O cinto apertou

2015 já começou para o Grêmio, e começou do modo que se esperava: contenção de despesas. Enquanto a compra da gestão da Arena não é finalizada, a saída é dar o passo atrás para dar dois à frente depois. Uma política salutar, mas que vai na contramão da irresponsabilidade com que a imensa maioria dos grandes clubes brasileiros é dirigida. E que, portanto, precisa contar com a criatividade de quem comanda o futebol para manter o time competitivo mesmo sem custos tão altos.

No caso gremista, a história mostra que quase nunca gastar muito dinheiro trouxe resultados no futebol. O sucesso mais duradouro veio sempre após reestruturações. Foi assim em 1977, fazendo a cama para o período de 1981 a 1983; e foi assim em 1994, quando o Grêmio barateou sua folha do ano anterior, apostou em jovens de sua categoria de base, ganhou uma Copa do Brasil com um time muito jovem e iniciou a montagem da equipe que conquistou quase tudo nos anos seguintes.

Tudo isso serve de alento. Na prática, porém, a realidade é sempre dura nestes casos. A criatividade precisa estar acima do pensamento mágico de que o passado se repetirá. É preciso antever quem pode trazer resultados no futuro em vez de olhar para o passado.

Na verdade, o processo de barateamento do grupo o Grêmio já faz desde o início do ano. Nomes caros, como Vargas, Elano, Kleber e Marcelo Moreno deixaram o clube (mesmo que alguns ainda sejam parcialmente bancados pelo Tricolor, já é uma economia). Subiram nomes como Luan e Walace, outros foram trazidos de forma criativa. Dudu, que veio quase sem custos, por empréstimo, hoje está no mercado valendo 6 milhões de euros. Para ter seu futebol, outros clubes terão que gastar o que o Grêmio não gastou. Isso é criatividade na hora de contratar. A mesma que trouxe Fellipe Bastos, Alán Ruiz. Será preciso insistir em uma política assim, mas com a obrigação de que os resultados sejam superiores aos insuficientes que o Grêmio teve neste ano. Reestruturações são assim mesmo. Em 2013, a base campeã brasileira do Cruzeiro, por exemplo, foi montada sem que o clube gastasse o que não tinha. Só depois vieram Dedé, Júlio Baptista e outros de maior renome.

Os primeiros a deixar o Grêmio são os laterais titulares. A saída de Pará é um ótimo negócio: jogador apenas mediano, que teve 169 jogos para mostrar um futebol que já se sabia ser no máximo esforçado, faz as malas para atuar no Flamengo e ainda salda uma dívida antiga do Grêmio com o clube carioca. Lateral se faz em casa, e é possível fazer alas melhores que Pará. Talvez seja a chance de o irregular Matías Rodríguez crescer após uma pré-temporada. Ou de Tinga, tão bem falado na base, receber sua oportunidade, começando aos poucos, com a exigência menor do Gauchão.

Zé Roberto é outro caso, bem mais dolorido. Ídolo da torcida, melhor lateral esquerdo do campeonato, deixará saudades. O Grêmio não tem opção no momento para a sua posição, e precisará buscar. Uma solução boa e barata, daquelas difíceis de encontrar. Ainda assim, a prioridade para 2015 é aumentar a criatividade de um time que não a tem há dois anos. Douglas é altamente questionável porque não se sabe o quanto pode render: tem qualidade técnica, conhece o clube, mas terá 33 anos e é irregular. Como opção a Giuliano e ao reaproveitado Maxi Rodríguez, até pode servir. Virando referência técnica, é um erro.

E o mesmo vale para o ataque. Barcos ganhou a Chuteira de Ouro da Placar como artilheiro do ano, 29 gols, uma ótima marca. Porém, no ano passado fez menos da metade, apenas 14 tentos. Sua média é de 21 gols por ano, o mesmo que Marcelo Moreno fez em 2012. Tecnicamente, são mesmo jogadores que se equivalem. Talvez, vender o argentino para o futebol mexicano, ficar com dinheiro em caixa para contratar e apostar no boliviano, que tem salário mais baixo, seja um negócio mais inteligente. Barcos, claro, é o capitão, é bom de grupo, e Moreno trouxe problemas dois anos atrás. Mas tudo isso é administrável. Ou terá de ser, já que a hora é de conter gastos. Uma hora difícil, mas que chega para todo mundo que, logo ali adiante, comemora títulos de maneira mais consolidada. Gastar o que não se tem nunca deu certo.

Gran finale
O futebol sul-americano encerra sua temporada com um jogo de luxo: River Plate x Atlético Nacional, a sensacional final da Copa Sul-Americana. Um encerramento especial para uma edição fantástica deste torneio. Não deixa de ser curioso que a segunda competição do continente tenha levado às semifinais River, Nacional, Boca e São Paulo, enquanto a principal, a Libertadores, tenha tido San Lorenzo, Nacional-PAR, Bolívar e Defensor. Incrivelmente, a Sul-Americana deste ano teve maior visibilidade e atraiu maior interesse de quem está neutro do que sua prima rica. As camisas pesam muito.

Plano A
Abel Braga deverá mesmo ser o técnico do Internacional em 2015. Se com Marcelo Medeiros a permanência era praticamente certa, com Vitório Piffero ganhou total força. Abelão só não fica se não quiser. Por sua trajetória e identificação com o clube, deve querer.

Comentários

Lique disse…
acho que se o barcos tivesse no cruzeiros, teria feito 35 gols no campeonato.
Vicente Fonseca disse…
Hahah, possivelmente. Na verdade, os últimos anos dele foram sempre um pouco melhores do que o do Moreno. Mesmo assim, não vejo uma diferença técnica tão grande de um para outro.