Sem pressa, mas com convicção e cultura
O Grêmio completou hoje o quarto dia sem treinador. Claro que a ansiedade cresce: a dos torcedores, dos jogadores... Todos querem saber quem será o substituto de Luiz Felipe. Mas, embora ficar muito tempo sem um comandante nunca seja bom, é melhor demorar e tomar a decisão certa do que fechar negócios sem convicção para dar uma satisfação aos apressados. Por mais que o momento do time exija uma substituição que não demore muito a ser feita.
A comissão técnica permanente é uma das tantas mudanças que Romildo Bolzan Jr. deseja implantar no Grêmio. Não será fácil, e ele vem sentindo isso na carne nos últimos dias, com as dificuldades de negociar com Cristóvão Borges. Mas era sabido que seria assim: a maioria dos treinadores já tem seus homens de confiança. Colocar profissionais do próprio clube fixos e impedir que os auxiliares venham com o treinador dificulta qualquer negociação. Trata-se de uma medida importante e corajosa, mas também penosa, como todas as que Bolzan está tentando instituir em 2015.
É exatamente por isso que não é possível haver pressa, embora isso não possa se confundir com marasmo. No entanto, o que preocupa é que os perfis dos profissionais mais cogitados são bem distintos. Cristóvão, por exemplo, pensa futebol diferente de Doriva. Se Itamar Schülle realmente é admirado pelos dirigentes, lá vem uma terceira escola completamente diversa. Ora, manter uma comissão técnica fixa tem por objetivo, além da óbvia diminuição de custos, o fortalecimento da cultura de futebol própria do clube, aproximando o profissional da base, moldando os jovens a atuar como os profissionais, e estes para jogarem de acordo com o que preza a cartilha, o caráter do clube.
Neste caso, o Grêmio deveria contratar um profissional que pense futebol do modo como historicamente o Tricolor sempre buscou desempenhar: alguém que trabalhe com segurança defensiva, começando o time a partir da defesa, pela força física, pela marcação cerrada, pela solidariedade, dedicação, entrega. Tudo, claro, aliado a uma boa qualidade técnica (apesar do folclore, o Grêmio campeão era bem mais que só China, Dinho ou Baidek, é claro). Um profissional parecido com Felipão, mas o Felipão do passado, com sangue nos olhos e vontade de vencer. Não é pensamento mágico, muito menos a repetição de nomes gloriosos do clube: é utilizar uma fórmula que já deu certo em diferentes momentos da história, seja em 1935, 1962-68, 1981, 1983, 1989, 1993-96, 2001 ou 2005-07, só para pegarmos os exemplos mais conhecidos e ilustres, que viajam num intervalo de sete décadas.
Assim, a escola gaúcha é a que deveria receber mais carinho na apreciação da cúpula gremista. Itamar Schülle, de fato, é um ótimo nome: de boas campanhas pelo interior, ganhou o Campeonato Paranaense com o Operário dando show diante do mesmo Coritiba que derrubou Luiz Felipe. Rogério Zimmermann, porém, é a bola da vez: durante todo o Gauchão se debateu várias vezes se ele estaria já pronto para fazer um trabalho na Série A, e de fato parece estar. Claro, o técnico não precisa ter nascido no Rio Grande do Sul (o próprio Itamar é catarinense, bem como Gilmar dal Pozzo, outro que quase nem foi citado), mas é importante que haja uma identificação com o que o clube Grêmio pensa de futebol. Lazaroni, Mancini, Edinho e vários outros resistiram por pouco tempo também por conta disso - Enderson Moreira é o caso mais recente. Treinadores que divergem desta cultura não costumam resistir muito: Telê Santana foi uma exceção. Vanderlei Luxemburgo, apesar de um bom ano em 2012, saiu pela porta dos fundos no ano seguinte.
O Grêmio já tentou se reconciliar com seu passado vitorioso várias vezes nos últimos anos: Renato Portaluppi, Luiz Felipe e Fábio Koff foram os mais recentes, mas em tempos bem mais sombrios (2004/05) lançou mão de Hélio Dourado, Hugo de León e Mário Sérgio. O erro todo está aí: o Grêmio precisa se reconciliar é com sua cultura de futebol, muito mais que com seu passado, que é glorioso e está bem onde está. Valdir Espinosa, Cláudio Duarte, Luiz Felipe, Tite e Mano Menezes eram todos apostas quando assumiram o clube. Em comum, dois fatos: o de que todos triunfaram (uns em maior proporção que outros) e o de que todos são profissionais identificados com o pensamento de futebol arraigado na cultura do Grêmio. Como Itamar, Zimmermann, Zaluar, Dal Pozzo e quem quiser aceitar o desafio.
Comentários
Quanto ao conflito entre comissão técnica permanente e treinadores, estes estão entrando em extinção, logo, melhor momento não há para montar um grupo de profissionais fixos no clube. Torço para que dê os resultados que merecem.