O costumeiro susto

Se europeu ganhar fácil de mexicano já faz do roteiro dos Mundiais, o sul-americano passar trabalho na semifinal também já é de praxe. O inédito no caso do jogo de hoje é que nunca houve tanta diferença técnica entre o campeão da Libertadores e seu adversário. Ou, ao menos, deveria haver: o semi-profissional Auckland City não só criou problemas para o San Lorenzo como teve chances claras de (sim!) vencer a partida. Ela esteve nos pés, curiosamente, de um argentino: Emiliano Tade, que entrou cara a cara com Torrico após erro de Más, mas bateu torto, para fora, aos já aflitivos 31 minutos do segundo tempo.

O nervosismo da estreia e o peso do favoritismo, claro, influenciaram a má atuação do San Lorenzo. Ainda assim, há que se reconhecer os méritos do Auckland, que eliminou dois representantes da África não por acaso. Extremamente disciplinado taticamente, o time do espanhol Ramón Tribulietx se fechou em duas linhas de quatro, bloqueando os avanços argentinos tanto pelos lados como pelo meio. A forte marcação sobre os laterais e meias isolava Cauteruccio, facilitando o trabalho dos zagueiros. O primeiro tempo foi quase que inteiramente controlado desta forma. Só não 100% porque Barrientos fez 1 a 0 no apagar das luzes, quando tudo indicava um empate parcial.

Talvez já querendo trabalhar a ideia do jogo contra o Real Madrid, Edgardo Bauza recuou seu time no segundo tempo e passou a ter os contragolpes. Postura pequena para uma equipe tão superior à adversária. Sem conseguir encaixar o contra-ataque, o San Lorenzo se via dominado por um time quase amador, mesmo tendo absoluta maioria de torcida em Marrakech. A equipe tanto pediu que tomou o gol, em ótima jogada de Tade completada pelo lateral espanhol Berlanga.

Só então o San Lorenzo acordou. Com Romagnoli e Matos, voltou a ser um time agressivo. Foi para cima, atacou o adversário, mas também ficou mais exposto. O lance descrito no início do texto, que Tade desperdiçou, veio um minuto após um lindo sem-pulo de Cauteruccio na trave. O jogo, morno no primeiro tempo, ficou aberto no segundo. E o gol cedo de Matos na prorrogação praticamente definia a parada: com três jogos acumulados neste Mundial, sendo dois deles com prorrogações, era natural que os neo-zelandeses cansassem. Tendo de reverter desvantagem, ficava ainda mais difícil. Mas a equipe oceânica criou oportunidades no tempo extra, e quase levou a decisão para os pênaltis.

O mau desempenho do San Lorenzo comparado ao passeio do Real Madrid, já vimos outras vezes, não quer dizer nada a respeito do que pode ocorrer sábado. Porém, uma desvantagem existe, e é bastante clara: além de ter um dia a menos de descanso para a final, a equipe de Buenos Aires chegará com um cansaço não apenas físico, mas mental bem maior, pois teve um jogo mais desgastante, e com prorrogação. Isso sem falar na diferença técnica, lógico. Esta, porém, nem sempre entra em campo quando o assunto é Europa x América do Sul.

Mundial Interclubes 2014 - Semifinal
17/dezembro/2014
SAN LORENZO 2 x AUCKLAND CITY 1
Local: Stade de Marrakech, Marrakech (MAR)
Árbitro: Benjamin Williams (AUS)
Público: 18.458
Gols: Barrientos 46 do 1º; Berlanga 21 do 2º; Matos 2 do 1º da prorrogação
Cartão amarelo: Kannemann, Barrientos, Ortigoza, Mercier, Buffarini, Dordevic, Berlanga e Bilen
SAN LORENZO: Torrico (6), Buffarini (5,5), Kannemann (5,5), Yepes (6) e Más (4,5); Mercier (6), Ortigoza (5,5) (Quignón, 3 do 2º da prorrogação - sem nota), Barrientos (6,5), Kalinski (5,5) (Matos, 31 do 2º - 7) e Verón (5,5) (Romagnoli, 22 do 2º - 6); Cauteruccio (6,5). Técnico: Edgardo Bauza
AUCKLAND CITY: Williams (5,5), Berlanga (6,5), Irving (6), Dordevic (5,5) (Issa, 5 do 1º da prorrogação - 5,5) e Iwata (5); De Vries (5,5), Payne (6), Vicelich (5) e Bilen (5,5); Tade (6,5) (Browne, 47 do 2º - 5,5) e Tavano (4,5) (Burfoot, 9 do 1º da prorrogação - 5). Técnico: Ramón Tribulietx

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