59 dias de pouca sorte

Cristian Rodríguez foi a maior frustração em termos de contratação dos tempos recentes no Grêmio, talvez no futebol brasileiro. Jogador de seleção, de lotar aeroporto (como aliás lotou), que chega num momento de crise, como uma espécie de símbolo para uma possível retomada do clube, mas que fica por 59 dias e joga menos de 90 minutos. É o maior caso de expectativa não confirmada dos últimos tempos. Ainda assim, é possível dizer que alguém errou nessa história toda?

O Grêmio não errou ao trazer Cebolla, mas correu um risco grande. O risco de ele ficar por apenas três meses e sair no meio do ano, ao final do empréstimo. Porém, sabia-se que ele só teria a chance de permanecer por mais tempo se esse primeiro contrato curto fosse cumprido. Foi uma aposta que, se desse certo, garantiria ao elenco um excelente reforço. Se não desse, bom, partiria-se para outra. Marcelinho Paraíba e Dener, para citar os casos bem sucedidos, ficaram aqui por um tempo curto. Na pior das hipóteses, ele entraria para a turma de Amoroso ou Luizão.

Fala-se muito que o grande erro do Grêmio foi trazer um jogador "bichado". Mas Cebolla estava bichado? Claro que não. Tanto que chegou numa terça-feira e no sábado, quatro dias depois, estava em campo, em plenas condições físicas. As lesões que vieram em sequência talvez tenham como motivo a pressa por fazer o jogador retornar rápido, já que o contrato era curto, mas isso é um chute, e de longe, provavelmente sem direção. Não sou da área da Medicina, e por isso devo confiar que os médicos gremistas trataram o jogador da maneira mais adequada e correta possível, até que algum outro profissional da área venha dizer o contrário.

O que aconteceu nisso tudo é um fator muito usado como desculpa no futebol, mas que, desta vez, parece se encaixar perfeitamente na situação: azar. O Grêmio deu azar de ver o jogador ser expulso em seu último jogo pelo Parma e julgado à revelia na Itália, o que o tiraria de quatro jogos nacionais. Deu azar também com as lesões seguidas, pois é impossível supor que uma contratação desse porte seria feita sem que se tivesse plena certeza de que o atleta estaria em condições. E Cebolla também deu azar: no Grêmio, tinha tudo para adquirir um ritmo competitivo forte para estar a plenos pulmões na Copa América. Não conseguiu nada disso.

A única sorte que o Grêmio deu nessa história toda foi ter em Cristian Rodríguez um jogador extremamente profissional, que preferiu procurar o clube para acertar uma rescisão amigável em vez de receber sem sequer ter condições de jogar com regularidade. A diferença entre um jogador que alivia a folha do clube R$ 1 milhão e outro que pede R$ 30 milhões de forma descabida precisa ser destacada.

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