A paciência acabou

Em semana de Gre-Nal, os nervos afloram. No caso do Grêmio, há motivos de sobra para isso. Luiz Felipe já vinha dando sinais de impaciência quanto à falta de contratações do clube há alguns jogos, especialmente após a derrota para o Veranópolis. Ontem, após o terceiro jogo seguido sem marcar gols em casa, um recorde negativo da história gremista no Gauchão, a paciência foi de vez por água abaixo. A pressão é forte, é pública. O técnico chegou a mencionar valores, algo raríssimo num mundo como o do futebol, onde isso é guardado a sete chaves.

Felipão foi incumbido de chefiar um projeto de reconstrução do time a partir da base, e sabia dos riscos a que estava se submetendo. O que nem ele talvez esperasse eram tão poucas contratações. Dos 31 jogadores do elenco profissional do Grêmio, 21 foram formados em casa. Dos 14 que entraram ontem diante do Juventude, 8 são prata-da-casa. É muito, é um tremendo e irresponsável exagero. Em uma palestra a que assisti em 2012 aqui em Porto Alegre, Rodrigo Caetano, então diretor executivo do Fluminense, que viria a ser campeão brasileiro daquele ano, disse que o ideal é que 50% do elenco completo de um clube grande brasileiro seja formado por jogadores das categorias de base. No Grêmio, o índice é de quase 70%.

O problema é queimar a gurizada, o que seria uma dupla injustiça: colocar nos ombros deles a responsabilidade por fazer o time vencer e avaliá-los mal e precipitadamente. Até porque a maioria vem dando boa resposta. Ontem, vimos uma boa atuação conjunta de Júnior e Marcelo Hermes no primeiro tempo e outra bela partida do volante Araújo, que inclusive merece a titularidade. Pedro Rocha já deu boa resposta também, embora ontem tenha sido só regular, bem como Everton. Todos são boas peças para compor o grupo, brigar por titularidade, e não serem a solução. Precisam ganhar confiança com gente mais experiente ao lado. São estes os que fazem falta.

Uma luz que acende, ao menos neste momento de pouca gente chegando, é Giuliano. Ontem, retornou muito bem. Deu vida à criação, fez Douglas lembrar o grande meia que era poucos anos atrás antes de cansar, colocou os laterais para funcionarem. Foi a referência técnica que tem faltado a este time tão inexperiente. Ainda há Ramiro e Geromel para melhorarem o conjunto, mas nem com eles seria possível derrotar o Juventude. Faltou o toque final: Everaldo teve uma atuação interessada, mas parou no jovem e milagroso goleiro Aírton. Com Barcos ou Marcelo Moreno a vitória provavelmente teria vindo. O Grêmio precisa contratar um artilheiro, o mais depressa que puder.

Ao menos a postura apática foi deixada de lado. Ontem, tivesse um definidor mais qualificado (embora a culpa pelo empate não tenha sido de Everaldo), o Grêmio teria derrotado o Juventude. Diante do ferrolho de Picoli, conseguiu criar jogadas pelos lados, exibiu certa mecânica de jogo, mas faltou qualidade na hora de decidir. Sobrou competência ao time da serra também. Aliás, por pouco a equipe de Caxias do Sul não fez o crime: teve três oportunidades no começo, quando o Grêmio ainda se acertava em campo, e duas no final, uma embaixo da trave, de Wallacer. Seria mais uma derrota em casa, clima insuportável para um Gre-Nal já tão pouco promissor.

Confiança
Na série de vídeos da Grêmio TV com bastidores dos jogos do Tricolor, no último clássico, uma frase de Felipão antes de o time entrar em campo chamou a atenção: "confiança, gente!", bradou o treinador antes daquele duelo, vencido por seu time por 4 a 1. A questão que fica é: com que confiança o Grêmio entrará no domingo, se o próprio técnico repete a cada entrevista (e com razão) que seu time precisa de mais qualidade? O esforço de mobilização de Luiz Felipe para o jogo terá de lembrar os velhos anos 90 para que seu time arranque uma vitória no Beira-Rio.

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