Futebol no domingo de manhã. Por que não?

O futebol é um ambiente naturalmente conservador, onde o saudosismo impera em diversas esferas e tudo que surge como novidade é visto com olhos desconfiados. Muitas vezes, o nariz torcido se justifica. Em outras, vem por puro hábito, sem que sequer se pare para pensar no que está sendo proposto.

Digo isso como preâmbulo para tratar dos jogos às 11:00 da manhã de domingo, o novo horário que a CBF implantará no Campeonato Brasileiro. E falo sem a pretensão de parecer um cara totalmente aberto a inovações. Afinal, minha primeira reação a esta novidade também foi negativa. "Para que inventarem mais essa", pensei, de bate-pronto, quase que de reflexo. Mas, parando para pensar, por que não tentar?

Para quem vai ao estádio, o horário obriga alguns torcedores a acordarem talvez mais cedo do que de costume neste dia sagrado de descanso - ou de recuperação da noitada. Talvez o almoço de família fique interrompido, ou até mesmo seja cancelado. Porém, ganha-se o resto do dia inteiro para ser aproveitado de outras maneiras. Se tantos programas dominicais ocorrem normalmente antes do almoço, por que o futebol possa ser neste horário? Torcemos o nariz por puro costume, apego à tradição de que os jogos devem começar às 16:00. A lógica do domingo com um jogo às 11:00 se modifica em relação ao que nos acostumamos, mas ela pode ser igualmente proveitosa. Quem sabe até melhor.

Os únicos dois jogos realizados neste horário em tempos recentes corroboram com o que digo. Somando os duelos que fez em casa contra XV de Piracicaba e Botafogo-SP, o Palmeiras recebeu 62 mil pessoas, média de 31 mil por jogo, superior à que teve durante o resto do Campeonato Paulista. E isso que não eram clássicos. A torcida alviverde, portanto, aprovou a ideia. E não havia mesmo porque dar errado: o horário das 11:00 de domingo é muito menos estúpido que o de 22:00 de quarta ou o das 21:00 de sábado. A diferença é que nossa cultura se acostumou com estes dois períodos de jogos, por mais que vivamos reclamando deles.

Para quem vê pela televisão, então, a vantagem é ainda mais evidente: trata-se de mais um horário para acompanhar os jogos da rodada, mais um atrativo do almoço de família. Comercialmente falando, tenho lá minhas dúvidas: é certo que teremos mais um jogo para ser vendido ao exterior, mas ele concorrerá diretamente com campeonatos europeus, que costumam ter jogos neste horário. Será a melhor estratégia? O tempo dirá. É certo que Grêmio x Ponte Preta está a léguas de impacto de um Chelsea x Arsenal em termos mercadológicos. Porém, é preciso levar em conta que de maio a setembro o futebol na Europa entra em férias. Eis aí um nicho que, se bem explorado, pode alavancar nossa audiência lá fora.

O único cuidado que precisa ser levado em conta é relativo ao clima. Fazer um Grêmio x Ponte Preta às 11:00 da manhã de um domingo de maio é uma coisa. Realizar este jogo neste mesmo horário em dezembro, em Porto Alegre, é outra, bem diferente. Jogos no final da manhã exigem climas amenos. No Nordeste, por exemplo, é proibitivo, e a Copa do Mundo do ano passado já deixou isso muito claro. A CBF e as emissoras de TV precisam ter bom senso na hora de escolher os duelos matutinos. Bom senso que nunca tiveram, por exemplo, quando escolhiam (e ainda escolhem) marcar confrontos para Porto Alegre, Curitiba ou Caxias do Sul às 22:00 de uma quarta-feira de julho, por exemplo.

Mas numa coisa eu permaneço saudosista, e não baixo jamais a guarda: que tempos gloriosos aqueles em que as rodadas começavam às 16:00 de sábado. Sigo achando o melhor horário para o futebol em toda a semana, seja para ir ao estádio ou ver do sofá de casa. Estou aberto às novidades, mas a algumas tradições me mantenho fiel como um cão de guarda.

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