O maior crime da América
Foi o jogo mais desparelho dos que vi nesta Libertadores. O River Plate criou 17 chances, contra 4 do Juan Aurich. Ao longo do jogo, construiu 67 ataques perigosos, e sofreu apenas 28. Concluiu 26 vezes a gol, contra 5 dos peruanos. Teve 60% de posse de bola. Três chutes na trave. Tudo isso para apenas marcar apenas um gol. Mesmo número do adversário, e aí está a grande crueldade da noite em Núñez.
O jogo de ontem à noite escancarou vários máximas no futebol: imprevisibilidade do jogo, punição a quem perde gols demais, esporte propenso a zebras, números devem ser sua importância relativizada... Sim, eles devem ser relativizados, mas explicam o jogo. E ajudam a torná-lo mágico, pois colocam no papel o quanto tudo foi absolutamente desparelho.
Não havia desculpas desta vez. Contra o San José, o River levou 2 a 0 por conta da altitude. Jogou bem, mas perdeu o fôlego nos minutos finais. Contra o Tigres, um bom adversário, nova boa atuação, mas um empate em casa que já não estava na conta. Diante do Juan Aurich, em Chiclayo, saiu na frente, mas o gramado sintético atrapalhou. Ontem, não havia nada disso: o adversário era fraco, o jogo era em Núñez, o Monumental estava lotado e o time certinho, disposto, raçudo. Nada poderia dar errado.
Foi um verdadeiro massacre, como os números evidenciam. Postado num medroso 5-4-1, o Juan Aurich não se deu bem por conta do esquema. A formação medrosa chamou o River para a pressão sempre, e, embora os muitos defensores peruanos, os argentinos sempre encontraram espaços com facilidade. Mora, como Neymar diante do Manchester City, perdeu quatro ou cinco chances cara a cara com o goleiro Gallese. Téo Gutiérrez o venceu em todas, mas acertou sempre a trave, por mais que caprichasse. Quando não caprichou, furou, mas Mercado aproveitou e fez 1 a 0. Só no primeiro tempo, o River teve nove chances claras, 15 conclusões e 9 escanteios. Os peruanos, zero em todos esses quesitos.
Roberto Mosquera colocou Valoyes e Ubierna no intervalo, dando ao Juan Aurich um pouco mais de ofensividade. Houve algumas boas chegadas, mas ainda assim raras. Logo o River passou a dominar de jogo. A entrada do habilidoso Martínez deu ainda mais criatividade à equipe de Marcelo Gallardo, que perdeu um caminhão de gols na etapa final. O 1 a 0 não refletiu nunca a superioridade. Mesmo magro, porém, fazia a festa da torcida. Até que numa desatenção na bola aérea, aos 44, veio o duríssimo castigo do empate. Quem não faz leva, futebol é detalhe, é injusto, é bola na rede, e todos os clichês sonolentos que ouvimos desde a infância foram ditos à exaustão.
O Juan Aurich visita o San José, ainda vivo, em Oruro, e depois recebe o Tigres, em Chiclayo. Depende só de si, embora não sejam jogos fáceis. A situação do River, por outro lado, é dramática. Com 3 pontos, vai ao México enfrentar o classificado Tigres, e precisa vencer. Ainda assim, não depende mais só de si - se não consegue cumprir nunca sua parte, imagine tendo de cumpri-la obrigatoriamente, e ainda torcer por tropeços dos rivais. É o favorito mais a perigo de toda a Libertadores.
Copa Libertadores da América 2015 - Grupo 6 - 4ª rodada
19/março/2015
RIVER PLATE 1 x JUAN AURICH 1
Local: Monumental de Núñez, Buenos Aires (ARG)
Árbitro: Jorge Luis Osorio (CHI)
Público: não divulgado
Gols: Mercado 25 do 1º; Delgado 44 do 2º
Cartão amarelo: Sánchez, Gutiérrez, Funes Mori, Gambetta, Tejada, Ubierna e Valoyes
RIVER PLATE: Charini (5,5), Mercado (6,5), Maidana (4,5), Balanta (5,5) (Mayada, 18 do 2º - 5,5) e Vangioni (sem nota) (Funes Mori, 10 do 1º - 5); Kranevitter (6), Sánchez (7), Rojas (6) e Pisculichi (6) (Martínez, 9 do 2º - 6); Mora (4,5) e Gutiérrez (6). Técnico: Marcelo Gallardo
JUAN AURICH: Gallese (8), Delgado (6,5), Ramos (6), Balbuena (6), Gambetta (5) (Valoyes, intervalo - 6) e Céspedes (5); Vilchez (5), Rojas (4,5) (Ubierna, intervalo - 5,5), Rengifo (5) (Ross, 36 do 2º - sem nota) e Pacheco (5); Tejada (5,5). Técnico: Roberto Mosquera
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