Otimismo grande para um desafio grande



O discurso de todos no Internacional após o jogo desta quarta é de otimismo, e não poderia ser diferente. Mas não se trata de um excesso de confiança de parte dos colorados, e sim uma necessidade diante das circunstâncias. É preciso, mesmo, criar um clima positivo para o jogo do Beira-Rio, pois a tarefa não será fácil. O Santa Fe deu bem a dimensão das dificuldades que estão sendo as quartas de final para a equipe gaúcha. Venceu, e jogando melhor, sem margem para maiores contestações. O 1 a 0 até saiu barato para a equipe de Diego Aguirre.

O objetivo do Inter em Bogotá era marcar um gol. Discurso interessante, e que mostra bem a qualidade desta equipe: em vez de jogar um mata-mata como visitante pensando em não tomar gols, o Colorado foi à Colômbia tentando trazer ao menos um na bagagem. Na prática, porém, a história acabou sendo outra. O Inter não conseguiu cumprir seu objetivo de ir às redes. Por pouco, não obteve sucesso ao menos em sua empreitada defensiva. No fim das contas, nenhum objetivo alcançado. Mas o Santa Fe tem muita "culpa" nisso tudo.

O Internacional respeitou bastante seu adversário. Tratando o Santa Fe como uma grande equipe, tratou primeiro de suportar a pressão para depois pensar em atacar. Aránguiz, por exemplo, quase não subiu no primeiro tempo. Gustavo Costas, inteligentemente, inverteu Páez com Morelo, com este último, acostumado a jogar pela direita, atuando pelo lado canhoto. Morelo não esteve em boa noite, mas é normalmente um atacante infernal, e, que, portanto, obriga o adversário a tomar precauções. Isso tudo ajudava a segurar o chileno do Inter lá atrás, impedindo-o de se somar ao ataque.

Pela outra ponta, Anchico, lateral de características principalmente defensivas, subia o tempo todo, obrigando Valdívia a recuar e ficar longe de onde gosta. Mas faltava conclusão, e o primeiro tempo se resumiu a isso: um Santa Fe que tinha a bola, mas era muito bem marcado por um Inter dedicado, sem vergonha alguma de jogar pelo empate, que naquele momento, além de lhe servir, era justo.

Para a etapa final, era previsível que Aguirre fosse tentar soltar mais o seu time. William subia mais, Aránguiz passou a sair com maior frequência, Valdívia, D'Alessandro e Sasha procuravam mais de perto o agora não tão isolado Lisandro López. Porém, essa ousadia abriu espaços para Omar Pérez jogar, e por ele passa tudo no Santa Fe. Com postura de mandante forte, os colombianos se impuseram novamente e passaram a pressionar, seja em bolas paradas ou em tabelamentos, tendo sempre Pérez como pivô. As saídas dos apagados Morelo e Páez para as entradas de Rivera e Borja aumentaram o gás do ataque. A verdade é que, embora quase tenha trazido um bom resultado, Aguirre desta vez passou a noite inteira correndo atrás do que propunha Gustavo Costas.

As chances se multiplicavam (foram oito claras só na etapa final) também à medida que o cansaço atingia o Inter. A altitude de Bogotá não é tão severa, mas pode cobrar seu preço aos times que se limitam a marcar e pouco procuram jogar, caso do Colorado hoje. Nilmar poderia ter entrado antes, Alex poderia ter substituído D'Alessandro em vez de Freitas, mas Aguirre resolveu, nos 15 minutos finais, apostar tudo no empate, ou num contra-ataque milagroso (que Nilmar quase converteu mesmo em gol). Acabou se dando mal mesmo com o alto volante uruguaio e mais um zagueiro grandalhão - Réver - na área. Juan vacilou, Mosquera subiu livre e fez 1 a 0, em lance que já havia ocorrido quase 30 minutos antes, mas no qual o lateral esquerdo acertou o travessão.

É claro que a situação é reversível, e o discurso tem mesmo de ser este. No Beira-Rio lotado, o Internacional é perfeitamente capaz de se classificar. Mas não será fácil. O Santa Fe não é um time que se defenda maravilhosamente, mas foi o único que não tomou gols do Inter como mandante nesta Libertadores, por exemplo. É uma equipe com várias figuras perigosas, de alternativas táticas e de banco e dono de um contragolpe rápido e letal - e um gol dos cardenales complicará e muito a situação. Em Porto Alegre, por exemplo, Wilson Morelo terá muito mais espaço do que no jogo de hoje. O Colorado tem mais time, terá a torcida e uma vantagem nada impossível de reverter. Mas a parada promete ser complicada. Vem aí mais uma das noites de Copa que entram para a história.

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Ficha técnica
Copa Libertadores da América 2015 - Quartas de final - Jogo de ida
20/maio/2015
SANTA FE 1 x INTERNACIONAL 0
Local: El Campín, Bogotá (COL)
Árbitro: Néstor Pitana (ARG)
Público: 20.000
Gol: Mosquera 46 do 2º
Cartão amarelo: Roa e D'Alessandro
SANTA FE: Castellanos (6), Anchico (6), Mina (6,5), Meza (6,5) e Mosquera (7); Torres (5), Roa (6), Seijas (5,5) e Pérez (6,5); Morelo (4,5) (Borja, 23 do 2º - 5,5) e Páez (4,5) (Rivera, 17 do 2º - 6). Técnico: Gustavo Costas (6,5)
INTERNACIONAL: Alisson (7), William (6), Alan Costa (5), Juan (5) e Ernando (5,5); Rodrigo Dourado (5,5), Aránguiz (6,5), D'Alessandro (5,5) (Freitas, 29 do 2º - 5), Eduardo Sasha (5,5) (Nilmar, 24 do 2º - 6) e Valdívia (6); Lisandro López (5) (Réver, 41 do 2º - sem nota). Técnico: Diego Aguirre (4,5)

Comentários

Vine disse…
Belo jogo, mas acho que o Aguirre respeitou demais o Santa Fe, principalmente no final do jogo. Bem que ele poderia ter tirado o Lisandro e colocado o Alex, jogador experiente e com chute de longe. Seria uma alternativa de reforçar um pouco a marcação sem perder muito ataque.
Vicente Fonseca disse…
Também acho que ele respeitou demais o Santa Fe, algo que contradiz o discurso ultraotimista de todos. É preciso haver mais equilíbrio, tanto nas palavras como dentro de campo.