Frieza, organização e eficiência contra o favoritismo



Mais do que o Olimpia de 2013, o Guaraní lembra o Nacional de 2014: o patinho feio das oitavas que, a partir de muita organização, frieza e eficiência, vai engolindo os favoritos. Depois de ser o segundo time na história a vencer o Corinthians em Itaquera, ontem conseguiu a proeza de eliminar o fortíssimo Racing em pleno Cilindro de Avellaneda, talvez o maior caldeirão desta Libertadores. E mais: nestes quatro jogos, venceu três e ainda não sofreu sequer um golzinho.

É verdade que as circunstâncias jogaram a favor mais uma vez. Em três dos quatro jogos, o Guaraní teve superioridade numérica - em dois deles, ainda no primeiro tempo. Isso facilita as coisas, mas é preciso que se diga que apenas diante do Racing, em Assunção, a expulsão adversária foi injusta. Ontem, foi criada aproveitando um erro argentino. De novo, assim como em São Paulo, os paraguaios jogaram por uma bola, e não a desperdiçaram. A eficiência é a marca do time de Fernando Jubero, uma equipe que, a partir de suas humildes qualidades, mostra capacidade de transformar uma parada torta em um jogo à sua feição.

Os méritos da chegada às semifinais são imensos, principalmente porque, ao contrário do Corinthians, o Racing nunca tratou o Guaraní como "um presente de Deus". Vacinados, os argentinos jamais menosprezaram a equipe de Assunção. Com Aued de volta, Diego Cocca teve sua formação próxima do ideal em campo. A esperada pressão, porém, esbarrava na organização tática ímpar dos paraguaios, armados num traiçoeiro 3-6-1. A maioria das chances do time de Avellaneda no primeiro tempo vinham em chutes de fora da área, pois era difícil ingressar nela com a bola dominada.

O lance que mudou tudo veio aos 44 minutos. Grimi, lateral que jogou improvisado como zagueiro, recuou mal para Saja, que teve de cometer o pênalti em Palau (volante, era ele quem estava lá para dar o bote, e não Santander ou um dos meias) na pequena área para não sofrer o gol. A expulsão deixava os argentinos com um a menos no fim da etapa inicial, como em Assunção. Aí, veio o único momento da noite em que a camiseta do Racing pesou: Benítez bateu mal, e Ibañez, que entrou em campo sem sequer ter tido tempo de aquecer, fez grande defesa. O primeiro tempo acabava em 0 a 0, com a torcida inflamada pelo milagre, cheia de esperança. Mas com o Racing ainda em desvantagem.

O Guaraní poderia sentir o peso de ir para o intervalo vendo a grande chance de classificação desperdiçada. Porém, Jubero sabe injetar tranquilidade em seus jogadores. O intervalo, portanto, veio de maneira providencial para os paraguaios, que voltaram para a etapa final com a mesma frieza de todos os jogos. Convenhamos, não era nada fácil o cenário: mesmo com um a menos, o Racing tinha mais time, uma torcida fanática a seu lado e jogava por apenas um gol. Pois o Guaraní tratou de ignorar isso: Jubero sabia que, suportando os primeiros 10 minutos, a pressão aos poucos diminuiria. A inflamação pelo pênalti defendido por Ibañez se transformaria em nervosismo nas arquibancadas, e o cansaço argentino viria a galope. Foi exatamente o que aconteceu.

O Racing pressionou muito nos cinco minutos iniciais, esteve pertíssimo de marcar, mas não conseguiu. Foi, então, diminuindo a cada minuto que passava, esgotado. Na base da raça, chegava algumas vezes com perigo, mas ficava claro que faltariam pernas. As entradas de Brian Fernández e Óscar Romero não foram suficientes para mudar o panorama. O pecado paraguaio foi não ter matado o jogo nos contragolpes que teve. O experiente Santander, por exemplo, foi varzeano ao isolar uma bola livre já nos acréscimos. Poderia ter feito falta este gol.

O Racing cai, mas cai de pé, muito aplaudido pelo esforço. Foi prejudicado por Sandro Meira Ricci em Assunção, quando era superior ao Guaraní e teve Lollo exageradamente expulso. Foi mais aquela expulsão que a de Saja a que minou os argentinos no duelo. Os paraguaios chegam às semifinais, onde terão mais um grande favorito pela frente: o River Plate de Marcelo Gallardo, que quer a Libertadores tanto quanto queria o Racing, mas já entra vacinado pelas duas enormes classificações obtidas por seu adversário e, principalmente, por ter passado de forma dramática pela primeira fase e nos dois mata-matas que teve. O que pode mudar as coisas, desta vez, é o fato de o Guaraní decidir em casa. Terá forças para buscar uma vitória no Defensores del Chaco, caso necessite? A tarefa é bem diferente, mas superar Itaquera e o Cilindro são excelentes credenciais.

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Ficha técnica
Copa Libertadores da América 2015 - Quartas de final - Jogo de volta
28/maio/2015
RACING 0 x GUARANÍ 0
Local: Cilindro, Avellaneda (ARG)
Árbitro: Andrés Cunha (URU)
Público: não divulgado
Renda: não divulgada
Cartão amarelo: Acuña, Videla, Mendoza e Palau
Expulsão: Saja 44 do 1º
RACING: Saja (6), Pillud (6), Cabral (6), Grimi (4) e Voboril (5); Videla (6), Aued (6) (Óscar Romero, 36 do 2º - sem nota), Acuña (6) (Ibañez, 46 do 1º - 8) e Camacho (6) (Brian Fernández, 12 do 2º - 6); Bou (7) e Diego Milito (6). Técnico: Diego Cocca
GUARANÍ: Aguilar (9), Patiño (7), Cáceres (8) e Maldonado (8); De La Cruz (6) (Filippini, 25 do 2º - 5), Mendoza (7), Palau (8), Benítez (5) (Juan Aguilar, 41 do 2º - sem nota), Contrera (5) (Ocampo, 19 do 2º - sem nota) e Bartoméus (5); Santander (5). Técnico: Fernando Jubero

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