Oitavas que vão deixar saudade



Quem viu o jogo da semana passada entre Internacional e Atlético-MG sabia que hoje viveríamos uma noite especial. Mas talvez não fosse possível prever que ela superaria a do próprio Independência. Pois Colorado e Galo repetiram a dose e voltaram a fazer um dos jogões do ano de 2015 no Beira-Rio. No final deu Inter, com um 3 a 1 que não reflete o equilíbrio do confronto, mas fez justiça a quem foi mais competente em sua proposta de jogo e, principalmente, na hora de finalizar as jogadas.

Se somarmos Horto e Porto Alegre, o Galo criou 25 chances de gol contra 10 do Inter, e finalizou 35 vezes contra 11, um número ainda mais impressionante. Isso, porém, não mostra superioridade mineira sobre os gaúchos: apenas é reflexo do fato de que o Atlético-MG teve de correr contra a desvantagem por 179 dos 180 minutos do confronto. Era previsível que a postura do time de Levir Culpi fosse a de agredir o Inter, mesmo no Beira-Rio. E o Colorado gosta de jogar assim, especulando. Matou a Universidad de Chile e o Grêmio em contragolpes. Fez o mesmo quarta, e fez o mesmo hoje.

A pressão inicial foi forte. O lado direito de ataque era a mina de ouro do Galo, que tinha em Luan e Patric duas peças que envolviam o sistema defensivo do Inter na base de roubadas adiantadas e muita velocidade. Algumas chances foram criadas no começo, duas antes dos três minutos. Lisandro teve o primeiro contra-ataque do jogo aos 7, em lançamento de D'Alessandro, mas desperdiçou. Aos 21, ele serviu Valdívia, o predestinado, que encobriu Victor, mal colocado.

O Galo sentiu um pouco o baque do gol, pois aparentemente controlava a partida. Tentou voltar a uma pressão nos minutos finais, até D'Alessandro tirar um coelho da cartola e fazer, talvez, o gol mais bonito do novo Beira-Rio (Tim Cahill à parte). O primeiro tempo terminava com pinta de campeão: Inter 2 a 0, com dois golaços, diante de um adversário fortíssimo. Mas o placar não foi construído com qualquer tipo de massacre ou maior volume de jogo, e sim explorando erros alheios e através de jogadas individuais maravilhosas. Isso é um problema? Claro que não. É solução.

Só que é preciso ter em mente isso antes de tratar o segundo tempo como mera formalidade, como talvez a empolgação justificada de muitos torcedores tenha dado a impressão. Com Maicosuel, melhor em campo na estreia do Galo diante do Palmeiras, teve uma peça capaz de furar a marcação colorada também pelo meio. Jorge Henrique entrou perdido no lugar do lesionado Sasha: nem atacou, muito menos marcou Patric, que fez a festa pelo lado direito. O gol de desconto, porém, surgiu pelo meio, com Maicosuel servindo Pratto livre. E o 2 a 1 recolocava o Atlético-MG de vez no jogo.

Foi o pior momento do Inter em todas as oitavas. Mesmo com Freitas em campo e Valdívia no lugar que era o anteriormente ocupado por Jorge Henrique, o Atlético-MG seguia com muito volume de jogo e estava próximo de empatar. Na verdade, só não o fez porque Alisson foi milagroso mais de uma vez, sendo tão decisivo quanto Valdívia ou D'Alessandro. Em duas vezes, tirou o gol dos pés de Pratto. O Inter se segurava como podia. O miolo de zaga foi impecável, mesmo com vazamento pelas laterais. Na verdade, é preciso dizer que a defesa vazava também porque estava diante de um adversário poderoso.

Em um jogo decisivo, qualquer desconcentração é fatal. E Dátolo falhou feio, serviu Lisandro López como se ainda estivesse jogando de vermelho. Seu posicionamento recuado demais naquele lance é originário do fato de Levir tê-lo posicionado como lateral, ao tirar Douglas Santos e colocar Jô - mas claro, o técnico atleticano não tem culpa pelo gol. Por outro lado, até este gol "dado" pelo argentino do Galo é um mérito do Inter. Dátolo entregou, assim como Johnny Herrera, Matías Rodríguez, Marcos Rocha e Fellipe Bastos. O Colorado força o erro de todo mundo, e com essa marcação adiantada transforma um erro de passe rival em uma assistência decisiva a cada jogo. E assim vai passando por todos os seus adversários e conquistando seus objetivos.

Como já se dizia antes do mata-mata, o vencedor sai credenciado a tudo. E é lógico que o Inter, pelo que apresentou diante do Atlético-MG, mostrou ser candidatíssimo ao título da Libertadores. Só não dá para achar que já passou pelo pior: o Galo, eu disse antes mesmo de se definir como adversário colorado, é o time mais copeiro do Brasil nos últimos anos. Mas o Santa Fe, embora sem tanta grife, é ainda melhor que seu time semifinalista de 2013, algo que já falei aqui algumas vezes também. É assim, marcando forte, forçando o erro alheio, que o Inter sabe suplantar seus rivais. Portanto, jogar solidariamente, no limite, segue sendo obrigação. É o modelo que Aguirre escolheu, e que vem fazendo tanto sucesso.

Em tempo:
- Sobre os lances polêmicos: falta de Leonardo Silva bem marcada no lance do gol anulado de Jemerson e pênalti claro não marcado de Juan em Jô no segundo tempo.

- Maicosuel, pelo que vem jogando, merece a titularidade no Galo.

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Ficha técnica
Copa Libertadores da América 2015 - Oitavas de final - Jogo de volta
13/maio/2015
INTERNACIONAL 3 x ATLÉTICO-MG 1
Local: Beira-Rio, Porto Alegre (RS)
Árbitro: Julio Bascuñan (CHI)
Público: 42.888
Renda: R$ 1.833.035,00
Gols: Valdívia 21 e D'Alessandro 45 do 1º; Pratto 13 e Lisandro López 35 do 2º
Cartão amarelo: Ernando, Leandro Donizete, Douglas Santos, Luan e Giovanni Augusto
INTERNACIONAL: Alisson (7,5), William (6), Alan Costa (6,5), Juan (6,5) e Ernando (6); Rodrigo Dourado (6), Aránguiz (6,5), D'Alessandro (8) (Réver, 39 do 2º - sem nota), Eduardo Sasha (5,5) (Jorge Henrique, 47 do 1º - 4) (Freitas, 21 do 2º - 5,5) e Valdívia (7,5); Lisandro López (6,5). Técnico: Diego Aguirre (6,5)
ATLÉTICO-MG: Victor (4,5), Patric (7), Leonardo Silva (6), Jemerson (5,5) e Douglas Santos (5,5) (Jô, 24 do 2º - 5,5); Rafael Carioca (6), Leandro Donizete (5,5) (Maicosuel, intervalo - 6,5) e Dátolo (4); Luan (6), Pratto (6,5) e Thiago Ribeiro (4,5) (Giovanni Augusto, intervalo - 4,5). Técnico: Levir Culpi (6)

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