixamento. Pode não ser na prática, ainda é pouco para brigar por algo melhor, mas há material humano para alcançar este objetivo mínimo.

A terceira constatação parece contradizer as duas primeiras, mas não é o caso. Explico: mesmo com tantos problemas conjunturais, de momento, o Grêmio foi amplamente superior ao Figueirense, este sim um dos reais candidatos à queda. Foi uma noite difícil para quem vestiu a nova camisa azul: quem foi à Arena compareceu, principalmente, para cobrar o time. Cada erro de passe refletia uma irritação dos torcedores, uma corneta, urros de impaciência. A pressão era forte, o que ajuda a retirar a confiança dos atletas. O lateral Galhardo, por exemplo, parecia desbravar uma jaula de tigres, tal a força que fazia. a cada passe que tentava dar para a frente. O ambiente dificultou bastante as coisas. E ainda assim, apesar de tudo isso jogando contra, o Grêmio dominou o jogo.

Além, claro, do melhor entrosamento que a formação quase idêntica à do Gauchão adquiriu, um aspecto, principalmente, colaborou para este domínio: a covardia do Figueirense. O time catarinense veio a Porto Alegre para empatar: raramente saiu para o ataque, quase nunca criou qualquer problema defensivo para o Tricolor. O detalhe é que, apesar disso, não armou um ferrolho: a equipe de Argel, embora contasse com muita gente atrás da linha da bola, se defendia mal. Bastava o Grêmio trocar alguns passes mais incisivos ou alguma jogada individual de Marcelo Oliveira, Luan ou Giuliano e os clarões se abriam. É por isso, aliás, que o resultado magro preocupa: diante de um adversário frágil, que quase abdicou do ataque e ainda não soube se proteger da maneira adequada, criar nove chances e levar 78 minutos para fazer um gol é pouco. Isso entra na conta do ambiente tenso, mais que apatia ou propriamente dificuldades técnicas, mas o Grêmio foi bem melhor que seu adversário porque este adversário fez questão de nivelar as coisas por baixo.

Ao contrário de Maceió, Pedro Rocha sucumbiu à dupla marcação da zaga do Figueira. Braian Rodríguez foi bem mais por isso do que pelo gol em si: com um 9 fixo e grandalhão lá na frente, a defesa catarinense tinha mais trabalho. O uruguaio passou a dar uma opção mais consistente para tabelamentos (Giuliano quase fez um gol assim, numa bonita tabela). Foi só com a entrada de Mamute, porém, que o Grêmio efetivamente passou a encurralar o time visitante. Douglas errava três de cada dois passes que tentava. O camisa 11, ao contrário, entrou elétrico como sempre. Além de boas jogadas, acendeu o time com sua movimentação e fez uma linda jogada no lance que culminou com o cruzamento perfeito de Marcelo Oliveira na cabeça de Braian Rodríguez.

O resultado foi importantíssimo. Sim, estamos recém na 3ª rodada do Campeonato Brasileiro, mas o Grêmio precisava muito da vitória. Iniciar com apenas dois pontos diante de Ponte Preta, Coritiba e Figueirense, tendo dois dos três duelos sido disputados em casa, seria trágico. Com 4 pontos, a equipe segue devendo, é claro. mas ao menos tira o peso de não ter vencido. Terá uma semana mais tranquila para trabalhar e se recolocar nos eixos. Há muito o que evoluir, óbvio, mas o caminho fica bem mais curto quando ela começa por uma base de equipe que já se conhece e sabe como jogar junta. James Freitas fez o óbvio: retomar as convicções de Luiz Felipe, as quais o próprio pentacampeão abandonou sem necessidade após perder o título do Gauchão.

Em tempo:
- Yuri Mamute não pode ser reserva do Grêmio.

- Fellipe Bastos entrou na lateral direita e deu resposta superior a Galhardo. Não estaria aí uma alternativa enquanto Buffarini não chega (se é que ele realmente chega)?

- Estatística irrelevante: Braian Rodríguez só marcou gols pelo Grêmio sem a camisa tricolor.

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Ficha técnica
Campeonato Brasileiro 2015 - 3ª rodada
23/maio/2015
GRÊMIO 1 x FIGUEIRENSE 0
Local: Arena do Grêmio, Porto Alegre (RS)
Árbitro: Luiz Flávio de Oliveira (SP)
Público: 9.743
Renda: R$ 243.718,00
Gol: Braian Rodríguez 33 do 2º
Cartão amarelo: Galhardo, Walace, Douglas, Tiago, Braian Rodríguez, Marcelo Grohe, Yago, Cereceda, Bruno Alves e Leandro Silva
GRÊMIO: Marcelo Grohe (6), Galhardo (5) (Fellipe Bastos, 27 do 2º - 6), Rhodolfo (6), Erazo (6) e Marcelo Oliveira (7); Walace (6), Maicon (6), Douglas (5) (Yuri Mamute, 19 do 2º - 7), Giuliano (6) e Luan (6); Pedro Rocha (4) (Braian Rodríguez, intervalo - 7). Técnico: James Freitas
FIGUEIRENSE: Alex Muralha (8), Leandro Silva (4), Marquinhos (6), Bruno Alves (5) e Cereceda (5) (Jefferson, 19 do 2º - 5); Paulo Roberto (6), Fabinho (5), Marquinhos Pedroso (5) e Yago (4) (Mazola, 27 do 2º - 4); Clayton (5) e Everaldo (4) (Marcão, intervalo - 4). Técnico: Argel Fucks

Comentários

Rodrigo disse…
A amargura da torcida gremista já extrapolou todos os limites. Quem vai ao estádio para pegar no pé dos jogadores deveria ficar em casa. Se o clube não tem dinheiro para fazer grandes contratações, a melhor coisa a ser feita é apoiar quem está em campo, tentar ao máximo passar confiança à equipe. Do contrário, a situação só tende a piorar.
Vicente Fonseca disse…
Pois é, Rodrigo, ontem tive que me segurar. Jogo já tenso, complicado, e os caras o tempo todo reclamando. Gente chata demais.
Chico disse…
Finalmente uma vitória. Só espero que tragam um técnico de verdade.
Sancho disse…
Tu olhas o elenco do Grêmio, e a impressão é que o clube está contendo gastos, fazendo esforços para ainda assim ter um time competitivo. No entanto, segundo consta, a folha do Grêmio é incrivelmente cara. De onde essa discrepância? Alguém sabe?
Vicente Fonseca disse…
Sancho, não sei exatamente em quanto está a folha do Grêmio agora, mas acredito que a queda foi acentuada de janeiro para cá. Saíram Barcos, Moreno, Cebolla e, principalmente, a comissão técnica, que era muito cara. Acho que só por isso se está voltando com a ideia de Fernandinho retornar da Itália, por exemplo. Não imagino que seja uma das folhas mais baratas da Série A (equipes menores certamente ainda gastam menos), mas com certeza é, dos "12 grandes", uma das menos caras.
Vicente Fonseca disse…
Ah, não citei o Kleber porque, embora ele não esteja mais no clube, a conta ainda vai chegar. Mas Adriano também saiu, e Edinho deve sair em breve também.