Millonazo



Aquele que ele era tido como o duelo mais próximo de uma resolução após a rodada de ida das quartas de final da Libertadores foi, de fato, o mais desparelho de todos. Só que o time que adquiriu o favoritismo com a vitória da semana passada é que se deu. Falávamos ontem: o Cruzeiro tem uma ótima vantagem, mas qualquer vitória serve ao River Plate no Mineirão. E a vitória veio, e não foi qualquer vitória, mas um massacre que entra para a história dos dois clubes na Libertadores.

Marcelo Oliveira comentou na semana passada que ainda via o Cruzeiro de certa forma instável, e isso se verificou com precisão nos dois jogos diante dos argentinos. Em Buenos Aires, a Raposa foi segura e firme como nunca havia sido na Libertadores até então. Em Belo Horizonte, foi completamente dominada por um River que, ao contrário do bicampeão brasileiro, já deixou a instabilidade do começo do ano para trás e voltou a ser o time temível de 2014, campeão argentino no primeiro semestre e da Copa Sul-Americana no segundo.

Como no Monumental de Núñez, os argentinos é que deveriam vir para cima e tomar a iniciativa da partida. A diferença inicial esteve no Cruzeiro: empurrado por um Mineirão com 56 mil torcedores, a equipe de Marcelo Oliveira foi diferente do jogo de ida: tratou de atacar, nem sempre de forma coordenada, concedendo espaços generosos para a equipe visitante. Kranevitter, como no jogo de ida, anulou Arrascaeta. Só que, ao contrário de Núñez, desta vez o Cruzeiro não esteve compactado, mas espalhado. Isso facilitou a marcação do time de Gallardo e foi a base para a dominação completa do primeiro tempo.

Não que o Cruzeiro tenha atacado, ao contrário: tirando uma boa jogada de Damião que Willian chutou por cima, aos dois minutos, a Raposa não fez nada no primeiro tempo. Mas o fato é que os mineiros estavam preparados é para jogar no campo do rival, e não para se defender, o que foi um erro terrível de leitura do confronto. Foi o goleiro Fábio que alertou, no intervalo, que o time entrou achando que venceria com facilidade, e por isso acabou batido.

A postura do River surpreendeu. Rojas na esquerda foi um acerto de Gallardo, já que Pisculichi faz uma péssima temporada. Sánchez, pela direita, foi o mentor de quase toda essa dominação. Ele, Ponzio, Kranvitter e Rojas isolavam a defesa cruzeirense de seu ataque, dominavam a meia-cancha e abasteciam Mora e Gutiérrez o tempo todo. A base da dominação argentina esteve no controle do meio. Curiosamente, porém, foi Sánchez quem acabou sendo servido por Gutiérrez no lance no primeiro gol, o que escancarou as dificuldades do confronto, que já não era fácil àquela altura (19 minutos).

A partir do 1 a 0, a vantagem da ida estava desfeita, e o pavor bateu. Com jogadas pelos lados através dos meias (os laterais tratavam de subir mais na boa, e primeiro impedir Willian e Marquinhos de criarem) e roubadas de bola ofensivas a partir de uma postura agressiva (e como Bruno Rodrigo e Manoel erraram...), o River foi empilhando situações até ampliar com Maidana, num escanteio. O 2 a 0 já obrigava os mineiros a fazerem dois gols. Só se ouviam cânticos em castelhano na Pampulha.

A torcida azul tentou empurrar na volta do intervalo, já com Gabriel Xavier no lugar do apático Arrascaeta. Porém, o golaço de Gutiérrez, dono da noite, matou de vez o confronto. Alisson e Joel, novos ingressados em campo, até criaram algumas oportunidades, mas Sánchez e Martínez também. O Cruzeiro poderia até ter descontado, mas a goleada também poderia ter sido ainda maior. A instabilidade segue forte na Toca da Raposa, tão forte que pode se transformar em crise se a equipe não reagir rápido no Campeonato Brasileiro.

Se o Internacional dá pinta de campeão desde as partidas contra o Atlético-MG, o River Plate também vem dando desde que passou dramaticamente pelo San José na primeira fase e pelo Boca Juniors na fumaceira da Bombonera. Os 3 a 0 de ontem foram inequívocos neste sentido: depois de passar por Boca e Cruzeiro e de não perder para outro semifinalista (o Tigres) na primeira fase, a equipe argentina é candidatíssima ao título. Não mudou a base do time vencedor do ano passado (a melhorou, inclusive) e vem crescendo de forma impressionante e contínua. Reverter uma desvantagem em Belo Horizonte, e de goleada, é para pouquíssimos, é para campeões da América.

E atenção: em todos os duelos das quartas de final até agora, quem ganhou o primeiro jogo acabou eliminado. Aposto que esta escrita se manterá hoje à noite. É totalmente equivocado desprezar o Guaraní, mas acredito que o clássico da semifinal será argentino, e não brasileiro. Um reflexo de quem realmente vem mandando no futebol sul-americano desde 2014.

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Ficha técnica
Copa Libertadores da América 2015 - Quartas de final - Jogo de volta
27/maio/2015
CRUZEIRO 0 x RIVER PLATE 3
Local: Mineirão, Belo Horizonte (MG)
Árbitro: Wilmar Roldán (COL)
Público: 55.591
Renda: R$ 3.646.216,00
Gols: Sánchez 19 e Maidana 44 do 1º; Gutiérrez 6 do 2º
Cartão amarelo: Mena, Willian, Barovero e Mercado
Expulsão: Gabriel Xavier 41 do 2º
CRUZEIRO: Fábio (5), Mayke (4), Manoel (3), Bruno Rodrigo (3) e Mena (4); Willians (5) (Joel, 26 do 2º - 5), Henrique (4) e Arrascaeta (3) (Gabriel Xavier, intervalo - 5); Marquinhos (3), Leandro Damião (5) e Willian (4) (Alisson, 10 do 2º - 6). Técnico: Marcelo Oliveira
RIVER PLATE: Barovero (6), Mercado (7) (Pezzella, 15 do 2º - 6), Maidana (8), Funes Mori (7) e Vangioni (7); Kranevitter (8), Ponzio (7) (Mayada, 27 do 2º - 6), Sánchez (9) e Rojas (8); Mora (7) e Gutiérrez (9) (Martínez, 33 do 2º - 7). Técnico: Marcelo Gallardo

Comentários

Vine disse…
Fiquei impressionado com o domínio que o River exerceu. Isso que, ao meu ver, os jogadores do Cruzeiro não ficaram afobados e/ou desesperados. Domínio, tático e psicológico. Baita jogo.
Vine disse…
Pra complementar: sempre criativo nos títulos, heinhô...
Vicente Fonseca disse…
Hahah, valeu Vine.

Acompanhei o jogo pela Fox e logo após o primeiro gol do River o repórter dise que viu os jogadores do Cruzeiro todos se olhando, sem saber o que fazer direito. Ou seja: apavorados eu acho que estavam, sim. Mas afobados, não. Apáticos acho que é a palavra certa.