A novela que retrata o nosso atraso

A maior novela da janela de começo de ano do futebol brasileiro, sem dúvida, é a indefinição a respeito do futuro de Dudu. De bom desempenho no Campeonato Brasileiro pelo Grêmio, o atacante é disputado a tapa por Corinthians e São Paulo. Para piorar, seu vínculo é com o Dínamo de Kiev, clube da Ucrânia, país cujos times são famosos por serem duros de negociar. Nada indica que esta disputa terminará cedo - e olha que ela se alonga desde o final do ano passado.

A disputa é um exemplo claro de como o nosso futebol é dirigido de um modo amador e atrasado. Dudu fez um bom Brasileirão, mas nada de outro mundo. Jogou 36 partidas, o que mostra ser um jogador com quem se pode contar, extremamente regular, mas fez apenas três gols, número ínfimo por um atacante, mesmo que ele não tenha por característica ser um definidor. Ainda assim, a disputa entre os dois rivais paulistas inflaciona seu preço, que já era bem além do justo. Quem comemora são os ucranianos.

Está claro que os valores pedidos pelo Dínamo são incompatíveis com o nível técnico de Dudu. Um dos motivos para o Grêmio não ter permanecido com ele foi justamente esse. O mérito do Tricolor Gaúcho foi tê-lo descoberto em um período de baixa, o que facilitou a contratação por empréstimo. Agora, supervalorizado por conta da boa temporada, ele é disputado por clubes que precisam desembolsar grana muito maior. Que pagarão, em suma, por não terem tido poder de observação tão grande.

O principal erro é o modo como Corinthians e São Paulo lidam com a questão. Já não se trata mais do plano de contar com um jogador do nível e das características de Dudu, mas de mostrar para o rival que seu poder de fogo para buscar peças é maior. Virou clássico. A disputa é irracional, recheada de provocações. Uma aberração do ponto de vista de gestão esportiva. Mais uma do nosso Brasil varonil.

Dirigentes pensam mais em superar o adversário do que na montagem do próprio elenco. A briga já tomou proporções tão grandes que ambos não se dão mais conta de que o mercado oferece outras opções, afinal, Dudu é apenas um bom jogador, longe de ser o melhor ou o mais em conta, que são critérios que deveriam ser levados em conta por quem comanda um departamento de futebol de forma minimamente profissional. Para atiçar ainda mais todo esse clima, Dudu cometeu o erro de dizer que prefere um dos dois (no caso, o Corinthians). Se for para o São Paulo, precisará dar mil explicações sobre essa declaração mal pensada.

Tudo isso é só mais um exemplo de como é mal gerido o nosso futebol. Clubes que, em vez de dialogarem para buscar um bem comum e deixarem a disputa para dentro de campo, brigam que nem gato e rato por um jogador que está longe de ser um craque. Que preferem gastar rios de dinheiro para mostrar ao rival que podem superá-lo a usar a criatividade, vasculhar o mercado para buscar nomes mais baratos e, assim, administrar o clube de forma responsável. E não estamos falando de agremiações pequenas, mas de duas das três maiores torcidas do país.

E tome gol da Alemanha.

Em tempo:
- No clássico da Ilha da Madeira, o Nacional levou a melhor e eliminou o Marítimo nos pênaltis após um empate em 1 a 1 no tempo normal. Decidirá a Taça de Portugal com Rio Ave, Braga e Sporting, principal favorito ao título.

- É fácil acertar na confecção de um uniforme para o Grêmio: basta não inventar, e apostar na simplicidade. A Umbro começa com o pé direito.

- A lei da mordaça no Campeonato Carioca é um golaço. Mais um da Alemanha. Quanto é que tá mesmo esse jogo?

Comentários

Anônimo disse…
Da última vez que acessei, estaria 22185 x 2958, mas a distância entre nós e a Alemanha está bem maior que isso.
Diogo Terra disse…
Pior é que se a seleção ganhar a Copa América os matérias-pagas de sempre vão dizer que "o gigante acordou"...
Vine disse…
Essa atitude da federação carioca (e a representação de toda a administração do futebol) é o último resquício escancarado da ditadura e um belo exemplo do coronelismo que ainda existe nas instituições públicas brasileiras.